terça-feira, 31 de março de 2020

RESIGNAÇÃO "COMPULSIVA"


Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência.
Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia
pobreza no mundo e ninguém morreria de fome.
(Mohandas Karamchand Gandhi)

RESIGNAÇÃO “COMPULSIVA"

Para muitos estados de vivência, isto infelizmente é uma verdade.
A esperança fica longínqua, para aqueles que têm de trabalhar, não para viver, mas para irem sobrevivendo.
Por quase por todos nós passaram episódios dramáticos que se mantêm em apática sonolência até que um dia, possa surgir a ocasião de os contar. Para muitos, eles serviram para lhes abrir as pestanas, capangas que resguardam o discernimento e tolhem a vontade de vencer. Abriram-lhes mesmo a mente e singraram na vida. Mas existem situações em que a robustez anímica, por muito forte que seja, pode entrar decadência e destruir a já debilitada força física que ainda possa existir. Parece mentira, mas é verdade. 
É de conhecimento generalizado, que há adversidades na vida que quando se deparam, não olham à situação financeira ou social de cada um, porém iniciam sempre a sua investida, começando sobretudo pelos mais desprotegidos pelo destino, ou porque o seu cérebro não alcança o discernimento que deflagra a intrepidez para as ultrapassar. Muitas vezes não podemos reprimir as lágrimas, mas não devemos deixar-nos cair na fossa do desânimo e dissiparmos a expectativa de voltarmos a sorrir.
 Há tantos que sucumbiram porque o infortúnio os encurralou entre a espada e a parede. Aí confinados, não tiveram alternativa.
Deve ser uma situação aflitiva, com qual a frieza da Humanidade não se compadece; “se não morrer do vírus, morro da fome”; palavras de profunda tristeza e desânimo, vindas de um ser, onde certamente a esperança já permaneceu!
É com alguma mágoa que o digo; a “assombração” da fome entre os povos é uma realidade incontestável, porém, polémica; ela existe para retratar uma forma de poder que defende e consente, que a abundância não seja igualmente dividida por todos os seres do Mundo. Esta minha arguição é provada pela existência de riquezas sem lei que lavram em todo o Globo.
Ás mãos daqueles a que a quem não vai cair nem um irrisório naco, qual é a alternativa?
Calejados de morarem no seio da desgraça, a sentirem-se desprotegidos e afastados socialmente, a sua resignação já é imensurável. Morrer “…desse vírus…” ou de fome, para esses seres, já não tem importância alguma.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 31/03/2020

                                    
Nota:
Faço por não usar o AO90


segunda-feira, 30 de março de 2020

COM OU SEM MÁSCARA, TANTO FAZ!?


“Ser coerente com aquilo que se fala é primordial
para ser levado a sério. Se alguém te disser “faz o
que eu digo e não faças o que eu faço,” não faças
nenhum dos dois, pois a falta de coerência está
intrinsecamente ligada à falta de credibilidade”.
(Rafael D’Angelo)


COM OU SEM MÁSCARA, TANTO FAZ!?

Acho uma certa graça, ainda que mórbida, mas não deixa de não ter direito a um gracejo, às contradições das pessoas que se apresentam como entendidas nos mais diversos assuntos ligados à saúde, independentemente do foro a que pertencem, e quando arengam, com alguma frequência entram em contradição e dizem coisas que não entram nem na cabeça, ao Diabo, que não conheço de lado nenhum, quanto mais na minha.
Eu, apesar de ficar perplexo com certas reflexões traduzidas em palavras sonantes pela Sra. Dra.(?) Graça Freitas, Subdirectora-Geral da Saúde em Portugal, a minha perplexidade, transforma-se em plangente condescendência, porque de nada vale o linguajar, se não procedemos em conformidade com as nossas “doutrinas”, que são o reflexo do nosso conhecimento, do nosso saber, da nossa compreensão. É que, a erudição, as “sentenças” e os propósitos, têm de estar perfilados, para que a nossa reputação seja aceite com fiabilidade plena, em função de factos que a suportem.
Então porque, “…não, não devemos estar alarmados…” com endemia global, se a terra é redonda?
“O que deu origem à pneumonia atípica, esse sim, era bastante preocupante porque se transmitia de uma pessoa para outra; não é o caso do novo Corona Vírus”. E este, não preocupa? - Questiono.
“…não há grande possibilidade de chegar um vírus desses a Portugal”. Mas veio, em expresso e pela surrelfa, não foi? E agora?
As “máscaras podem ter um efeito demasiado tranquilizador” e dar uma “falsa sensação de segurança”. “To be or not to be, that's the question. (William Shakespeare). Devemos ser claros, concisos e objectivos, quando não, o palavrório não surte o efeito desejado
O ziguezaguear nos carris de linha de pensamento verbalmente expresso, – oral ou escrito - contribui para um descarrilamento na confiança de quem nos ouve ou lê, levando a que arrisquemos – que é sempre o mais certo - a sermos chancelados com o carimbo da incompetência; sinête que em nada nos dignifica.
É que o saber tem muito que se lhe diga; esta virtude não diz somente respeito aos laureados com um canudo, porque nem sempre a “albarda faz o burro”. Esta verdade, está mais do que comprovada.
 A sabedoria é mais do que isso. A erudição, não é mais do que ter o conceito claro de conhecer uma realidade e tentar dominá-la, quanto estar ciente de não a entender e admiti-lo, recorrendo à humildade da nossa “cegueira” intelectual; porque ninguém sabe tudo.
Há declarações com muita graça, não há?
Com máscara ou sem máscara e com ruas desinfectadas, são procedimentos que não adiantam nada.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 29/03/2020

Obs.
Faço por não usar o AO90
  

domingo, 29 de março de 2020

O VÍRUS AINDA SE VAI LIXAR


“Age antes de falar e, portanto,
fala de acordo com os teus actos”.
(Confúcio)

O VÍRUS AINDA SE VAI LIXAR!?
(Uma crónica ceboleira, para suavizar o desconforto da incerteza).

“De a acordo com os dados de que dispomos agora, a incidência máxima da infeção estará adiada para maio”. (Ministra da Saúde).
De acordo com a notícia divulgada pelo Jornal Económico, a incidência máxima da infecção pandémica ficou adiada para Maio.
Com alicerce nos dados recolhidos, esta “medida” foi analisada e transmitida pela Sra. Ministra da Saúde a todos os portugueses, incluindo mesmo naqueles que pela sua avançada idade já passem os dias dormitar, enrolados numa manta – quem tem.
É bom saber que a Sra. Ministra da Saúde, e talvez das dores de cabeça, já diluiu o seu precioso tempo em exaustiva investigação, para ter chegado a este raciocínio tão pragmático e de uma espontaneidade fora do comum – se calhar enganei-me!?
Fico deveras exultante, por ter conhecimento de que vou passar um grande verão na Praia das Chocas (na Ilha de Moçambique, para quem não saiba), se até lá, o que ela declarou, não sair furado, que é o mais certo. É que u vírus é especialista em pregar muitas partidas de azêdo paladar.
No entanto, louvo o seu talento nato para preconizar, com a certeza (alguma) dos factos; não é como o já pouco badalado Zandinga ou como a já passada “taralhóloga” Maya!?
Não. Esta distinta Sra. não joga as cartas, nem atira para o éter palpites de incerteza; o que tem dito, tem saído “certinho, direitinho”. Se por eventualidade não coincidem “as vozes com as nozes”, é porque houve uma mudança de ideias ou porque o vírus mudou a sua trajectória. Grande sacana (o vírus).
No meu tacanho compreender, que não fica nada em débito à ciência, esta figura do nosso elenco governamental, foi muito bem escolhida para o honroso cargo que faz o “favor” de ocupar. Ministra da Saúde. Muito bem.
A Sra. Ministra é muito simpática e aparenta ser calma e de “forte” convicção, nas suas respostas, quando questionada, ou nas advertências, quando tem de as transmitir aos seus “súbditos” com recurso aos “importunos” jornalistas, que são chatos como a potassa; é possuidora, não direi, de um diálogo não muito convincente, fluente ou pausado, porém enfadonhamente virgulado, em que cada vocábulo tem infalivelmente, direito uma vírgula – deve ser um gesto de igualdade para com as palavras componentes do paralapié. Também é possível que as vírgulas sejam a mais por uma questão de preenchimento do tempo discursivo com pouca trêta. É provável. É uma forma de auto-defesa.
Apesar de todas estas “virtudes”, como não existe outra semelhante, merece a minha credibilidade.
Acredito que quando chegar o fim do prazo da “Notificação Ministerial”, que esse venoso COVID-19, comece a baixar nos seus estragos, ou então que lhe seja cortada a sua residência temporária (?) em Portugal e coagido a ir pregar para outra freguesia.
Como tenho estado em quarentena e não tenho mais nada para fazer a não ser chatear o parceiro, - neste caso a “parceira - estarei atento.
Se isso não suceder, voltarei a dar com a língua nos dentes – como já não tenho nenhum, com a língua no palato.

António Figueiredo e Silva
 Coimbra, 28/03/2020


Obs:
Não uso o AO90.