Hipócrita:
indivíduo que, ao professar virtudes
que não respeita, assegura as vantagens de
parecer
ser aquilo que despreza.
(Ambrose
Bierce)
“SÓ
EM TEORIA”
(Composição
reflexiva)
“ONLY
IN THEORY”
«ТОЛЬКО
В ТЕОРИИ»
"NUR
IN DER THEORIE"
Então,
apoiado pelo pequenininho introito, assim “rezava”: “O maior mandamento para
qualquer cristão católico é, “Amai-vos uns aos outros como
eu vos amei.”
Logo
pensei; tá bem “Xico”!? Era bom que assim fosse!
É
certo que não ponho em causa que o comentador sempre haja seguido essa linha
moralizadora. Seria louvável.
Mas,
aproveitar as palavras ditas por Ele, considero fácil e banal. Interiorizá-las
no âmago do espírito, manifestá-las através do bom senso e certificá-las com
actos louváveis, é que é um berbicacho do caraças.
Digo
isto, porque ninguém gosta de ser “crucificado”, (a menos que seja masoquista),
mas não se ensaia nada em crucificar os outros em prol de qualquer edeologia,
mesmo que seja errada, contanto que lhe alimente a alma e lhe inspire um
fundamentalismo de elevada perfeição.
Não
contesto a lição de irmandade que borbulha daquela frase cuja idade já
ultrapassa os dois mil anos. O que ponho em causa, é se aqueles que a proferem
e acreditam, mesmo entre eles são capazes de se amarem uns aos outros. É aqui
que residem as minhas dúvidas, porque de certezas não tenho enxergado nenhumas.
Esta
de, “Se
te derem uma bofetada na face, vira-lhe a outra”,
não tem oportunidade de entrar no decoro do ser humano. É impensável! E até nem
aconselha a voltar a apanhar. Porque dói. Dói muito! E ninguém está disposto a
fazer sacrifícios para amar quem o esbofeteia, e com justa razão, porque a
própria Bíblia também assim o defende. Nas Escrituras, também está manifesto: “Com
a medida que medires os outros, a mesma medida medirá a ti”. É
lógico, não é?! Embora esta “harmonia” não seja a lógica Divina, é humana,
racional, óbvia e “selvagem”, quanto à reciprocidade nos “afectos” arrebunhadores,
e consequentes reacções aos mesmos. E então, quando estão em jôgo interesses de
ordem pessoal, como compadrios, amizades, geitinhos ou outras “benesses” ocultas,
porém paralelas, o tino volatiliza-se e deixa o lugar à mercê da retaliação. As
pessoas que formam uma comunidade, independentemente das suas crenças religiosas,
abdicam rapidamente do “bem-querer” entre si. É um “Far West”. Funciona
a lei do mais manhoso, do mais rápido, do mais oportunista e do mais currupto.
O resto são cantigas.
Para
nos amarmos uns aos outros, temos que reconhecer a dignidade entre nós, fazendo
dela um dever mútuo. Esse dever, carece de reciprocidade na sua acção, quando
não, de outra forma não funciona. Infelizmente o reconhecimento da dignidade
mútua é a principal e única “virtude” – agora desvirtuada - que nos separa,
deixando o terreno propício à confusão à desavença, ao ódio e à guerrilha – silenciosa
ou declarada – esta última é menos perigosa. Para mim não estranho que a leccionação
mais trilhada é, “Se não és por mim, és contra mim. Não
está certo, mas temos de possuir um carácter forte para de aceitar este
conflito anti-ético e arrumá-lo não num arquivo, mas na prateleira do “não-presta-esquece”.
Porque
verifico que existem duas forças opostas na sociedade, que numa troca de acervos
de razões, se digladiam por chamar a si a RAZÃO ABSOLUTA, quando esta na
realidade não existe. A RAZÃO não está condicionada à VERDADE; por isso é
sempre contestável e discutível, quando a altercação não cinde o entendimento,
claro.
Entendo
ser um dever próprio e social, respeitar as ideias dos outros, ainda que elas
estejam erradas, conquanto que respeitem as nossas, como é evidente. O tempo os
ensinará. Porque, “não há melhor lição para dar a um tolo, do que deixar que
ele bata com a cabeça na perêde”.
As
ideias não devem ser impostas, mas sim ensinadas. A faculdade de as apreender
compete à vontade de cada um.
Nos
dias de hoje, quando alguém se lembra em expor tal “aula”, “Amai-vos
uns aos outros como eu vos amei”, ui!
Cheira-me a cortiça queimada!
Reconheço
que o Facebook, é um meio de informação social, por enquanto com alguma
liberdade de expressão (por vezes, até avantajada), porque os seus usuários,
não calculam bem os efeitos daquilo que expõem, que resultam muitas vezes em
“prejuízo” próprio – já me aconteceu. Porém, nesta rede social, são constantemente
expostas as melhores lições de psicologia que até hoje apreendi.
É
um manancial de conhecimentos, para quem saiba desenlear as tramas da sua
implicitude.
É
com base na análise a diversas exteriorizações de estados comportamentais,
saudáveis ou doentios, onde tanto a alegria como a tristeza se manifestam, bem assim
como o contentamento verdadeiro ou fingido dá à costa, arrastando atrás de si a
hipocrisia vestida com o fato domingueiro emprestado pela lealdade ou a
verdadeira sinceridade em todo o seu esplendor. São factos que variam de pessoa
para pessoa orientados pela sua maneira de ser, ou orientados ao sabor dos
ventos soprados pelas suas ambições e conveniências.
Isto é
que é uma chatice endiabrada, não sabermos para qual dos lados devemos cair.
Mas…
“Amai-vos
uns aos outros como eu vos amei”.
Oh,
oh, oh! Isto só em teoria.
António
Figueiredo e Silva
Coimbra,
20/01/2021
http://antoniofsilva.blogspot.com/
Nota:
Faço por não usar o AO90
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