quarta-feira, 30 de maio de 2012

COESÃO EUROPEIA, UM FIASCO


(…) UM FIASCO



Nunca afiancei a coesão da Europa!... E agora, muito menos.
Quando nos lambuzaram com umas pinceladas de silicone político e umas coroas a “fundo perdido” à mistura, conseguiram iludir a já de si débil visão dos nossos governantes para um vínculo lodoso, revestido por um areal movediço de sacanice, a minha convicção foi sempre de abundante incredulidade. Mesmo com as minhas reticências, pelo negativismo, claro, aparvalhadamente cheguei a pensar com os meus botões, obviamente com razões assentes em remota esperança, que talvez esta jorda convalescesse, o que de facto e lastimavelmente não veio a ocorrer.
O capital continua com o seu poder desenfreado, investigando e aplicando todos os meios ao seu alcance para atingir os fins a que se propõe: rilhar, massacrar, comprimir, reduzir à pequenez mais próxima da comiseração os elementos obreiros da sociedade, para promover uma franca exploração guiada por rédeas tensas de couro crú, de uma escravatura sem limites, onde é recusado o direito à aplicação de quase todos sentimentos concernentes ao ser humano, com a substituição das pessoas por desumanizados dígitos.
O que os países que se tachavam com direito a serem Senhores Feudais da Europa fizeram, não foi mais do que um premeditado investimento a longo prazo, com o fito de explorar até ao tutano as autonomias que, cegas pela quimera, voluntariamente se colocaram em perigoso posicionamento de debilidade económica, em vez de optarem por um traçado de estratégias que lhes permitisse serem, já não digo total, mas parcialmente independentes.
Ninguém nos ensinou a pescar mas “deram-nos” peixe; agora obrigam-nos, coagidos pela inegável necessidade em que nos encontramos, a pagar o que anteriormente devorámos, o que estamos a mastigar e aquele de que indubitavelmente vamos carecer, para, pelo menos, mantermos o bandulho em remediada, porém tremida actividade. Isto adicionado a uma agiotagem ambiciosa que se movimenta com toda a brida sobre rolamentos de insuportáveis juros, razão pela qual nos está estancar a “auto-respiração”, colocando-nos a independência cada vez mais distante.
O descontentamento é generalizado; todavia a sua realidade, que é um facto sentível, visível e “palpável”, continua a ser diagnosticado por uns milhares de oportunistas, parasitas, parvos e imbecis, como um sentimento resultante de um negativismo insalubre. Não!... O pessimismo está bem patente por razões de causa objectivas e não por ligeiras mazelas. “Os senhores do leme” é que querem ter uma visão estrábica da situação, porque o deles está sempre garantido. Não sei é até quando.
Certamente que não será no meu tempo, mas como o que tudo ascende, obrigatoriamente tem que baixar, essa cambada ou os continuadores dela, mais cedo ou mais tarde irá pagar por isso.
A sublevação dos escravos ainda não deflagrou, contudo, está em moderada fermentação nas cubas do desânimo, atiçada pelas chamas do descontentamento e da raiva, que aumentam o seu calor à medida que a ambição de uns vai crescendo em inversa proporção à descida a caminho da miséria dos outros, que constituem o grosso da massa da uma maioria inexoravelmente desfavorecida e selvaticamente sugada.
Podemos verificar que o Mundo está em agonizante convulsão e que a todo o momento poderá rebentar pelas costuras, contudo, quero apenas referir-me à Europa.  Os mentores desta neo-trapalhada, teriam feito melhor se não tivessem juntado os trapos para construir uma manta rôta continental além de terem o cometido o estúpido erro de palmatória que consistiu no abrir incondicionalmente as fronteiras, facultando a descontrolada entrada e circulação à balda a um aberrante número pilha-galinhas de senso varrido, sem quaisquer princípios, que não respeitam as regras dos países que lhes deram guarida e que com incrível e debilitada complacência ainda lhes consentem os “golpes”.
A COESÃO EUROPEIA, NÃO MAIS FOI DO QUE UM FIASCO, UM FRACASSO.
Esperem, roendo as unhas em sinal de aparente quietação e vão assistir de certeza, num prazo, não tão longo quanto isso, ao seu desesperante e calamitoso desmembramento.
As criações híbridas geralmente têm uma breve existência.


António Figueiredo e Silva
Coimbra
23/05/12

www.antoniofigueiredo.pt.vu  


segunda-feira, 21 de maio de 2012

LOCUÇÕES DESAFORTUNADAS


LOCUÇÕES DESAFORTUNADAS
(Carta aberta ao Primeiro-ministro de Portugal)


O desemprego, “não pode ser para muita gente,
 (…) um sinal negativo. (…) tem de representar
 também, uma oportunidade para mudar de vida”…

(Palavras do Primeiro-ministro Pedro Passos Coelho)



Exmo Sr. Primeiro-ministro
Pedro Passos Coelho
                                                                                                   

Para eu ter investido o meu voto a fim de dar a V. Exa. uma oportunidade para mudar de vida e agora ter de escrever-lhe esta carta aberta, e, também de franca leitura para todos os portugueses, creia-me sinceramente ressentido pelas palavras, para mim mal aferidas, que se calhar irreflectidamente baldeou cá para fora.
Quando nos propomos a ocupar altos ministérios, as nossas dissertações devem ser feitas por conta, peso e laminar comensuração, para que o seu conteúdo não perturbe a digestão de alguma dura situação, que por si só já seja de difícil “ruminação”, como é esta que actualmente se vive no nosso desorganizado cantinho dos marrêtas.
Saiba V. Exa. que o desemprego, para quem quer e necessita trabalhar para suportar as despesas próprias ou do colectivo parental, se tiver família, é um fantasma que pode levar uma pessoa à alienação mental, podendo arrastá-la ao empreendimento de actos que podem estar em contravenção com a moral, com a ética, e, consequentemente com a lei, cuja diligência desta, (lei) também incontáveis vezes deixa interrogações, quanto à sua imparcialidade e cegueira; de quando em vez só vê com o olho da conveniência, mas adiante.
Perante uma mancha com cerca de oitocentas e vinte mil pessoas – contabilizando somente as inscritas - que o estado caótico do país colocou nesta nova oportunidade para mudarem de vida, já pensou na colisão de “solidariedade positiva” que as palavras que pronunciou tiveram em muitas cabeças, por certo endémicas pelo desgaste profunda desorientação?
Sr. Primeiro-ministro, quem redige estes pareceres não é um desempregado, contudo, um rapaz velho, de sessenta e sete anos de idade, “sem erudição” mas com calo no cú, que por políticas mal concebidas e subdesenvolvidas por alguns “crânios” deste país, que fizeram então parte da corte do perdulário reinado Soarista, passou também pela situação que ora V. Exa. sem pestanejar nem gaguejar, conota como uma oportunidade para mudar de vida. O desemprego.
 Realmente essa oportunidade para mudar de vida que o governo por V. Exa. liderado oferece a muitos portugueses, é de grande amplitude ocasional e justifica muitas “conjunções”, que actualmente podem encetar a sua expansão desregrada. Por exemplo: uma nova ocupação mal remunerada, para quem tiver sorte, – isto acontece sempre, quando a oferta é maior do que a procura - até a oportunidade de passar noites mal dormidas, se ainda não entregou o catre ao banco, - se entregou tem as pontes por abrigo e outros locais de grande referência “turística” que por aí abundam – passando pela oportunidade compulsiva de emigrar – mesmo que o não seja seu desejo – ou até optar pela oportunidade de ser um bom vigarista ou trapaceiro, - enquanto não for apanhado – passando também pela oportunidade mais fácil que é ser um gatunito de meia-tigela, para custear a sua sobrevivência, - até ser colocado no barraco sob apresentação peródica de identidade e residência etc.
Uma oportunidade impensável será arrecadar o subsídio do Fundo de Desemprego.
Porém, Sr. Primeiro-ministro, quando todas estas e outras oportunidades não mencionadas falharem, ainda resta, sob forte depressão, a oportunidade última que é enfiar um balásio nos miolos e emigrar para o além, onde existem oportunidades sem fim. Todavia, se não tiver narta para adquirir uma arma ilícita na “escola da noite”, ainda lhe sobra como derradeiro bálsamo, o recurso a um bocado de cordel, bem forte, que está ao alcance de qualquer desempregado ou alucinado, quando ele se sentir atacado pelo rechinar de forte demência e tiver a piedosa certeza de que realmente quer mudar de vida – árvores não faltam.
É a isto que se chama oportunismo austero, - o que o país carece para comprimir a despesa – com o objectivo de agarrar a máxima oportunidade para mudar de vida, e está ao alcance de todos, sem quaisquer distinções!?
Afinal, V. Exa. tem razão! (?...).
Atentamente.

António Figueiredo e Silva
Coimbra

17/05/2012

PS: Esta carta foi enviada
para variados periódicos.

Obs: ainda não estou em concordância
com o recente acordo ortográfico.


sexta-feira, 18 de maio de 2012

CAFÉ SEM AÇÚCAR (Novas Oportunidades)


CAFÉ SEM AÇÚCAR
 (Novas Oportunidades)



Aqui há uns tempos…
- Então, rapaz, o que é que tens feito durante estes tempos em que não nos temos visto? Perguntei eu, a um amigo com quem não contactava talvez há mais de um ano.
- Olha, cá bou andando a coçá-los; agora também ando a tirar o 9º ano, atrabés daquela coisa qu’ é as nobas oportunidades. Bieram ter comigo e eu foi.
E tu achas-te com capacidade para isso? Perguntei.
- Num sei, o que sei é que eles pago-me p’ra isso; mas põe-me lá uns númaros pu riba dos oitros que eu num cumprendo nada daquilo. E rindo com acentuada malícia, ainda acrescenta:
- Eu mal sei cuntar até dez!?
Este diminuto fragmento de um longo diálogo, que se manteve durante umas horas alimentado com matéria diversificada, acompanhado com umas lascas de bom presunto e uma óptima pinga à mistura, tem por finalidade impor uma certa aferição às palavras verbadas por Passos Coelho, no que concerne ao programa das Novas Oportunidades.
Não sou pessoa que vá muito com ele, mas que a ele assiste uma determinada razão, não deixa de ser uma realidade, cuja sombra, talvez para muitos não seja vantajosa.
Claro está que muito têm especulado sobre o conteúdo da sua verborreia, interpretando-o literalmente por uma questão de interesse e não por desconhecimento do fundamento que séria e implicitamente o caracteriza. Não duvido que seja do conhecimento geral, excluindo os irreflectidos e os interesseiros na tesourada, que a maioria dos “estudantes” afectos a esse programa, entrou lá a saber dizer tá-tá e saíu a saber dizer tótó. Nada mais. Nada mais, não é bem assim, porque na realidade mudaram as vogais da prosa sem alterarem as consoantes e o solfejo musical da mesma, o que pode considerar-se, à luz mortiça e gemada da ignorância construída sobre um monte barrento de ostentação sem fundações, uma já óptima cavacadela na nossa “clivagem científica”.
Claro está, que muitos deles, apesar de “diplomados”, continuam à espera de uma ocupação rentável, tenebroso infortúnio que eu realmente eu lamento, mas lá vão coitados, em nervosos desabafos de incontida indignação, derramando as suas lamúrias repletas de sôcos na gramática portuguesa, que nem as Novas Oportunidades conseguiram – souberam -  aplainar.        
Nós sabemos que houve muita coisa mal feita - e continua a haver – e foi passando em branco, apesar de estarmos tecnicamente falidos mas não oficialmente hipotecados. Actualmente as coisas fiam mais fino, porque não vejo que sejamos donos do nosso próprio destino. As linhas com que cosemos a nossa governação são importadas coercivamente pela implacável imposição de um Triunvirato a soldo do grande capital.
“Empenharam-se” de nos “oferecer” café bem açucarado e fiado; agora que se fartaram, somos coagidos a beber café sem açúcar, e, qualquer dia, nem café teremos.
Por isso, caros ledores e entendedores das minhas epístolas, a meu ver, as Novas Oportunidades, tal como foram manuseadas, serviram presumivelmente para fazer inchar as contas bancárias a uma minoria, perante transversalidade da oblação de umas migalhas a uma pluralidade de ceguêtas. Nas entrelinhas, sob uma interpretação directa e a frio, foi isto que Passos Coelho teve por intenção exprimir.
Finalmente, por causa desta e de muitas outras coisas mal concebidas, mal administradas e mal fiscalizadas, cá nos encontramos a nosso contra gosto, a beber café sem açúcar. E vá lá, vá lá!?
O que não sabemos, é até quando!...


António Figueiredo e Silva
Coimbra

OBS: Ainda não estou em conformidade
 com o acordo luso-brasileiro.


17/05/2012