terça-feira, 12 de janeiro de 2021

CARTA ABERTA “Ó” ANDRÉ


 

O pior governo é o mais moral.

Um governo composto de cínicos

é frequentemente mais tolerante e humano.

 Mas, quando os fanáticos tomam o poder,

não há limite para a opressão.

 (Henry Louis Mencken)

 

CARTA ABERTA “Ó” ANDRÉ

 

Caro André

 

Com todo o respeito que me merece, permita-me que o trate com esta parcimónia, que bem pode entender mais como um “afago paternal”, do que um abuso inclemente de simples parvoíce minha.

Porque a vontade assim ordena, vou consagrar uns minutos para desarriscar alguns pensamentos que pululam na minha já atulhada e desgastada massa cinzenta, o miolo da minha caixa craniana e residência do meu critério. Para que tal aconteça, é indispensável a divulgação dos mesmos.

Sinto necessidade extrema de aliviar a minha flatulência psicológica que me está a causar endiabrado frenesim.

Não é propósito meu; contudo, se algum incontido desvio menos próprio houver da minha parte, conto que a minha contrição seja acolhida pela sua (do André) indulgência, que creio existir, apesar da manifesta austeridade que faz questão de exibir – ou tal aparenta.

Ora bem. 

Tenho vindo a observar, no decorrer de todos os momentos em que as suas peculiares garras cortantes da persistência, tem investido na quase inesgotável producção salivar que as suas glândulas segregam, em dissertações, conferências e debates, defendendo, é certo que, com uma conspecção idealista, um novo rumo no norteamento da política portuguesa. Na verdade, ela disso está carenciada. O que duvido é da aferição da bússola que irá usar, porque, como escreveu Luís de Camões, “outros valores mais altos se alevantam” – neste caso, não sei quais, mas o seu oráculo tanto pode conter algo de verdade como de convicta demagogia, amparada por interesses paralelos.

As razões que o André apresenta, suportadas por fundamentos lógicos e quiçá, alguns deles constatáveis, – ainda que um pouco empolados com algum pretensiosismo – eu não desejo usurpar de maneira alguma. Tão só e apenas dizer-lhe, que, (já sei que não lhe ensino nada de novo), a função de Presidente da República, pelo menos em Portugal, não é, GOVERNAR. É sim, em representação do povo português, cumprir e empenhar-se na observância e obediência das normas registadas na Constituição Portuguesa e promulgar ou vetar, tomadas de posição em forma de leis, provindas do Governo, e dissolvê-lo, caso existam razões para tal.

Eu sei que o André percebe isso de cor e salteado, mas às vezes a conveniência que nos fustiga a mente, entorta os conceitos à nossa feição.

O que tenho reparado, não só nas suas dissertações, mas nas de todos os seus antagonistas, adversários, concorrentes ou que queira chamar-lhes, (menos um, que já tem o triunfo assegurado à partida), é que têm feito elocuções mais direccionadas à governação do que à presidência.

Visto que o André, sem dúvida alguma, é o mais aguerrido batalhador nesta “guerrilha” de poleiro, e aquele que mais se afirma como um salvador do povo português, através das suas intervenções de cariz “messiânico” (não quero dizer que os outros não o saibam fazer!? Mas não possuem a sua garra nem fluidez nas palavras que botam cá p’ra fora), é ao André, como “principal” elemento da contenda, que faço questão em endereçar esta carta aberta que, por osmose, é também dirigida aos restantes interessados no “tacho”, manjedoura ou gamela, consoante a “canhola” de cada um alcançar.

Eu compreendo que para se administrar, há situações em que é necessária, senão imperativa, uma oposição a determinados interesses, em nome do bem dos governados. Mas isso só acontece quando há milagres!!! – Ainda há quem acredite nisso!?

Mas… Ui! Há mais de 40 anos qu’isso não acontece!!!

Sabe porquê, André?

Porque…

O PRESIDENTE DA RÉPUBLICA NÃO GOVERNA.

ESSA É FUNÇÃO DO GOVERNO.

Como tal, em meu entender, o miolo do seu paleio discursivo está a carecer de uma transformação no recheio contido entre a primeira maiúscula e o último ponto final da retórica.

Creio ter-me feito entender!?

Não me despeço de si com um Abraço Grande, para esquivar-se errados julgamentos de valor, de quem quer que seja.

Então, “ciao”.

 

António Figueiredo e Silva

 Coimbra, 11/01/2021

 

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Obs:

Sou contra a usança do AO90.

 

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