quinta-feira, 17 de outubro de 2019

NOVO "LINGUAREJAR"


A única coisa que devemos respeitar,
porque ela nos une, é a língua.
(Franz Kafka)

NOVO “LINGUAREJAR”
(“Pérolas” do Novo Acordo Ortográfico)

Para dar a vitalidade devida a esta resenha, quero partir do princípio de que a língua, na verdadeira acepção da palavra, é a identificação de um povo. É a sua alma que lhe dá essência e que promove a sua união, o elo do seu entendimento e o catalisador e transmissor dos seus usos, costumes e tradições, dentro de uma mesma pátria.
Não estou em desacordo com a evolução linguística, pois esta deve-se à inserção de novos termos, intitulados de neologismos, que são naturalmente captados por osmose, procedentes de outras culturas, de outras gentes. Já não poderei estar em inteira anuência quando são cavacadas ou enxertadas nas palavras alterações na sua estrutura gráfica susceptíveis de mudar parcial ou radicalmente o seu sentido em relação ao que era usual e que a muitos tanto custou a aprender – com recurso, por vezes abusivo, à prestimosa ajuda de uma abnegada e austera “professora“, apelidada de, palmatória.
A “alporquia” confeccionada na nossa língua e escriturada no Novo Acordo Ortográfico, a meu ver, é tida como uma metamorfose que resultou numa evolução no sentido inverso da palavra, “involução”, contribuindo deste modo para fraccionar determinada credibilidade no espírito linguístico, com recurso à coerção de uma injecção de hibridismo no ADN da tradição do nosso povo. A língua.
Posso não entender patavina da língua portuguesa, mas julgo saber o bastante, para proceder à tecelagem da presente crítica, onde a minha revolta, agreste e ironicamente se manifesta. Neste alvalade, que congrega o educacional, e consequentemente o cultural, procuro ser um intransigente puritano.
Afinal, não houve um acréscimo de novos vocábulos, porém, uma alteração substancial na estructura dos já existentes, que, em vez promover uma suposta facilidade no leccionamento e no aprendizado, veio gerar uma barafunda tempestuosa, que por sua vez provocou um aluimento nas práticas doutrinais há muitos anos ministradas, para a formação das palavras, que ficaram a boiar em terreno lodacento, perdendo algum vínculo entre si.
Chamo à colação alguns exemplos, que só os “puristas”, obreiros das alterações alusivas ao referido acordo podem justificar, e não eu, um simples e artesanal arranhador do nosso idioma, a quem o moderno “polimento” abastardou o seu parco saber e abanou o seu orgulho, no que concerne à ortografia e fiel interpretação da Língua Portuguesa:
Acto = Ato - (Se te apanho outra vez no acto, ato-te todo!).
Facto = Fato - (Pelo facto de o fato ter sido executado por um bom alfaiate, até assenta bem!).
Pára = Para - (Pára aí! Para onde vais afinal?!).
Pêlo = Pelo - (Olha que eu passo-te a mão pelo pêlo!).
Espectador = Espetador (Sou um espectador condoído, pelo triste e sádico espectáculo que está a ofertar o espetador, ao espetar o animal).
Pacto = Pato - (Arroz de pacto, nunca provei; mas de pato, até é muito bom.
Falámos = Falamos - (Já falámos uma vez, ou falamos novamente?).
Pôde= Pode - (Se não pôde, é porque não pôde; mas agora que pode, vamos a isso).
Pôr = Por - (Será um verbo, ou uma preposição? São tão idênticos, que fico a oscilar entre a certeza e a dúvida de como pôr o por, no seu devido lugar).
Prática = Pratica - (Quem não tem prática, pratica; pois só tem prática quem pratica).  
É engraçado, “atão num” é?! É “dificientemente difrente e tamém devertido”.
Antes de ultimar, e a título de caçoada, vou expor ainda os dois minúsculos parágrafos sequentes, que, apesar do seu reduzido espaço, poderão albergar um enorme significado nas entrelinhas:
Estava eu sentado sobre um calhau a matutar na porca da vida com a minha observação direcionada para as águas borbulhantes de um riacho, quando, um quase imperceptível ruído de qualquer coisa que se arrastava me chegou aos tímpanos, “clamando” pela minha atenção; procurei localizar a sua proveniência, e, para meu espanto, observei que era um cagado; olhei bem, e era um cagado de fato, acabado de sair da correnteza ribeirinha.
Muito engraçado por sinal, lá ia ele vagarosamente vencendo a inércia da sua dura e luzidia carapaça, como se tivesse todo o tempo do mundo para chegar ao seu destino. Após minuciosa observação, concluí que era de facto um cágado, e por causa das dúvidas, pude certificar também, que o seu “fato” não ia nada borrado (cagado).
Para muitos que mal sabem escrever, como eu, surgiram agora no céu estrelado da linguística, uns “iluminados” que, com a imposição de novas regras, vieram “infernizar” o universo da existência literária com palavras, cuja estructura foi alterada, ou por forma “distinta”, adulterada, na sua “fisionomia” gráfica e fonética, cunhando algumas, dos díspares significados.
Logo, como ainda estamos com as mãos na massa e o estrugido para arroz de pato, ou de pacto (ortográfico), ainda não está bem apurado, poder-se-ia – sugestão minha – proceder à substituição da palavra linguistas por linguiças; claro que não têm o mesmo significado nem a mesma ortografia, contudo, como na língua lusófona o seu timbre é aproximado, este, requintado por congeminada analogia adulterada, lá irá dar ao mesmo.
Quero aqui manifestar a minha discordância inerente ao Novo Acordo Ortográfico, sublinhando a revogação do mesmo.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 17/10/2019
www.antoniofsilva.blogspot.com

Nota:
Para que não subsistam dúvidas, quero frisar que
alguns vocábulos apresentados por mim como exemplo,
não são fieis ao AO90; todavia, foram deliberadamente
caligrafados com o intuito de apresentar a misturada que
deste Acordo pode resultar, e reforçar o meu sentido

de chacota e reprovação do mesmo. 



quarta-feira, 9 de outubro de 2019

"EXULTAÇÃO"


A democracia é o pior dos regimes políticos,
mas não há nenhum sistema melhor do que ela.
(Winston Churchill)

“EXULTAÇÃO”


Aleluia! Isto é uma democracia. Aparente, mas não deixa de o não ser.
Estou delirante com os resultados eleitorais. Que governe (ou desgoverne), o glorioso, que foi sufragado pela “vontade” expressa dos portugueses. Não de todos, como é evidente, todavia por uma taxa percentual de 36,65%, percentagem esta, retirada apenas da metade (arredondamento por excesso ou por defeito) elegida; os outros devem ter sofrido um ataque piolhoso no seu discernimento, grelado pela falta de credibilidade nas acções nocivas promovidas pelos nossos políticos, pelo que, foram “compulsivamente” levados a castrar a sua auto-determinação de votar. Uma grande chatice, não é?!
Embora não esteja de acordo com a sua tomada de posição, é meu dever compreender que lá terão as suas razões para se terem renunciado à sua vontade de eleger; mas, desta forma, também nunca sairemos da cepa-torta, o que é de lastimar; continuaremos ramelosos, artríticos e esclerosados, a olhar o vazio à espera do nada, convencidos de alguma coisa – não sei de quê!?
Contudo, é um alívio para a minha consciência manifestar o meu “delírio”, que é proveniente de uma esperança – por enquanto não passa disso – asseverada por António Costa na campanha eleitoral, como sendo uma verdade, que por agora fica a pairar no universo da incerteza, “erradicar a pobreza que atinge os mais idosos, que são aqueles que são mais frágeis”, são aqueles que mais dependem dos outros” … (Guarda, Domingo, 9 Setembro 2019).
Devem ter sido estas e outras palavras de carácter auspicioso, que por me concederem fadiga não vou aqui expôr, que devem ter feito levedar em muitos elementos da “Peste Grisalha” uma réstia de esperança, ainda que contrabalançada pela desconfiança, e conseguiram captar mais alguma votação, não tendo abispado, porém, a maioria absoluta, como ouço muitos p’raí galináceos a cacarejar.
De qualquer modo, um acontecimento que me causou uma consternada admiração, foi, depois de ter ouvido os vários discursos onde eram manifestadas as condolências, perdão os parabéns, ao triunfante António Costa e consequentemente ao partido que lidera, no cerne das mesmas dissertações, a meu ver, ficou implícita a manifestação de que todos ganharam. Não consegui ainda, digerir esta inversão das análises feitas, - cada um por si – em que as derrotas foram metamorfoseadas em vitórias – pelo menos, em blá, blá.
É caso para pensar: estarei demente, ou serei uma besta?
Considerando bem… na minha incerteza e para não ficar mal na fotografia, é conveniente apresentar as minhas congratulações a António Costa e desejar-lhe que ao montar a nova caranguejola – porque não ganhou por uma maioria absoluta -, que atarraxe bem os parafusos nos pontos fulcrais, para consolidar a sua estrutura contra algum aluimento, porque, apesar de tudo, a metade que se absteve, não deve estar muito descontente, e os outros dois terços, ao certo, ninguém sabe.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 09/10/2019