sábado, 30 de março de 2019

PORQUE ESCREVO


Eu não escrevo em português.
Escrevo eu mesmo.
(Fernando Pessoa)


PORQUE ESCREVO
(Destilada com o perfume aromático de uma cachimbada)

Além de outras, a escrita sempre foi uma das minhas inclinações prediletas, cuja particularidade já deve ter vindo engastada na essência da minha construção natural.
Sinto que, redigir é palmilhar os caminhos da minha imaginação, no que concerne a momentos vividos desde que principiei a ter o conceito da minha existência como ser pensante; relembrar o passado até onde a memória alcança, viver o presente e preconizar o futuro, servindo-me para este último, das experiências e sensações fossilizadas no meu íntimo que, por muito profundas que se encontrem, com algum esforço consigo fazê-las germinar, e por factos constatados no espaço contemporâneo, que podem ser de rir, chorar ou naturalmente, deplorar.
É com o conjunto destes “materiais” que dou azo à construção do adobe, com o qual dou corpo ao meu pensamento, transformando-o numa realidade sensível aos sentidos, para que os elementos da comunidade que leem as minhas patranhas, possam tecer os seus comentários; estes podem ir desde os maiores aplausos, às mais desmedidas críticas, com justa razão de causa, ou por mera insuficiência de entendimento. Não exceptuo outras, que são elaboradas por esmerada parvoíce, consequência de um vincado ou vinculado, secatarismo doutrinal que, como endemia que é, lhes afecta o caco e turva a visão, em consequência da adulteração das reacções químicas inerentes às substâncias que estão na origem do seu discernimento desrazoável. Paciência!?         
Porém, nunca foram nem serão estas “coisecas” que farão com que eu deixe de escrever com causticidade ou louvor, conforme o assunto assim o requeira.
Concebo-o a meu modo e à minha dimensão, não como um “douto” letrado (?), mas com a simplicidade do meu parco e modesto saber, e com a rigorosa intenção de descarregar o que de benévolo ou de malicioso me circula no âmago, criado no momento ou em consequência de enfartado acumular.
É verdade que quando disserto, não o faço com a intensão de que todos os elementos da sociedade obsequiem os meus ditames, mas para que estes que despontem possibilidades de se poderem polir pareceres através do debate dialogante, ameno e não agressivo, sem haver necessidade de recorrer a palavras menos comestíveis ou insultuosas, como algumas cavalgaduras da nossa “urbe aristocrática” e não só, costumam, escoicinhando, relinchar.
A minha forma de escrevedura, dizem os entendidos na matéria, que não eu, tem uma marca exclusiva, que nem eu próprio percebo. Há em mim uma coisa que sei e faço questão de asseverar: para bem ou para mal, escrevo com a alma. Procuro reproduzir com a máxima sinceridade o meu estado de espírito, quer na paz quer revolta. Há muitos anos que o faço, e não será aos setenta e cinco que vou parar, a menos que por infortúnio me dê alguma camoeca e me arrume de vez ou me coloque numa situação vegetativa.
Apesar de tudo, sou incapaz der ser socialmente soez nas minhas dissertações; uma coisa é certa, a abrasividade provocada pelo sarcasmo que nelas se reflete, - quando necessário - é uma verdade; mas também não deixa de ser uma realidade, que, no meio daqueles que aprovam, há sempre alguém que não gosta de as “ouvir”, porque a verdade fere a insensatez, e esta, por sua vez, aumenta a secreção biliar em determinados bichos deste matagal, que os coloca numa situação de idiotice indigesta e os empurra para a tecelagem comentários de feira onde a picardia é uma constante. Tudo isto acontece, independentemente da posição social de cada um, como é perceptível. Enfim, há de tudo, mas com isso posso eu bem.
Posso dizer que tanto gosto dos que antagonizam as minhas ideias como daqueles que as enaltecem, tendo, como é lógico, algum cuidado com os que não dizem nada, que são em maior frequência; o que abomino com radicalismo são aqueles que, pseudo-cultivados ou por natureza mal lavrados, têm tendência para “borrar o sentido da escrita”, com a sua falta de civismo – mas destes, outra coisa não é de esperar, mas ainda tenho “palha” suficiente para eles.
Continuarei a ser daqueles que, se entender que devo enaltecer, também não me esquivo a esse propósito e tento fazê-lo, aplicando para isso e com empenho, o proveito das minhas cogitações e sentimentos.
Não é que eu ambicione “endireitar” mundo, porque reconheço que sou bastante imperfeito para o fazer, mas pelo menos, conciliá-lo em torno dos valores da ética e do bom entendimento; fundamentalmente, na razão.
Quem não gostar, que promova uma greve, recorrendo para isso a um fastio racional.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 29/03/2109

Nota: não estou em concordância
com o Novo Acordo Ortográfico.
  

segunda-feira, 11 de março de 2019

INVERSÃO DE VALORES ИНВЕСТИРОВАНИЕ ЦЕННОСТЕЙ ANLAGE DER WERTE


 Quando o infortúnio se torna geral num país,
o egoísmo universaliza-se.
(Barão de Montesquieu)
Quando o infortúnio se torna geral num país,
o egoísmo universaliza-se.
(Barão de Montesquieu)

INVERSÃO DE VALORES
ИНВЕСТИРОВАНИЕ ЦЕННОСТЕЙ
ANLAGE DER WERTE


Praticamente aos setenta e cinco anos de idade, onde já sinto o tempo de antena a diminuir, a “pena escorregar-me das mãos” e os circuitos do pensamento com sintomas de colapso, ainda me flui uns sobejos da minha força vital, coragem e obstinação que sempre me animaram, para, embora lastimando, poder afirmar com toda a clareza, que houve uma inversão de valores, muito difícil de reverter.
Como tal, não adianta continuarmos a dar de mamar a outra ideia que não esta; estamos num país apinhado de oportunistas, cujas castas são de difícil eliminação devido à construção do seu “ADN”, que se funde numa forte espiral interligada por uma sólida coesão de interesses comuns, que se divide em três classes: “salteadores, corruptos e vigaristas.
Portugal está completamente esburacado por centenas ou milhares dessas “toupeiras”, que no escuro, não se fatigam em escavar buracos no solo económico e revolver a terra, que utilizam para tapar os olhos a quem tem o dever e a obrigação de observar, e as conduzem ao enriquecimento fácil, cimentado na razão das suas necessidades, posteriormente suportadas pela maior fatia populacional.
Porém, o que mais me constrange, são as artimanhas engendradas para tornear os princípios estabelecidos, com vista à sua impunidade, facultando-lhes a vida. Tal e qual um normal cidadão, continuam por aí a passear, levando uma vidinha faustosa, a zombar do povo e prontos a pedirem indemnizações ou enfiar no chilindró, aqueles que se arroguem a atirar-lhes ao focinho todas as realidades sobre seu comportamento indecente e indecoroso.
Não será necessário referir que essas castas sempre existiram, mas é de frisar, que não em tão grande percentagem como actualmente – e digo isto sem ser necessário recorrer ao INE.
Ultimamente, as investigações, quer jornalísticas, quer executadas por instituições governamentais, são suficientes para demonstrar o que acabei de proferir.
É “visível” que tem havido um saque descarado a nível nacional, precisamente por causa da inversão de valores, que não é “condenável” nos graúdos, mas é punível na “arraia miúda”, ficando aqui também manifestada a “sensação” de que a lei não tem primado pela igualdade de direitos e deveres, aplicando uns ou outros em diferentes medidas, consoante a posição social dos cidadãos. Ora isto não deve acontecer.
É evidente que não nos é permitido direcionar o indicador a quem quer que seja, mas sabemos muito bem, onde muitas dessas toupeiras se encontram e somos conhecedores das diversas maneiras de as, eliminar não digo, porém, confiná-las em “espaços hoteleiros” semelhantes ao de Évora, com tudo pago por nós.
 Depois suportada a integral solvência da sua estadia compulsiva, ainda nos sobraria dinheiro, que creio ser suficiente, para estabilizar a nossa economia, legando-nos a possibilidade de desfrutarmos de uma existência mais desafogada, e podermos respirar num ambiente menos poluído pelo cheiro fedorento dessas “ratazanas”.
Isto só é conseguido com a reposição dos valores no lugar devido. Para que tal suceda, é necessidade imperativa de alguém, com bravura e uns tubérculos tisnados e rijos, comumente conhecidos por… “TOMATES”.
Mas, com grande tristeza nos percebemos, que quando aparece alguém com esses predicados, o sistema, não obstante todas a traves que a custo o vão suportando, estarem corrompidas e podres, encarrega-se de estruturar e “legalizar” procedimentos - ainda que arredados da ética - com vista à “liquidação” desse alguém, remetendo o empecilho para um “espaço reservado aos imprestáveis”, atabicado de prateleiras de incompetência e cortinados de teias de aranha.
Uma maneira estranha de domesticar a justa “descortesia” da razão, quando a própria razão apresenta motivos para isso.
É triste, mas é verdade.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, /10/03/2019

 


  
  

domingo, 10 de março de 2019

APARTIDARISMO


Não é possível discutir racionalmente
com alguém que prefere matar-nos, a ser
 convencido pelos nossos argumentos.
 (Karl Raimund Poppe)


APARTIDARISMO

Por uma questão de afirmação da minha liberdade de palrar e de ortografar, faço questão de manter-me o máximo possível, arredado de quaisquer ideologias ou sectarismos que proliferam na alma das diversas facções políticas do meu país. Só assim posso garantir a mim mesmo a independência indispensável para poder estilhaçar com imparcialidade, as teorias, ou mesmo as práticas, menos éticas daqueles que, no meu entender, merecem, ou, da mesma forma, louvar os que, elogios souberam granjear pela firmeza e rectidão do seu carácter perante a comunidade.
É deste modo que entendo a sabedoria da democracia e a razão da sua existência.
Espontaneamente, questionar-me-ão; “então, mas este desmiolado não tem voto na matéria”? Claro que tenho, não sou diferente dos de mais, e quando a mesa abre as pernas e a greta da urna fica à disposição da minha consciência, é evidente que lhe enfio o meu o meu parecer na forma de sufrágio, para a ajudar a encher o espaço interior onde pairam os mistérios de interrogação e da esperança, e, ao mesmo tempo, para descarregar a análise da minha percepção, já com longo tempo de amadurecimento, mas não livre, como é natural, de interrogações e reticências.
Não me considero diferente dos outros, só que, sou alérgico às lavagens cerebrais, não me constrangendo no entanto, que cada um se prontifique a recebê-las, segundo a sua maneira de ser, pensar e deslocar-se, no universo social onde está agregado, moldando-se à natureza do sopro que lhes balizou o norteamento aquando da sua concepção natural, ou a favor das pulsões ardilosamente geradas pelas conveniências pessoais.
De uma realidade tenho a certeza; quer uns quer outros, ambas as partes podem equivocar-se. Mas só erra quem é humano, e só volta a cair no mesmo engano, quem é maníaco-depressivo no pico da crise, ou geneticamente estúpido; no segundo parâmetro, cientificamente sabe-se que a “demência” genética é auto-imune; logo, não existe terapia possível para desenraizar o palerma da estupidez natural que o embrulha, com vista ser iluminado pela luz cintilante da razão, resultando daqui a maior fatia da inconstância, não só local, porém, global.
Nunca fui amante do espartilhamento à liberdade da minha consciência e tudo tenho feito nesse sentido para a manter sadia ao longo do trajeto da minha existência, mas reconheço, contudo, que não tem sido nada fácil.
O fundamentalismo, seja de que modelo for, atarraxa a liberdade de pensamento, condicionado dessa forma o valor opinativo do entendimento, porque é decorrente uma razão que pugna pela defesa intransigente e cega, de determinadas regras ou princípios, sem deixar espaço de manobra, deixando os seus “veneradores” sem vontade própria e muitas vezes usados no incitamento da desestabilização comunitária.
É precisamente pelos raciocínios aqui apontadas, que, com ou sem razão, - o tal benefício da dúvida -  faço questão em manter a minha própria independência, conquanto que prossiga a reverenciar a liberdade dos outros e a compreender as suas preferências, sejam elas construídas de olhos abertos ou mentes cerradas.
Ambiciono a autoridade própria para poder falar e redigir desafrontadamente, sem me sentir aperreado pelas camisas de forças doutrinárias.
Daí, o meu apartidarismo.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 10/03/2019