terça-feira, 29 de junho de 2021

HOMENAGEM A UM AMIGO

 

A verdadeira amizade nunca morre; ela apenas adormece,

para acordar um dia na eternidade.

(Rafael dos Anjos)

 

HOMENAGEM A UM AMIGO

(A título póstumo)

 

É com profunda emoção que dedilho estes baraços de mágoa, como um derradeiro despedir de um grande e verdadeiro amigo que na vida tive a sorte e a satisfação de ter encontrado.

Um ser sustentado por um carácter forte, com discretas nuances de austeridade na educação e no respeito - por si e por aqueles com quem confraternizava. Era bastante tolerante e compreensivo para com os “fracos”, a quem nunca se coibiu de ajudar, quando a carência surgisse e a inteligência, dessa ajuda fosse meritória.

Convivemos o suficiente para que eu lhe dedique estas palavras a título póstumo – agora não há outra forma – como se estivéssemos a dialogar em ritualizada, porém, sempre instructiva cavaqueira, durante algumas passeatas ou aconchegados pela companhia de sacratíssimas e infalíveis benzeduras salivares, ritualizadas com uns repastos, que, embora copiosos, nunca a voracidade do apetite pantagruélico conseguiu ultrapassar a determinação do modesto suficiente.

Entre nós, muitos desabafos se libertaram nesses momentos, que serviam de suavizante para docilizar a azia da existência, que é sempre feita de socalcos intercalados pela firmeza e pelo desalento, que temos de ter coragem para vencer! Desabafámos coisas que não lembram a o Diabo - apesar de ser tido como esperto. 

 Aprendi muito com esta figura, cuja reputação que merece bem o “H” Grande, pela sua conduta em sociedade; como Mestre e como Homem, a quem muitos ainda hoje “devem” as suas posições de proeminência na comunidade. A sensatez e a constância foram sempre as suas montadas para vencer na vida.

Proveniente de uma simpática terrinha transmontana “imigrou” para Coimbra, limar a sua já nata sede de erudição na Universidade aqui existente.

Quando ia de férias – contava-me - fazia-se deslocar de comboio até à localidade de Pinhão, onde um empregado de seu pai o esperava com um cavalo suplente que ele montava e seguia até à quinta onde foi nado e criado, situada na simpática aldeia denominada de Celeirós, pertencente ao conselho de Sabrosa.

Naquele tempo a vida era dura.

Por cá estudou, por aqui casou e construiu família – a vida assim o determinou; mas nunca se esqueceu da sua terra, pela qual nutria um profundo sentimento de orgulho, que sempre manteve até finar. Eu sei.

Sempre manifestou vontade de, “Figueiredo, eu gostava de chegar aos cem anos! – Dizia com um alento de esperança.

Praticamente o Divino fez-lhe a vontade. Só faltava um mês para isso, mas, como a vida não obedece à esperança, plenamente isso não sucedeu, mas… andou por perto.

No dia 26 de junho de 2021, à tarde, deixou de respirar o ar poluído deste mundo e subiu a outro limiar, cuja dimensão transcende o nosso conhecimento, mas que estamos cientes de ser o nosso último lugar, como “matéria” imaterial.

Foi um HOMEM íntegro - em todo o alcance que a palavra deontologia possa conter.

De seu nome:

José Fernando Alves Queirós (mais conhecido por, Dr. Queirós) 

 Se Deus existe, que conceda a paz angelical que ele merece, junto dos justos.

 

Coimbra, 29/06/2021

António Figueiredo e Silva

.http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

sexta-feira, 25 de junho de 2021

"COMENTÁRIOS"

 

A estupidez é infinitamente mais fascinante do que a inteligência.

A inteligência tem os seus limites, a estupidez não.

 (Claude Chabrol)

 

“COMENTÁRIOS”

(Concisa, curta e grossa)

 


Alguns, realmente merecem ser lidos, dissecados e até assimilados, como exemplos de mestria, pelos ensinamentos de civismo que deles fluem para a clivagem do nosso comportamento, enquanto membros de uma comunidade; outros, precisam de ser preteridos, pela sua rudeza e brejeirice ou pela puerilidade neles estampada; uns, configuram lições de aprendizagem, que devem ser aproveitadas; outros não passam de gemidos de infelicidade doentia, carentes de bajulação, que, mesmo que seja simulada, serve de “palha” para encher o ego vazio de alguns “comentadores”, que, por serem ridículos, não deixam nada a desejar. Aborrecem, entediam e irritam.

Sim, é isso mesmo. Estou a discorrer sobre alguns comentários, consequentes de respostas e observações postados no Facebook, por alguns garimpeiros de palavreado e apreciações “utilitárias”, por não auto-reconhecerem a sua patética falta de decoro na formação que os embala.

Muitas pessoas sentem-se confortáveis quando são lisonjeadas por uma plateia “amigos virtuais”, que, mesmo cheirando a sua debilidade, se aprontam a dizer, “tu és o maior! És o melhor! És um herói!” E elas ficam exultantes ao receberem tais elogios, e, com intensificada grandiosidade e crédito, contemplam esses enaltecimentos como um brilharete, uma dádiva dos deuses. Não são hábeis para enxergar que, aos seus galanteadores, que a dissimulação lidera, o que lhe apetecia dizer seria o discordante; “tu és um insignificante! És o pior! És um cagarola! Não passas de uma estrumeira”!

A carência de espírito, na realidade não tem fronteiras! É essa pobreza espiritual a nascente de onde jorram os mais caricatos, impróprios e infelizes comentários, em forma de lamentos ou picardias, que por maioria de razão é preferível deixá-los passar ao lado. Acredito que a intenção desses “comentaristas feirantes”, seja a de tentar a trasfega das suas perturbações maleitosas com o propósito de arrastarem os outros para seu decaído nível.

Diariamente observo bátegas deles e fico pasmado de, no século XXI, ainda proliferar tanta burrice, tanta falta de educação, tanta idiotice, tanta inveja, tanto descaramento e tanta debilidade espiritual. Lançam a público todos os sentimentos que em determinado momento lhes povoam a alma, sem olharem ao recheio que os caracteriza, revelando sem saberem, o cerne da sua intimidade própria. Isto é, da sua personalidade e do seu carácter; exibindo assim, as qualidades de um e a fraqueza ou robustez de outro.

Por isso digo: abençoados aqueles que têm coragem e franqueza para galardoar a insolência, a ironia, a ingratidão e a cobiça dos insatisfeitos; esta atitude é uma demonstração clara de que não são infelizes ou pobres de espírito como eles.

Esta é a minha apreciação; concisa, curta e grossa.

Deste cálice, só bebe quem quer.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 25/06/2021

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Nota:

Faço por não usar o AO90



 

 

 

domingo, 20 de junho de 2021

RECORDAÇÕES DA FORÇA AÉREA PORTUGUESA (IX)

 

A coragem é a primeira das qualidades humanas

porque garante todas as outras.

(Aristótoles)

 

RECORDAÇÕES DA FORÇA AÉREA PORTUGUESA (IX)

(Mueda-Moçambique)

 

Hoje é Domingo! Aliás, como “todos os dias o são”, porque a aposentação isso me consente. Mas é um dia distinto; hoje, o céu está embaciado; a rua, está deserta de transeuntes por causa da pandemia; o trânsito motorizado não se faz sentir; até nem ouço o latir do cão do vizinho, nem vejo pássaros a esvoejar pelos telhados. Então, para me distrair e sustentar o discernimento da actividade cerebral, à falta de melhor, vou percorrer um pouco do passado, numa viagem de mais de dez mil km no vazio do espaço através do tempo, que pouco a pouco, se me vai esvaziando.

  


Eram dois os pilotos que por lá andavam “àboar”, num dos períodos que eu me encontrava no Aeródromo de Manobra nº 51, em de MUEDA.

Os dois, baixitos, um deles de fraca estrutura, que não deixava de não representar um bom auxílio para a diminuição no consumo de combustível, uma vez que o peso específico tem uma grande importância na aeronáutica.

Um deles, ainda me recordo, era o Sacadura Bote (alferes); o outro, que não me relembro do nome, era mais para o cheiinho e entre o pessoal era conhecido (talvez ele nunca tivesse sabido), por “O Cowboy); porque trazia sempre do lado direito (sinal de que não era canhoto), um antigo coldre dependurado à cintura, com um pistolo obsoleto, de cano comprido, lá enfiado – desconheci se funcionava!? Se para atemorizar os “turras” ou amedrontar e escorraçar os grandes corvos negros que por lá cirandavam, também não sei.

De vez em quando lá se deslocava o duo, a pé, pela picada bem abonada de capim com mais de dois metros de altura, paralela à pista, que os levava até à “vila” de Mueda, “passarinhar ou passaretar” um pouco, certamente até ao bar da Cantina do “Bandido”, beber uma Leurentina para dar alguma de frescura ao corpo e alento à alma, ou lançar um olhar gaseado às duas filhas do “China”, dono da Cantina em frente, para alegrarem o espírito, aguçarem a cobiça e darem algum tempo de acalmia ao natural nervosismo da juventude.

Depois, lá regressam ao Aeródromo, provavelmente, não sem antes se terem desatravancado de algum ataque de luxúria, naquele tempo, o pior “inimigo” da nossa idade - fazia-nos a mioleira em frangalhos.

Em determinado dia, depois de terem aterrado, os dois no mesmo avião, como era hábito (que outros pilotos  não tinham), vindos de um voo não recordo de onde, a sua “geringonça aboadora” havia sido atingida por um balázio que entrou, ali… pelo bordo de ataque da asa direita, junto ao poço do trem de aterragem, e, pela trajectória que verificámos, que o projéctil passou mesmo uma rasante ao topo da carlinga que abrigava o “segundo piloto”, por acaso era um tal Sacadura Bote (Alferes) – o primeiro piloto era “O Pistoleiro”. No buraco deixado pela metralha, cabia um dedo indicador à vontade; porra!?

Quando saíram da “cabine” de pilotagem, puseram os pés em terra e averiguaram o acontecido, apossou-se deles um silêncio profundo e sua fisionomia ganhou uma côr ceriosa que combinava perfeitamente com os seus perfis apavorados - não era caso para menos, diga-se. Ainda bem, que o pior não aconteceu.

A partir daquele dia o pessoal começou a notar que eles tinham deixado de apreciar a paisagem daquele planalto (que era tão lindo!), porque começaram a voar menos; quando tinham de o fazer, a duração dos voos era por curtos espaços de tempo.

Possuíam, contudo, uma singularidade nata, que ressaltava da sua maneira de ser; a mania de que eram importantes – e eram. Eram uns importantes badamecos, a quem, por necessidade da guerra, lhes meteram um “manche” nas mãos.

Ainda hoje relembro que, durante a sua curta estadia, foi quando as colunas do exército mais sofreram por causa do apoio aéreo deficiente.

Depois de solicitada, havia sempre uma maneira de protelar um “bocadinho” a saída.

Até comentávamos entre nós: “eh, pá, os turras parece que adivinham quem cá está! Qualquer dia, fd….-nos”.

“Quem tem cu, tem medo” – é hábito povo dizer.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 20/06/2021

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            Nota:

Faço por não usar o AO90.

 

 

sexta-feira, 18 de junho de 2021

PAI NOSSO

 


Em certas circunstâncias, um palavrão

 provoca um alívio inatingível até pela oração.

(Mark Twain)

 

Pai Nosso

(Para os portugueses)


Pai Nosso, que estais no Céu, enquanto nós estamos no Inferno, santificado seja o Vosso Nome, que o nosso já veio amaldiçoado pelo Pecado Original, por o nosso primeiro progenitor ter sido guloso e desobediente – vício que ainda hoje o persegue - e ter comido uma maçã, porque ambicionava saber demais – maldita serpente; venha a nós o vosso Reino, que deve ser bem melhor do que este que nos deixou o Centeno (Campainhas), em conivência com o Costa, que não presta, e entregaram-nos aos “leões”; seja feita a vossa vontade aqui nesta terra de alienados dromedários, assim como no Céu onde estais, que não faço ideia onde fica, mas, embora assistido de algum cepticismo, alimento a esperança de ser o destino de todos eles - e o meu; se mais não puder ser, o pão nosso de cada dia nos dai hoje, não sêco ou com uma mísera febra de bacalhau salgado, como antigamente, mas com um sabichinho fiambre, queijo, chouriço, salpicão ou presunto a servir de recheio, e, se possível, uma pingolêtazinha de tinto, para animar a tristeza da maior parte da burricada que não se sente feliz neste Reino de loucos, ladrões, vigaristas e imbecis, destituídos de quaisquer resquícios carácter, onde a justiça e a lei se transfiguraram em objecto de promiscuidade; perdoai-nos as nossas “canonizadas” ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, não sem os deixarmos escapar incólumes às críticas, a uns murros na focinheira ou a umas pauladas, (ás vezes sem justeza), e não nos deixeis cair, em tentações fanáticas, como as corruptivas, libidinosas, cromáticas ou politiqueiras, apesar de serem dados estabelecidos, para se ser uma criatura vivente completa e “respeitada”; mas livrai-nos do Mal, (e desta cambada), mesmo que o façamos aos outros, por tolamente olvidarmos que esses outros podemos ser nós mesmos.

Ei! Man.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 10 de Junho de 2020

(Dia de Portugal)

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 Nota:

O escriba recusou-se a usar o AO90

 

RECORDAÇÕES V

 

RECORDAÇÕES V

(Força Aérea Portuguesa)

 


A viagem até Nampula, foi um algo acidentada, devido à turbulência gerada pelas diferentes temperaturas das camadas de ar em circulação naquela área geográfica. Apesar de tudo, foi suportável. Eu era novo e meio tresloucado, e no meu sistema hidráulico sanguíneo, a adrenalina gerada, manifestava-se em grandes “borbotões” que instigavam o meu à cérebro (não sou acéfalo), à descoberta e à aventura – pobre mioleira juvenil! É dessa pobreza de espírito (porque é), que os altos medalhados se aproveitam para fazerem guerra e ganharem comendas, sem dispararem um tiro – realidades da sociedade e da vida.

Retomando o fio à meada.

Havia também um certo ruído provocado pelos motores, - se fosse hoje, Ministério do Ambiente teria reprovado o avião - à mistura com o chocalhar de latas velhas, que fazia lembrar uma Steel-Band. Todavia isto era normal. Para um militar, qualquer rede pendurada no interior da fuselagem era um assento, qualquer superfície em forma de penico, também o era, e qualquer estrutura em “ferro velho” suportada por um par de asas, um estabilizador e uma deriva vertical era uma aeronave.

A brincar ou a sério aquelas geringonças aladas, (de vários modelos), lá levantavam vôo, e quando era indispensável “costuravam” com as metralhadoras, desembaraçando clareiras ocupadas, disparavam uns rockets, lançavam umas bombitas, e, em dias festivos, pacificamente, até faziam meia dúzia de piruetas para animar a malta e abrir a boca aos palermas dos machambeiros.

Apesar de tudo, nunca me constou que quando algum por não lhe “apetecer” voar, tivesse ficado lá em riba. Vinha logo parar cá a baixo; até porque o piloto já sabia que no ar, os hospitais eram inexistentes.

Aqueles “calhambeques” voadores comparados com os aviões de hoje, eram como uma bicicleta-motorizada, comparada com um BMW.

Enfim… era o que havia nessa altura, e lá nos íamos remediando; e à porra e à maça, safando o nosso pêlo, a honra da Pátria e da sua bandeira, que lá fora, imberbes sacanas e traidores, iam denegrindo e espezinhando.

...O avião começou a baixar e os efeitos da pressão atmosférica a fazerem-se sentir nos tímpanos, “abram a boca qu’isso passa, seus cavalos”, vociferou o calhau de um sargento. Realmente foi uma “bacorada” que até à data não me esqueci. O “sorja” era mesmo inteligente e dinâmico – pelo menos na linguagem!... Não sei bem como, porque no serviço militar, a inteligência diminui na razão directa do aumento do número de divisas – há ocasiões em que até com os galões isso acontece.

Bem, vou deixar-me de patacoadas, pois estou com temor de que algum “chico” saiba interpretar estas letras e vá logo chamar-me de “cavalo” e colocar-me na posição de sentido.

Vinte e seis de Junho de mil novecentos e sessenta e três.

O “Barriga-de-jimguba” lá foi baixando, e eu, com cara de palonço, a olhar a paisagem que para mim era nova, quase nem dei pela aterragem executada com proficiência, sobre uma larga “estrada” de terra batida, de côr avermelhada, que mais tarde viria a ser uma pista. O aeroporto de Nampula, andava em construção e o próprio Aeródromo ainda não estava provido de um hangar.

Os aviões ao aterrarem e ao descolarem, levantavam um pó ruborizado que aos poucos ia tingindo tudo à sua volta, desde arbustos às plantas rasteiras que ladeavam a “pista”, até às bananeiras mais distantes.

Chegados à gare, eu e os meus companheiros de viagem desembarcamos. Olhei em redor, vi quatro ou cinco DO-27 (Dornier), três ou quatro T-6G (Harvard´s) e de momento era esta a nossa frota bacalhoeira para o “ataque” ao terrorismo quando ele surgisse. Estamos armados até aos dentes - pensei eu – e interiorizei um sentimento de caçoada.

Nem um hangar havia para fazer as inspecções! Mas depressa fiquei a saber que aos “aparelhos de guerra”, eram feitas colocando um toldo de lona sobre os motores e as carlingas, quando rebentavam as celebres e repentinas tempestades tropicais, que eram copiosas na pluviosidade, mas parcas no tempo de duração.

O clima africano era assim.

 

António Figueiredo e Silva

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 Nota:

Faço por não usar o AO90

 


RECORDAÇÕES DA FORÇA AÉREA PORTUGUESA (VIII)

 

RECORDAÇÕES DA FORÇA AÉREA PORTUGUESA (VIII)

(AB5 – Nampula – Moçambique)

 


As recordações são idênticas a fios enleados, cuja desarrumação é uma constante que as persegue; quando, com beatificada paciência, eu enceto o seu destrinçar, é que deparo com a força quase infinita da dimensão que os liga. Então, aproveito para com eles, no hoje, pescar e reconstruir realidades do passado, numa tentativa vã de querer agarrar o impossível. Retornar ao período inicial - loucuras emocionais de velho doido varrido!  

Agora, que estou praticamente com setenta e sete anos, e a senilidade ou a Doença de “Alzheimer” se esqueceram de passar a ferro o meu poder de memoração (até ao momento!?), surgiu esta oportunidade de também me recordar desta “simpática” fisionomia; se por bem ou por mal, não cabe a mim julgar. Apenas posso afiançar que não era “dançarino”. Infelizmente teve o óbito num acidente com o avião que pilotava (Harvard T6 G), pelo que me chegou aos ouvidos, numa missão de bombardeamento no Planalto dos Macondes.

A vida é assim. Todos andamos a uma laminar distância do “Paraíso Celestial” e cada um embarca na vez que lhe cabe, sem apanhar secas em longas filas ou na torrefação fúlgida do sol, em formaturas que com alguma indulgência e compreensão, teriam sido desnecessárias.

Bem, mas da minha parte, apenas cabe dar rédeas soltas ao passado, pavimentando algumas emoções calosas que remanescem no presente, com umas pazadas de lembranças distintas que variam entre o bom, o mau, o feio, o irrisório e o escusado (não tem nada a ver com filmes de “cowboyada”).

Deploro que muitos já não se encontrem a inalar o oxigénio poluído desta atmosfera azulada que nós temos vindo a conspurcar, para poderem desfrutar de um pouco de prazer e certificar as “parvoíces” memorativas que pr’aqui disponho, num desabafo aberto e sem timões de qualquer ordem, onde a minha emancipação de “aboar” não é condicionada por nenhuma turbulência, a não ser pela veracidade dos factos. Esta deve obediência à verdade, e eu primo por isso.

Ao tempo, o “sorja” Goular ou Goulart (ao certo, não sei como escrever), era o encarregado da gestão da messe dos Especialistas no nosso “reles” aquartelamento, situado o edifício do Sporting Club de Nampula.

Alguém se lembra?

Durante o “REINADO GOULARDIANO”, devido a uma má gestão, mais propositada do que por força das circunstâncias, foi fornecido o pior serviço de nutrição jamais visto naquela messe; não pela confecção (o Ti Manel Cozinheiro lá ia fazendo o que podia, com pouca limpeza, é verdade), porém, pela qualidade dos produtos adquiridos - se bem que o Estado contribuísse com o suficiente para uma alimentação cuidada e com qualidade.

Saturados que estávamos de “comer” e calar, um dia alguém ventilou fazermos um levantamento de rancho. No dia aprazado, as ventosidades estavam a favor, a começar pelo carburante, que era um reles peixe frito com arroz de tomate, cujo “barbatanas” era pescado nas lagoas e os naturais de lá, usavam-no muito, para, depois de escalado, ser sêco ao sol com moscas à mistura e posteriormente ser consumido. O oficial de dia era um ranhoso, magrito, de voz com som anasalado, que transportava a inteligência nos galões, (já nem me lembro do nome), serandilhava pelo refeitório como uma vespa aflita, sem tomar uma posição para dar fim ao justo, contudo silencioso, “motim” – por certo ainda existem alguns que se vão recordar destas cenas amacacas.

Então resolveu o patêgo, recorrer ao major Santos Gomes (2º Comandante do AB5), para por fim ao “litígio” silente, resultante da nossa negação à ingestão da “lavagem” confeccionada para bácoros, que nos estava a ser impingida.

Esse distinto sr., que lamento já cá não estar para ler esta narrativa, em vez de procurar averiguar a verdade dos factos e preceder a uma justiça condigna, ordenou a formatura a todos os Especialistas no átrio do aquartelamento.

Ataviado de camisa de manga curta, calções e meias até quatro ou cinco dedos abaixo dos joelhos, sapatos castanhos espelhados e boné na cabeça, como uma barata tonta cirandava de um lado para outro, com fisionomia austera, cuja tez trigueira mais lhe acentuava mais a rigidez fisionómica de militarista galante, perante os fracos.

Depois dos rituais bélicos para esse fim, e após uma “bem” salmeada homilia de bom militar, colocou-nos em formatura, debaixo de uma canícula do caraças, na posição de descanso (vá lá, vá lá!?), por um “curto” período de tempo, de mais ou menos duas horas, duas horas e meia.

Enquanto isso, andava de um lado para o outro, lançando-nos um “fulminante” olhar de soslaio, embutido numa cara de poucos amigos.

Alguém se recorda?

Se a todos os que “engrossaram” aquela formatura e ainda estiverem vivos, se esqueceram, eu estou aqui precisamente para avivar essas falhas de memória. Para aqueles que desta vida zarparam já não tem qualquer efeito.

Eu sei que na vida há circunstâncias boas e más; porém, existe uma diferença entre ambas; enquanto que a primeira nos baliza o íntimo, a segunda instrui-nos; mas nenhuma delas é fácil de esquecer.

E eu, não esqueci o major Santos Gomes.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra,17/06/2021

 

   

  

 

 

quinta-feira, 17 de junho de 2021

RECORDAÇÕES DA FORÇA AÉREA PORTUGUESA (VII)

 

Nada me faz tão feliz quanto possuir um coração

 que não se esquece de seus amigos.

(William Shakespear)

 

Mas também seria “ingrato”, se olvidasse

os nomes dos meus inimigos.

(A.   Figueiredo)

 

RECORDAÇÕES DA FORÇA AÉREA PORTUGUESA (VII)

(AB 5 - Nampula-Moçambique)

 


O mundo militar é um “laboratório” de psicanálise, onde temos oportunidade de desenvolver e aprimorar o nosso talento investigatório (quem o tem), com recurso às mais diversas castas de “cobaias”, que raramente se apercebem do seu estado comportamental.

Adjectivando: militaristas ferrenhos, sádicos, oportunistas, vaidosos, tolos, labregos, burros, pategos e covardes – há de tudo; também os há, honestos, condescendentes, humanos, indulgentes, inteligentes, corajosos e perspicazes.

De toda a multifacetada “cambada” que este organismo congrega, sobressaem figuras, que, através do seu comportamento cívico, exibiram com extrema simplicidade as suas melhores qualidades éticas e humanas, sem suprimirem as responsabilidades que faziam parte da incumbência que lhes fora militarmente determinada.

Aqueles em quem estes estes últimos atributos de grandeza de carácter foram uma constante na sua maneira de ser, entendo que devem ser rememorados, independentemente do lugar ou da dimensão em que estas pessoas se possam encontrar. Merecem-no sempre. Se na seráfica paz etérea, a título póstumo; se ainda neste mundo abascado, egoísta e selvagem, como um acto de gratidão, pelo enaltecimento dos seus predicados deontológicos, que podem servir de lição a muitos manegos.

Esta é uma delas. O Capitão Guedes, que esteve no AB5 em Nampula, onde exerceu o cargo de Chefe das Oficinas de Material Terrestre.

Jamais esqueci a amizade que me dispensou durante o tempo que por aquelas bandas permaneci a torrar os miolos ao sol tropical, em que, encontrar um pequeno gesto de familiaridade e protecção, tinha o valor de “côdeas em tempo de fome emocional”. Ele permitiu que eu não me sentisse só. Sabia que tinha ali alguém com quem podia contar, para me defender de algum percalço que pudesse surgir – e até aconteceu.

Era um homem bom; indulgente, compreensivo, orientador, e, acima de tudo, bom conselheiro; respeitava todos sem militarizar e fazia-se reverenciar também como ser humano.

 Sempre me tratou com alguma deferência e foi um grande entusiasta das minhas faculdades natas, ligadas à pintura, à escrita e à minha habilidade para a execução de vários trabalhos elaborados em torno mecânico.

Havia entre nós uma simbiose entre elementos, que consistia numa cooperação entre a protecção, o trabalho e a amizade, que dia após dia cada vez mais se foi fortalecendo, através da nossa salutar convivência.

Quando ele precisava de mim, requisitava-me aos Serviços de Manutenção de Aviões, chefiado na altura pelo tenente Cardoso (mais tarde capitão), o qual ainda hoje relembro com saudade e estima por ter sido também, senhor de uma dignidade despretensiosa, sincera e simples (um dia, quando a minha memória me permitir reunir os elementos que se encontram em estado letárgico, algo irei dizer, também, sobre esta figura).

Quanto ao capitão Guedes, convivi muito com ele, numa harmonia aberta onde eram trocadas opiniões diversas, e com quem muito aprendi.

Como verdadeiro amigo que foi, a sua figura ainda hoje, pelas melhores razões, ocupa um lugar de relevo no meu repositório memorativo.

De seu nome: José Póvoas GUEDES da Silva (Capitão Guedes).

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 16/06/2021

   

https://antoniofsilva.blogspot.com/2021/06/recordacoes-da-forca-aerea-portuguesa.html

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Nota:

Faço por não usar o AO90


segunda-feira, 14 de junho de 2021

QUANDO A "inducação" ARRUINA A RAZÃO

 

Posso perdoar a força bruta,

mas a razão bruta é uma coisa irracional.

É bater abaixo da linha do intelecto.

(Oscar Wilde)

 

QUANDO “inducação” ARRUINA A RAZÃO

 

(Abam os links, e ouçam).

https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=2997777040435976&id=100006111272766

E

https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=3000190963527917&id=100006111272766

 


Costuma o povo dizer que, “burro velho, não tem emenda”; como tal, eu também não me sentiria satisfeito se este espécime escasso, onde o tino não franqueou as portas à educação, não levasse umas “cacetadas” para um polimento cívico na sua soez maneira de ser.

Para dar prosseguimento a este esfreganço, faço questão de salientar que não sofro de qualquer espécie de sectarismo, quer partidário, quer religioso. Sempre procurei orientar a minha vida dentro da lógica de parâmetros tidos como orientadores da nossa vivência harmoniosa nesta sociedade, em que, contra ou a favor da nossa vontade, estamos integrados.

De qualquer forma, não pretendo retirar a razão onde este “Sr. Carroceiro” alicerça os seus raciocínios, e, associadamente, pretendo enaltecer a valentia que teve para os trazer a público - talvez imaginando somente a sua presença e a da tela do aparelho de informática usado para efeito. Compreendo, no entanto, a robustez da sua sublevação onde impera um profundo e desanimador descontentamento, porque não é mentira nenhuma que as coisas Portugal, têm andado completamente desconchavadas e à “deriva”. Sendo por essa razão que letra de lei e o espírito da mesma, têm andado divorciados, dando origem a que a consequente imparcialidade na sua aplicação mareie na crista da “onda” mais possante; confirmando deste modo, que os díspares pareceres evidenciados para um mesmo crime funcionem segundo adágio popular, “cada cabeça, cada sentença”.  

O “Sr. Carroceiro” TEM RAZÃO, no que arrazoa. No entanto, condeno a configuração “artística” que adotou para o fazer, pela falta de educação apresentada, que certamente lhe angariou, em grande parte, a “perda” da RAZÃO SOBERANA, tida como elemento fundamental para a estabilidade e harmonia na nossa vivência comunitária.

Dictar, mais não é do que um acto de raciocínio para a criação de uma partitura musical capaz de unir os sons e extravasá-los numa harmonia sonora que agrade ao grande público. O registo dos sons pode estar correcto com o raciocínio de quem os criou; pode estar de anuência com as razões diversas que levaram à sua criação; mas também é natural que a sua consonância possa, em vez de catalisar consensos, atrair as opiniões de criticismo do público mais judicioso, por causa a sua sonoridade grosseira.

Por isso, criar argumentos com vista a sustentar uma razão, a meu ver, não será tarefa difícil. O problema consiste na sua exposição. É preciso saber dizê-las. No caso em consideração, entendo que foram transpostos os marcos da razoabilidade.

 Ser-se estúpido por natureza, pode ser considerado uma eventualidade da Criação. Mas, fazer-se de “estúpido” e proferir toda a espécie de bacoradas que lhe fermentam na queratina, socorrendo-se para esse efeito dos preceitos democráticos, é de aluado. Neste caso, apesar da “autenticidade” das razões apresentadas, a boçalidade com que o fez, desmoronou as muralhas do seu “castelo de verdade”.

Não interessa que seja do Norte, do Sul, do Centro ou das “Bordas”; a democracia e o civismo, complementam-se e devem ser para todos; embora reconheça, que às vezes não é bem assim – o conteúdo exibido nos “links” inicialmente postados, disso são um modelo.   

E este Sr. “Carroceiro”, comportou-se como um magnífico malcriado.

Logo, perdeu a RAZÃO.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 14/06/2021

  http://antoniofsilva.blogspot.com/

Nota:

Opto por não fazer prática do AO90.

 

sábado, 12 de junho de 2021

A TENDÊNCIA JUSTIFICA O DESLEIXO

 

 A moda, afinal, não passa de uma epidemia induzida.

(George Bernard Shaw)

 

A TENDÊNCIA JUSTIFICA O DESLEIXO

(Pilhéria criada para censurar alguma “chavasquice”)

 


Moda é moda, caramba!

É verdade.

Às tantas foi mudança de maré influenciada pela lua, sei lá!?

Passou-me pela tineta, “santificar” uns dias ao desleixo, p´ra ver se ouvia o ruído da barba a medrar. Então optei por imitar muitos deputados, apresentadores televisivos, e outros exemplares das nossas “aristocráticas” varas porcinas, votados ao desmazelo, com a escusa de que é tendência - ainda que achavascado e piroso, não deixa de não ser respeitado (e conotado, a meu ver), como sinónimo de badalhoquice.

Actualmente, verifico que a tendência “talibânica” estrou na berra em Portugal.

Confirmei, entretanto, que a minha determinação, de curta metragem temporária, nesse sentido, até me trouxe alguns frutos proveitosos. Além de outros, por mim considerados de menor importância, quero salientar com particular interesse, o estado comportamental de alguns seres, que, sendo, nem parecem que o são. Não direi imigrados do paleolítico, contudo do neolítico, a ver pelo seu comportamento e figura, no tempo em que a pedra polida era rainha.

Então, deixei agraudar a barba por uns dias, enfiei um velho chapéu a cobrir o “piso” do “heliporto” que protege a minha massa racional para que os infravermelhos do astro-rei não me aferventassem os miolos, vesti umas calças de ganga desgastadas - o preço das esfarrapadas, está pela hora da morte - protegi o meu cabedal com o casaquito puído, enfiei umas apalhaçadas sapatilhas com dois ou três buracos de respiração, nesciamente “embelezadas” com umas enormes e anedóticas linguetas – como manda a “sapatilha” - e fui sarandilhar pelas velhinhas ruelas, becos e recantos da baixa conimbricense, apostado em observar o comportamento do Zé Pagode em relação à minha triste figura - para mim, tida  como anedótica e descuidada. Mas estava dentro das tendências da modernice.

Os andantes que comigo cruzavam, olhava-me de soslaio, manifestamente com legitimada repugnância e outros com sublinhada comiseração; talvez idêntica à daquelas pessoas asseadas, quando vêm “criaturas” semelhantes a ouriços cacheiros, nas redes de comunicação visual, e em outros lugares de relevo, onde aparecem esses desalinhados “gordurentos”, de barba por aparar e as guedelhas, muitas vezes resumidas três pelos desgrenhados e untados com brilhantina ou repletos “serradura”, pertencentes à mais pura nata da modernice, onde a incúria se faz notar – mas é moda, porra! Maneiras que em outros tempos, quando eu era moço, apenas eram características atribuídas aos palhaços circenses e aos objectivamente necessitados, p’ra quem a vida na realidade não sorria.

Sei é que de vez em quando, aparecia alguém de olhar bondoso, que, após revolver a bolsa ou os bolsos, talvez com mais cotão do que “cacau”, de onde um braço se esticava na minha direcção com uma moedita entalada entre o polegar e o indicador, que eu solenemente aceitava e “pagava” com modesta gratulação; não porque disso tivesse necessidade, porém, para aliviar a consciência de quem ma havia ofertado, talvez para indulgenciar o peso de algum “pecadelho” que pense haver cometido - coisas da vida! Analisando desta forma as diversas maneiras de ser e de agir, dos desiguais elementos que integram nossa sociedade, face às ocorrências miseráveis que se lhes deparam.

Pude observar, que para uma mesma coisa, as reacções são distintas, bem assim como as expressões faciais. Estas, não eram só exibidas sob um ar de repugnância, desprezo, desconfiança, frieza e rigidez, mas também perante um manto de complacente tolerância, dó, conciliabilidade, respeito e bem-querer.

Eu só pensava; que mundo tão esquisito e variado!

Já perto do meio-dia, com os pés a reclamarem descanso, dei por terminada a minha andança; não direi com os bolsos atabicados, porém, com algumas moeditas, que seriam suficientes para uma frugal refeição. 

Meditabundo, ambulei “meia dúzia de passos” e logo encontrei o destino a dar para os patacos que havia recolhido.

Encostado a um cunhal, apesar do seu semblante desgostoso, mas que ainda reflectia uma réstia de alento na esperança de um consolo, deparei com o primeiro desafortunado, com quem alijei a “carga monetária” granjeada e mais algum, limitando-me apenas a ficar com as lições de vida, que no fragmento de uma manhã, acabei de usufruir.

Então conclui o verdadeiro significado da frase, “Nem só de pão vive o Homem”. Os ensinamentos, têm uma função principal no seu comportamento cívico, onde não só a moral está em causa, como também a sua salubridade física e intelectual.

Paradoxal, contudo, verdadeiro! Por vezes vale a pena andar na moda, mesmo que esta revele desleixo, e se a robustez da palermice aguentar a crítica.

Bem ou mal, já fiz a minha parte; agora, vou aparar a barba e tomar um duche (cantando!), com a convicção de que ninguém irá bater palmas.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra,12/06/2021

 

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Nota:

Opto por não fazer prática do AO90.

   

 

 

sexta-feira, 4 de junho de 2021

DESEJO PATOLÓGICO

 

Existem três cachorros perigosos:

a ingratidão, a soberba e a inveja.

Quando mordem, deixam

uma ferida profunda.

(Martinho Lutero)

 

 

DESEJO PATOLÓGICO

 


Antes de encetar esta espadelada, com vista a separar os tomentos do linho, quero aqui sublinhar que sei o que é uma bola, gosto de dar uns chutos na bola, mas não padeço da “bola”, por causa da bola. Resumindo: não valorizo futebol.

Todavia não sinto qualquer repulsa por quem gosta daquele “negócio acinzentado”, para o qual não despendo de qualquer fracção neuronal, nem teço qualquer reparo, contra ou a favor. Simplesmente, não me interessa.

Que isto fique bem claro.

Quanto à inveja, que é das coisas mais rasteiras que conheço, aí sim, já ouso meter o bedelho.

Embora não fique assombrado por quaisquer saberes ou habilidades futebolísticas de ninguém, em particular, admiro a nobreza deste homem, e comparo-o àqueles a que, na Índia, pela distinção do seu carácter e pelas suas obras e exemplos, chamam de “mahatma” (alma boa ou grande alma). A sua humildade peculiar e as suas acções de generosidade social, disso são padrões inegáveis. São estes os principais conceitos que tenho da figura de Cristiano Ronaldo.

Arrancado uma existência onde necessidade era rainha, pelas suas aptidões natas (não me refiro a inteligência), à sua maneira, trabalhou (e certamente foi “trabalhado”), para chegar triunfante, ao pedestal que chegou, mantendo constante a sua inigualável simplicidade.

Construiu um império seu e não duvido que tivesse “auxiliado” outros (mais ratos), a construírem uma “soberania” idêntica para eles.

Estas são as razões fundamentais de tanto burburinho, propalado à volta do mamarracho (assim considero), que ousou mandar edificar. Se legal ou ilegalmente, não sei, nem me interessa saber.

Se foi ilegal, os princípios instituídos devem primar pela equidade na aplicação das normas emanadas dos seus preceitos, a todos os cidadãos, independentemente do seu estatuto social, e, a justiça seja feita.

Se foi lícito, deixem o rapaz na paz do Senhor, porque ele não fez mal a ninguém.

Em toda esta algazarra feita pela comunicação social, entendo que existe um misto de inveja (o fulcro da sua deflagração) e de exploração comercial (markting), com recurso ao que ´Zé” gosta, com especial destaque para o sensacionalismo sádico.

Não precisarei de andar muito, para demonstrar o que acabei de escrever; entre outros despretensiosos auxílios feitos por Cristiano Ronaldo, apenas chamo à colação o mais recente; a “minúscula” Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de Santa Maria. No entanto, já critico a diminuta relevância que os meios de comunicação atribuíram a este seu honroso gesto de inegável altruísmo.

Não subsistam hesitações de que a inveja assume um papel viral no ser humano imbecilizado e interesseiro. O ganancioso, ladra, porque gostaria de ocupar o lugar da vítima que pretende morder. A ânsia da notoriedade, aliada aos interesses lucrativos subjacentes, enevoam-lhe os miolos e fazem abrolhar alguns predicados inconvenientes, como a incapacidade, a ambição e a mediocridade.

Tenho dito. - Mas muito ficou por dizer.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 04/06/2021

 

Obs:

Não sou a favor do AO90.