domingo, 31 de janeiro de 2021

"JOACINE"

 

O diabo pode citar as Escrituras

quando isso lhe convém.

(William Shakespear)

 

“JOACINE”

(Eu tive um sonho. Qualquer semelhança com figuras da vida real é pura coincidência. Entendido?!)

 

    É natural que a sua fragmentada coerência – assim penso – lhe obstrua a aceitação deste perecer, que me borbulhou à tola numa noite de inverno, após algum tempo (não tão escasso como possa pensar), de onírica reflexão e pesquisa fantasiosa sobre o assunto, que afinal ainda continua a aterrar inocentes, para mitigar a mórbida satisfação de genocidas sem escrúpulos e exploradores do trabalho humano compulsivo em que está incluído o labor infantil. A ESCAVATURA E CONSEQUENTE MORTANDADE que tem agoniado com violenta pluviosidade as gentes dos países africanos e não só; como nos é dado observar. A interacção comunicativa, isso nos tem permitido.

“Joacine”.

Alguma vez pensou em meter o dedo indicador no nariz, mudar de ideias manualmente e empregar a sua bravura, a sua tenacidade, o seu “invejado poder de fluente e de invejável(?) oratória”, na defesa desses inocentes de palmo e meio (mas, há mais!?), que desconhecem o que é ser criança e são coagidos a trabalhar no duro, muitas vezes sob a inclemência canicular de um sol impiedoso que lhes sidera o corpo e dilacera a alma, já de si fragilizados pela míngua de tudo o que de mais fútil se possa imaginar?

Se calhar nunca raciocinou sobre isso!? Olhe o que eu havia de ter sonhado! Até penso que não estou a bater bem da bola, visto que ela já tem setenta e seis anos de xutos e pontapés.

Mas, continuado:

“Joacine”.

Pense nisto. Quando realmente somos aguerridos e nos propomos defender uma causa na qual entendemos que a injustiça acalenta, não devemos olhar a meios para atingir os fins - mesmo correndo o risco de embarque, desta para melhor. Quem luta por causas, em que piamente acredita serem justas, como aparenta ser o teu caso, deve empregar melhor as suas valências, se estas não forem mais do que um fogo de artifício – que me parece ser o mais provável.

Existem tantos seres económica, social e moralmente instáveis, a carecer da sua ajuda noutros lugares mais recônditos do planeta, quem ainda não compreendi porque tem andado a diluir o seu “precioso” tempo e suco salivar, a acicatar os miolos a esta “cambada de patêgos”. Tão patêgos, que ainda caiem na patetice de a remuneram para que isso aconteça.

“Joacine”.

Deslembre esta terra, que é extremamente árida. A única “planta” que por aqui medra com diabólico desenvolvimento, é a árvore da tolerância. A medrança desenfreada deste arbusto e a sua proliferação têm sido s responsáveis pelo desrespeito às regras criadas nesta sociedade de palonços.

Se se esquecer dela por algum tempo – ou mesmo indefinido - penso que ficará tudo mais imperturbável - dentro dos possíveis, como é óbvio. Existe quem esteja muito pior. Deixe os palonços e “acuda a outros lados. Cá, eles que se entendam. A sua “intrépida” figura é mais necessária para fazer reboliço, onde, na verdade, a desigualdade de valores é profundamente acentuada, e “quase” selvagem (estou a ser benevolente). É uma realidade nos nossos dias. Porque ela, existe mesmo, e é impossível esconder. Não tenha a menor incerteza.

Eu sei que não desconhece isso, mas noto que a sua força de guerreira, fica impotente perante a covardia natural que a persegue, impulsionada pelo temor, e cerceia a sua coragem para vencer. Interiorize que, “dos fracos, não reza a história”, e… siga. Siga em frente.

É em outros lados que tem possibilidade fazer o que tanto almeja; endireitar o “mundo sozinha” e exibir os seus “nobres” argumentos em nome de duas causas: da “verdade” e da sua ambição - isto é, se não lhe arrefecerem o palato, antes de abrir a boca para fazer vingar as suas razões “altruístas” em proveito dos mais desfavorecidos.

Penso que, lutar por uma causa na qual acreditamos, vale sempre o risco, não é verdade?

Deixe estes “marrêtas” entregues a si próprios. Que se amanhem. Vai ver que ainda vão sentir “saudades dos seus iluminados” e supostamente coerentes, balbucios.

Encete o seu carreiro por outras bandas e acabe de vez com os sistemas esclavagistas, fundamentalistas, racistas e de exploração infantil indevida, que cruelmente serpenteiam como perigosas mambas negras, nas florestas da fragilidade humana, à margem do direito individual e colectivo, tido como regra de ouro nas pessoas de salutar entendimento. É naquele pantanal, onde a miséria abunda e a crueldade não tem punição, que deve exercer a fúria incontida da sua razão plena.

Siga a minha sugestão. Desande, e…

 

Acordei em sobressalto com o som indispensável, porém estridente e irritante, de uma ambulância que passava “impaciente” pela minha rua, certamente a caminho das Urgências dos CHC (Centro Hospitalar de Coimbra).

Bolas! Acordei tão irritado com a fantasia e com o barulho, que não mais consegui dormir.

 

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 29/01/2021

http://antoniofsilva.blogspot.com/

Nota:

Faço por não usar o AO90.