quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

“SÓ EM TEORIA”

 

Hipócrita: indivíduo que, ao professar virtudes

 que não respeita, assegura as vantagens de parecer

 ser aquilo que despreza.

(Ambrose Bierce)

 

“SÓ EM TEORIA”

(Composição reflexiva)

“ONLY IN THEORY”

«ТОЛЬКО В ТЕОРИИ»

"NUR IN DER THEORIE"

            

Há tempos, li uma observação que, apesar da lição conciliadora nela contida, reconheci nela uma certa piada, por quase ser impraticável nos dias que correm. A moral dela gotejada é uma virtude que praticamente atingiu a caducidade.

Então, apoiado pelo pequenininho introito, assim “rezava”: “O maior mandamento para qualquer cristão católico é, “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.”

Logo pensei; tá bem “Xico”!? Era bom que assim fosse!

É certo que não ponho em causa que o comentador sempre haja seguido essa linha moralizadora. Seria louvável.

Mas, aproveitar as palavras ditas por Ele, considero fácil e banal. Interiorizá-las no âmago do espírito, manifestá-las através do bom senso e certificá-las com actos louváveis, é que é um berbicacho do caraças.

Digo isto, porque ninguém gosta de ser “crucificado”, (a menos que seja masoquista), mas não se ensaia nada em crucificar os outros em prol de qualquer edeologia, mesmo que seja errada, contanto que lhe alimente a alma e lhe inspire um fundamentalismo de elevada perfeição.

Não contesto a lição de irmandade que borbulha daquela frase cuja idade já ultrapassa os dois mil anos. O que ponho em causa, é se aqueles que a proferem e acreditam, mesmo entre eles são capazes de se amarem uns aos outros. É aqui que residem as minhas dúvidas, porque de certezas não tenho enxergado nenhumas.

Esta de, “Se te derem uma bofetada na face, vira-lhe a outra”, não tem oportunidade de entrar no decoro do ser humano. É impensável! E até nem aconselha a voltar a apanhar. Porque dói. Dói muito! E ninguém está disposto a fazer sacrifícios para amar quem o esbofeteia, e com justa razão, porque a própria Bíblia também assim o defende. Nas Escrituras, também está manifesto: “Com a medida que medires os outros, a mesma medida medirá a ti”. É lógico, não é?! Embora esta “harmonia” não seja a lógica Divina, é humana, racional, óbvia e “selvagem”, quanto à reciprocidade nos “afectos” arrebunhadores, e consequentes reacções aos mesmos. E então, quando estão em jôgo interesses de ordem pessoal, como compadrios, amizades, geitinhos ou outras “benesses” ocultas, porém paralelas, o tino volatiliza-se e deixa o lugar à mercê da retaliação. As pessoas que formam uma comunidade, independentemente das suas crenças religiosas, abdicam rapidamente do “bem-querer” entre si. É um “Far West”. Funciona a lei do mais manhoso, do mais rápido, do mais oportunista e do mais currupto. O resto são cantigas.

Para nos amarmos uns aos outros, temos que reconhecer a dignidade entre nós, fazendo dela um dever mútuo. Esse dever, carece de reciprocidade na sua acção, quando não, de outra forma não funciona. Infelizmente o reconhecimento da dignidade mútua é a principal e única “virtude” – agora desvirtuada - que nos separa, deixando o terreno propício à confusão à desavença, ao ódio e à guerrilha – silenciosa ou declarada – esta última é menos perigosa. Para mim não estranho que a leccionação mais trilhada é, “Se não és por mim, és contra mim. Não está certo, mas temos de possuir um carácter forte para de aceitar este conflito anti-ético e arrumá-lo não num arquivo, mas na prateleira do “não-presta-esquece”.

Porque verifico que existem duas forças opostas na sociedade, que numa troca de acervos de razões, se digladiam por chamar a si a RAZÃO ABSOLUTA, quando esta na realidade não existe. A RAZÃO não está condicionada à VERDADE; por isso é sempre contestável e discutível, quando a altercação não cinde o entendimento, claro.

Entendo ser um dever próprio e social, respeitar as ideias dos outros, ainda que elas estejam erradas, conquanto que respeitem as nossas, como é evidente. O tempo os ensinará. Porque, “não há melhor lição para dar a um tolo, do que deixar que ele bata com a cabeça na perêde”.

As ideias não devem ser impostas, mas sim ensinadas. A faculdade de as apreender compete à vontade de cada um.

Nos dias de hoje, quando alguém se lembra em expor tal “aula”, “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, ui! Cheira-me a cortiça queimada!

Reconheço que o Facebook, é um meio de informação social, por enquanto com alguma liberdade de expressão (por vezes, até avantajada), porque os seus usuários, não calculam bem os efeitos daquilo que expõem, que resultam muitas vezes em “prejuízo” próprio – já me aconteceu. Porém, nesta rede social, são constantemente expostas as melhores lições de psicologia que até hoje apreendi.

É um manancial de conhecimentos, para quem saiba desenlear as tramas da sua implicitude.

É com base na análise a diversas exteriorizações de estados comportamentais, saudáveis ou doentios, onde tanto a alegria como a tristeza se manifestam, bem assim como o contentamento verdadeiro ou fingido dá à costa, arrastando atrás de si a hipocrisia vestida com o fato domingueiro emprestado pela lealdade ou a verdadeira sinceridade em todo o seu esplendor. São factos que variam de pessoa para pessoa orientados pela sua maneira de ser, ou orientados ao sabor dos ventos soprados pelas suas ambições e conveniências.  

  Isto é que é uma chatice endiabrada, não sabermos para qual dos lados devemos cair.

Mas… “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

Oh, oh, oh! Isto só em teoria.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 20/01/2021

http://antoniofsilva.blogspot.com/

Nota:

Faço por não usar o AO90

 

 

 

 

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