quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

A CARTOLA (Só serve a quem a enfiar)

 A desvantagem do capitalismo é a
desigual distribuição das riquezas;
a vantagem do socialismo é a igual
distribuição das misérias.
 (Winston Churchill)

A CARTOLA (Só serve a quem a enfiar)
“Carnaval” alfacinha fora da época

      Não, não são os cinquenta e sete mil euros que revoltam. Nada disso. O que revolta é ver este país endividado a querer mostrar que é endinheirado. Estas pândegas onde a trabucada sonora é uma constante e o encéfalo se desarticula da sua regularidade, trazem sempre no ventre uma determinada incoerência porque contrariam de uma forma bem observável, a necessidade e a miséria da nossa existência, porque a megalomania leva ao esbanjamento; este é o último esforço que a pobreza de espírito faz para mostrar o que não é.
A diversão saiu à rua com a anuência da autarquia a enfiar umas cartolas – da próxima vez serão carapuças – nas cabeçonas e mais ninguém pensa em nada, a não ser folia. É sabido que quem tem pouco miolo prefere a diversão porque esta lhe alimenta as ilusões enquanto a realidade não desperta.
Cinquenta e sete mil euros, perante a montanha de subtracções que têm sido feitas aos portugueses por políticos menos escrupulosos e outra bicharada que à volta deles gravita, é uma mixaria. Pode ser até considerado uma coisa sem importância, se não fossem as pequenas coisas a denunciarem as de grande vulto, que esse universo escuro da ambição comtempla, onde as adições astronómicas somam milhares, senão milhões de vezes os cinquenta e sete mil euros que vão cobrir a cabeça de muitos alfacinhas na noite da passagem de ano, resguardando-os dos resfriados mas não do deslocamento do cinto para o próximo furo, previsto para o ano imediato, 2018.
Estou de acordo com Miguel Cervantes quando escreveu: “O sonho é o alívio das misérias dos que as têm acordados”.
Em meu nome e em nome dos sem-abrigo que deambulam por essa urbe, muitos com falta de roupagem para se isolarem do impiedoso frio hibernal, desejamos uma
BOA PASSAGEM DE ANO ao povo lisbonense, e as nossas mais sentidas condolências ao Sr. Fernando Medina, Presidente da Edilidade, pelo seu cintilante pensamento, cujo objectivo mereceu a condenação após a nascença.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 27/12/2017
www.antoniofsilva.blogspot.com




terça-feira, 26 de dezembro de 2017

INTERVENÇÃO CIVIL OU ACTUAÇÃO POLICIAL?

Helder Fráguas
Na rua, dois estranhos estão prestes a 
chegar a vias de facto. Devemos intervir?
(Boa questão deste ilustre advogado)

INTERVENÇÃO CIVIL OU

ACTUAÇÃO POLICIAL?


Em casos de pequenas discórdias entre elementos da comunidade, seria bom podermos realmente intervir para no imediato tentar impedir que estes conflitos possam tomar outras proporções, evitando assim males maiores. Moralmente devíamos fazê-lo; porém temos de nos retrair porque não estamos credenciados legalmente para o fazer, e corremos o risco de, além de ficarmos sujeitos a umas valentes murraças ou uns felinos arranhões, se tivermos sorte macaca, ainda podemos ser brindados com a prestação de contas á justiça, e, com um pouco mais sorte, ainda nos pode tocar a condenação a alguma indemnizaçãozita, em abono do nosso pecado em querermos ajudar e ficarmos borrados.
De todas as possibilidades é melhor recorrer à polícia; é natural que a intervenção demore a chegar porque não é nada aliciante interferir quando a lei não protege convenientemente a força policial e uma grande fatia do público – talvez os elementos mais irrequietos e nocivos – a escarnece e ridiculariza, fazendo dela um bode expiatório. A desmotivar ainda mais a actuação desta força de prevenção, podemos constatar casos vários em que os seus elementos são julgados e condenados, ainda que no exercício do seu dever; ou porque abala não acertou no alvo certo, como se a bala tivesse olhos, ou porque foi usada força em demasia, pressupondo erradamente que os seus elementos sejam portadores de aparelhos de dinamometria muscular para medir a tenção do tratamento a plicar aos desordeiros, venenosos instigadores da instabilidade pública.
Apesar do muito que se tem dito mal da polícia, por todo o berbicacho que surja, desde o mais perigoso ao mais pequeno conflito, as palavras sagradas que se ouvem é: chamem a polícia. Vai tudo parar à polícia.
Algumas pessoas mais impotentes mentalmente, até ameaçam os filhotes quando estes se recusam a comer a sopa: come a sopa senão chamo a polícia.
Até agora esta força que tem sido pau para toda a colher é tão mal agradecida. Quando chegar a sua justa valorização, certamente que já será tarde. É importante não esquecer que se a força policial não estiver protegida por lei, a segurança do cidadão ordeiro estará insegura e a sua tranquilidade ameaçada. Que ninguém descure isto.
Todavia, penso ser sempre mais correcto e adequado, em caso de conflito, recorrer à polícia… e esperar p’ra ver.


António Figueiredo e Silva
Coimbra, 26/12/2017

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

PORQUÊ?!

O último esforço da razão é reconhecer que existe
 uma infinidade de coisas que a ultrapassam.
(Blaise Pascal)

É precisamente essa força que escasseia em muitas
mentes; por isso, em vez de falarem, “gritam”.
(Digo eu)

PORQUÊ?!

A esta hora, decursiva do andamento do meu fiel relógio biológico que tem regulado a minha existência num incessante e exaustivo trabalho, sem parar durante setenta e rês anos, ainda não consegui compreender uma série de resistências do ser humano, sobre as quais me venho há muito questionando; uma delas, que tem tanto de (des)interessante como de interrogativo, é a que agora vou expor:
Porque é que existem seres que se enfadam, zangam, altercam, partem para a agressão e até para o genocídio, sendo, a meu ver, quaisquer destas situações desnecessárias e injustificáveis?
Uma vez que não contemplo outra alternativa, penso que estas pulsões são resultantes de mentes carenciadas da razão, cuja míngua é erradamente validada como um positivismo timbrado nos seus cérebros apodridos, que reagem das formas mais escabrosas, insensatas e imorais contra os seus semelhantes, só porque estes não comungam das suas convicções.
 A verdade é que isso sempre aconteceu e continua, apesar dos grandes apelos à condescendência e á liberdade de individual, na forma de pensamento e acção.
Sou lavado a concluir que os apelos que se fazem ouvir, só podem ser desborcados de intenções falaciosas. Isto porque raramente ninguém perdoa algo a alguém e este estado de coisas continua. Há, por assim dizer, uma nítida falta de consciencialização que gera desprezo entre os homens, que tem vindo a avolumar-se com tendência a nunca mais parar. Este estranho autoconvencimento do EU e só EU, é uma apoquentação que corrói as mentes conquistadas pelo facciosismo e em consequência disso, congelam com efeitos gravíssimos para a sua parte neurológica, cujos nano-filamentos que as integram e orientam a sua parte racional pura e simplesmente deixam de reflectir. Criogenam ou volatilizam a capacidade do pensamento dedutivo, fonte primeira onde borbulha a essência da razão.
Não obstante, ainda se importunam com a condescendência avassaladora daqueles que dão liberdade á razão dos pensamentos diversificados, perante um entendimento aferido na sua maneira de ser, onde a inteligência flutua, não à deriva, porém guiada por um interior rico em propriedades de indulgente “quilatagem” na marcação e moldagem do seu soberbo carácter, que aos “cegos” causa profunda cobiça. É bem possível que seja essa disparidade.
Que nós, ao pensarmos que estamos certos, tentemos catequizar os outros para o nosso lado, é normal, porque é uma tendência nata do ser humano; o que não é normal é ficarmos aborrecidos quando os catequizantes não se deixam embalar pelo doutrinamento, e é precisamente neste ponto que está edificada aquela que por certo será a minha eterna interrogação.
PORQUÊ?!

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 25/12/2017
www.antoniofsilva.blogspot.com