segunda-feira, 21 de novembro de 2022

O ESPLENDOR DO SOL SERENA A ANGÚSTIA

 Nunca olhes ninguém de cima para baixo,

a não ser que seja para ajudá-lo a levantar-se.

(Dener Naizer)

 

O ESPLENDOR DO SOL SERENA A ANGÚSTIA

(Átimos da minha "estadia" no Hospital de Santo António-Porto)

 


    Num dia chuvoso, pela manhãzinha, lá ia eu, com o meu caminhar claudicante a percorrer este corredor, como faço várias vezes por dia, meditativo e reticenciado a pensar não sei em quê. O certo é, que ia completamente abstraído de tudo o que me rodeava. Eventualmente, por esse dia ter sido destinado à greve (a meu ver, justa), dos profissionais de enfermagem, naquele momento o silêncio reinava naquele corredor. Nas minhas corridas à cágado, em que as passadas ao longo deste corredor demoram alguns minutos, quando ia para lá, não vi nada que tivesse despertado a minha atenção; quando voltei, fiquei surpreso com os raios do sol a entrarem pelo corredor dentro, com um efeito deslumbrante, que de imediato me propus a registar. Liiindoo!

Oportunista, o astro-rei soube servir-se de uma nesga momentânea entre as nuvens, provocada por rajadas coléricas de vento, que, sempre que as encontram, aproveitam para declarar o seu espírito implicativo, empurrando-as sem pejo, para fora do seu lugar que elas haviam demarcado. Manifestamente, isto é bom. É sinal de que o universo está em constante mutação, e, movimento; é sinal de vida.

Vi naquela claridade deslumbrante um símbolo de esperança para todos os enfermos nas instalações contíguas acamados, e um sinal de bênção, para aqueles que, dia e noite se cruzam neste corredor, para, com algum sacrifício e paciência, acudirem aos apelos dos doentes que estão física ou psicologicamente debilitados – por vezes, ambas coisas.

Neste espaço hospitalar - como tantos outros -, um dos últimos redutos onde o ser humano hipoteca toda a sua expectativa em prol da sobrevivência, já vi de tudo um pouco. Pode ser que algum dia eu tenha oportunidade de narrar – se ainda por cá andar a “pastar”, e a caixa-dos-pirolitos se mantiver desperta e activa.

Mas, se esta fugidia réstia de sol foi uma glorificação da Natureza, abençoados sejam todos os que palmilham por este corredor para darem o melhor de si em prol do bem-estar dos enfermos, sem olharem à sua condição social ou psicológica.

Não conseguiria ultimar este texto, sem manifestar similarmente a minha estima e transmitir-lhes que, graças à fulgência da sua alegria, do seu carinho e do seu empenho, por analogia, são como o sol; só que, transmitem paz de espírito e ajudam a curar ou minimizar as enfermidades – sejam elas de perturbação emocional ou desordem física. 

O MEU BEM-HAJA A TODOS.

António Figueiredo e Silva

Porto, 19/11/2022

http://antoniofsilva.blogspot.com/