quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A PENEIRA



A PENEIRA

Sempre que ingloriamente uma peneira tente tapar o sol, apenas o consegue se as mentes forem cegas de nascença ou sofram de outra enfermidade que lhes altere os critérios visuais. No entanto, é justamente por causa do prática abusiva da peneira, que nós estamos no estado deplorável em que nos encontramos, no qual a corpulência não para de medrar.
Essa condição lastimável deve-se à podridão que tem existido nos órgãos do poder, criador de mecanismos complacentes, que, untados pela corrupção margeada pela impunidade, têm possibilitado o seu desmesurado alastramento que nos tem encaminhado para a indigência de quase tudo, com a consequente perda da nossa identidade como nação independente.
Na política, o uso da peneira transformou-se num hábito cretino e mentiroso, por onde só passa a sonância das doutrinas e promessas desprovidas de senso, porém, que agradam às perspectivas mais malucas que vagabundeiam nas mentes bloqueadas pela boa-fé ou pela ignorância. Todavia, aqueles que vêem a manha e a avelhacaria por detrás da peneira, também fazem parte das massas coagidas às imolações impostas, graças aos crédulos que beatificamente olham a peneira pela frente serem em maior número, permitindo por isso, que os verdugos subam ao patíbulo e delapidem impunemente toda uma população, pagando deste modo, o justo pelo pecador.
A peneira só deixa passar os argumentos do sonho, retendo do outro lado o amargor da realidade, sendo por isso o instrumento mais antigo usado na política, onde todos os elementos têm andado a peneirar para dentro dos seus interesses e não para interesse dos seus vassalos, que somos todos nós.
Este instrumento de apertada malha, tem sido usado com mestria por peneiradores sem escrúpulos que se consideram uma elite, - sem qualquer centelha de ética – que constituem grupos de interesses, apadrinhamentos, corrupção e ladroeira emolduradas no desprezo pelo próximo, falta de honra e sensatez, numa verdadeira podridão oligárquica que o povo, sob uma ditadura encapotada, é obrigado a sustentar.  
E assim vai andando a nossa “elite” opaca, desprovida de quaisquer virtudes de elitismo, a conceber privilégios à nossa custa, tapando o sol com uma peneira que a labreguice não deixa ver o lado de lá.
É deste modo singelo e matreiro, que nos vêm tapando o sol com uma peneira.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 06/08/2015
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