terça-feira, 11 de março de 2014

O SÓSIA




O SÓSIA (Divagações)





Ele anda por aí!
Sede dignos das vossas afirmações, mantendo uma coerência uniforme, elegantes na postura, - de boçalidade está o povo farto - limpos na imagem, ponderados nas decisões e seguros nas vossas tomadas de posição!
Refreai a endemia gananciosa que vos persegue, e não queirais mais do que a razoabilidade permite! Confeccionai a justiça justamente, para que a pedra não possa furar a teia de aranha como tem vindo a acontecer! Sede austeros nos vossos gastos e modestos na cobrança dos impostos, porque isso castiga o espírito e aleija o corpo da arraia-miúda.
Antes de continuardes a delapidar com os de fora o pecúlio que não existe, lembrai-vos dos de dentro, que têm de o solver, empenhando o seu suor, dando o seu corpo ao manifesto! Não deixais que a corrupção vos mine a moral, se acaso ainda a tiverdes, porque esta virtude está em vias de extinção mas ainda pode ser recriada! Restituí aos cofres as barras de ouro que perdulária e inconscientemente foram dizimadas ou penhoradas por pançudos hipócritas e apátridas, que ainda hoje sobrevivem à sua sombra, a coçar, com ar de estúpido deleite, a sua bem anafada barbela! Acabai com os oportunistas sem pejo, que são um carcoma nocivo à economia e à sociedade e incentivai ao trabalho dando exemplos concretos que até agora não tendes exibido! Retirai o direito à filosofia dos Direitos Humanos, àqueles que se esqueceram de os aplicar ao seu próximo! Adaptai a Lei das Sesmarias aos parasitas, ácaros, bactérias, salmonelas e vírus, essa cáfila merdosa que cada vez mais apeçonhenta o cerne da nossa sociedade!
Quando comerdes lagosta, lembrai-vos daqueles que nem uma reles sardinha têm para lhes estancar a saliva; quando vos deitardes num colchão de penas, recordai-vos daqueles que dormem o sono dos justos numa caixa de cartão, numa estação do Metro, debaixo de uma árvore, ou ao relento, no ladrilho “lêvedo” da calçada portuguesa, ao lado de uma untuosa garrafa vazia, cujo fluido lhes serviu de cobertor. Quando empanzinardes o vosso bucho com iguarias, lembrai-vos daqueles que nem um caldo têm para mitigar a larica que lhes aperreia a resignação e lhes faz derramar lágrimas de raiva com que regam os pensamentos amargosos e por certo, com veios de vingança.
Quando por motivos de emergência e com as vossas avantajadas capacidades económicas, entrardes numa clínica privada, ou apadrinhados por algum “tubarão”, num hospital público, se ainda tiverdes discernimento para pensar, lembrai-vos daqueles que por terem sido insensatamente encerradas algumas urgências, têm grandes possibilidades de chegarem ao destino feitos cadáveres, habilitados a serem enfiados num esquife.
Quando as vossas mulheres ou filhas tiverem que dar à luz, não vos esqueçais daquelas, que por terem sido irresponsavelmente fechadas algumas maternidades, se vêm obrigadas a engendrar como local de nascimento, uma ambulância ou um monte qualquer, nem que seja de palha.
Lembrai-vos sempre, quando passardes pelas ruas com a vossa comitiva a rolar alta velocidade, a compor “musicalmente” um irritante e poluente chinfrim, de que o povo também reclama segurança; tem direito a dormitar descansado. Confiram poder à autoridade para que ela possa promover a ordem, em vez pensarem na liquidação de alguns dos seus postos de difusão.
Fazei por serdes dignos dos votos confiança, que muitos, numa expectativa cega vos concederam.
Sede patriotas por dentro e por fora e responsáveis pela incumbência a que vos propusestes perante o eleitorado.
Era isto que ele teria continuado a fazer, se não tivesse sido traído pela instabilidade de uma cadeira de conivência com a força da gravidade. Os bois continuariam dentro do rego.
Mas, corrigi-vos enquanto é tempo!
Tende siso na vossa tinêta, olhem que ele anda por aí! Eu vi-o!...
Se não é ele, é um SÓSIA.


António de Figueiredo e Silva
Coimbra

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