segunda-feira, 26 de julho de 2021

"AGRADECIMENTO E PESAR"

 

Somos talentosos na concepção de ilusões,

mas ficamos renitentes em aceitar que a

pureza da realidade, só existe nas mesmas,

e nas imperfeições das nossas atitudes.  

(A. Figueiredo e Silva)

 

“AGRADECIMENTO E PESAR”

 


Expirou a existência de um homem que vai ficar para a história como um “herói”, por mim jamais esquecido - pelo menos enquanto eu por cá for andando a “respirar”, nesta atmosfera poluída pela politiquice traiçoeira.

Quero manifestar o meu pesar e agradecimento, por tudo o que ele fez para me sacudir e eu despertar da apatia em que inocentemente estava envolto, e pudesse ter aberto os olhos para a realidade.

Para mim foi um mestre pelos exemplos e pelas lições de enrijecimento mental que ministrou. Só não aprendeu quem nasceu agarrado à placenta da estupidez ou infectado pela cegueira da conveniência, e nunca conseguiu ver a realidade dos factos.

Conquanto que não tivesse sido um homem grande, não deixou de não ter sido um grande homem. Considerado como a figura primeira do 25 de Abril – disso, ainda que bem assim não seja, ninguém lhe rouba o mérito, mercê dos benefícios que turbinam no espaço comunicacional, comercial e político.

Derrubou a ditadura, sem dar um tirinho; não sei, mas tudo aponta no sentido de que foi o criador (pela dúvida, não deva acreditar), das forças de choque (ou bandalhos), FP25, - Hitler também tinha as SS e Mussolini os Camisas Negras; foi o excelso responsável do COPCON  – a neo-democrática PIDE; ao que consta, tinha em mente transformar a Praça de Touros do Campo Pequeno, num espaço de “lazer” e volatilização, para portugueses divergentes das suas convicções doutrinais - se calhar, especulação tendenciosa!?    

Mas, adiante.

Dos resultados provenientes do seu(?!) acto “homérico”, eu fiquei a conhecer o valor da estabilidade financeira nacional e familiar. Perder o emprego, ter tido a família “hospedada” num campo de refugiados; abandonar tudo e emigrar compulsivamente, com uma mão atrás e outra à frente, (sem a paradisíaca folha de parreira), para um país desconhecido, com todos os problemas que isso implicou – linguísticos, usos costumes distintos, maneiras de ser diferentes etc.; economicamente cambaleante, retornar à minha Pátria de origem e recomeçar uma nova, porém espinhosa vida, atiçado por “lisonjas” ásperas e sem graça, atiradas por bocas toscas, brutas e repletas de sarro, cuja estupidez, safadeza e ignorância não tinham limites – ainda hoje proliferam por aí alguns desses calhaus, já artríticos e sem memória.

Tudo isto teve o seu elevado preço. Mas aprendi muito, graças às lições e exemplos de Otelo Saraiva de Carvalho.

Mas, a principal lição que bem apreendi, foi ficar a saber distinguir a diferença entre uma liberdade condicionada e uma democracia fingida. São gémeas.

Todos estes conhecimentos, (muito ainda ficou por dizer), a Otelo Saraiva de Carvalho os devo.

Que descanse em paz!

Enquanto eu espero pelo meu bilhete de ida… sem regresso.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 26/07/2021

           http://antoniofsilva.blogspot.com/

Nota:

Faço por não usar o AO90.

 

 

sábado, 24 de julho de 2021

QUANDO EU MORRER (II)

 

“Conhece-te a ti mesmo”.

(Platão)

 

Quando apontamos o dedo indicador a alguém,

temos o polegar na neutralidade, e os restantes,

a apontar para nós.

(A. Figueiredo e Silva).

 

QUANDO EU MORRER (II)

КОГДА Я УМРУ

WENN ICH STERBE

WHEN I DIE

(A um *amigo “desconhecido” e à sociedade em geral)

 


Já sei que não vou escapar a algumas “mordidelas da nossa comunidade canina”, cuja dentição está sempre pronta para alegar que sofro da abóbora, não sou bem aferido mioleira, bati com a cabeça nas aduelas da selha quando nasci, etc., entre outros epítetos menos distintos para uma decência comunicativa interessante, com o fim de expressar e debater o contraditório, (se ele existe), daquilo que ouso pensar e faço questão de expor e defender com munhas e dentes. Unhas ainda tenho porque não sofro de onicofagia; mas, dentes, dos trinta o dois que na matraca durante muitos anos subsistiram, já só cá cantam cinco - e é um pau! Os outros comprei-os – e foram bem pagos!

 

O que tenho para transmitir é simples, mas não é por isso que não deixa de não ser um sabichinho extenso; contudo, julgo que vale a pena ser lido, meditado e filtrado pela fina rede da compreensão existente naqueles que têm a sorte ou virtude de a possuírem.  

 

A semente humana é tão ordinária e tão desdenhável, que a própria Natureza se empanzina dela, e por isso a lhe vai dando umas impiedosas sarrafadas, sem apelo em agravo. São dois motivos bastantes, para ninguém cá ficar a rir-se de quem bate-a-bota. E, no momento de cisão, é que a paridade estabelecida para tudo o que vive, é absoluta. A Lei Universal, só é na realidade imparcial no, (não confundir com ao), nascer e no morrer, quando o comprimento da linha que separa os dois estados, se dilacera. De resto, os princípios são um joguete de interesses nas mãos do ser humano, onde sempre imperou a lei do mais forte. Resume-se a um “chocalho” único que toca vários tons, consoante as mãos a vontade e o poder do “artista”.

- Ouviste, Pá?!  Mantem-te calmo, e pensa três vezes antes de chegar a tua vez. Lê com tino tudo que tenho para te dizer, porque não estou a brincar. Olha que isto é carburante para o teu miolo e não passa pelas tuas goelas. Por favor, preserva a quietude e avalia-te.

Sejas rico ou pobre, nobre ou plebeu, prêto ou branco, vermelho ou amarelo, quando adrega a chegar a tua vez, lá vais para os “anjinhos” - ou outro sítio qualquer- no gozo integral da paz “eterna”, que por direito Natural te pertence e que entendo ser teu dever usufruir desse gozo perpétuo, ainda que contrariado. Não vale a pena ficares entediado e meditativo antes do “revisor” chegar, porque ele não vai resolver-te nada. Ele olha para ti, apenas como um microrganismo, o que é uma realidade, pica e tu vais.

Depois do embarque, que os que cá ficam consideram fatídico, se és transportado num bom ataúde, quem lucra é o cangalheiro; se és emprateleirado num imponente mausoléu onde a passarada pousa, e com irreflectido desprezo caga, já o lucro, é do pedreiro; mas se és enterrado numa cova funda, antes habitada por outros, é o técnico de profundidade (coveiro) fica a lucrar - é a sua sobrevivência até também “cair” inerte, num buraco semelhante aos que durante a vida abriu.

É certo que poderás optar, enquanto vivinho da silva, por uma “triunfante subida ao céu”, menos poluente, mais rápida, com reduzidos salamaleques e menor empestação de odores nauseabundos a contaminarem esta “minúscula” partícula azulada, que, sem destino, viaja através do Universo infindável; a cremação. É, pode ser uma opção tua. Esta consiste numa “rojoada” preparada a temperaturas pirométricas de tal magnitude, que ao fim de “escassos” minutos só sobra dos ossos, o calcário - infelizmente não dá para fazer canja. Este é seguidamente triturado numa rapidinha e fina moagem, que é presenteada já em “cinzas”, aos teus familiares, - herdeiros ou sucessores - como lembrança mórbida de uma partida, natural ou de funesta surpresa, disfarçadamente desejada por uns e abertamente não ambicionada por outros - inclusivamente por ti.

Tem paciência, mas tenho que dizer-te estas “barbaridades” reais.

Depois de tudo, os que cá permanecem, já sabem que estão na ponta da lança, conquanto que ficam com a possibilidade de montar a “pileca ou o cavalo” consequentes do espólio por ti compulsivamente deixado, e também por haveres sido impedido de o levar contigo – o implacável sistema aduaneiro da Natureza não to permitiu.  

Se são herdeiros, vendem e estoiram; gozam a vida aflautadamente à tua custa, (se tiveres deixado “cacau” para isso), e mais tarde ou mais cedo irão ter contigo transportados num caixão parecido com o teu, mas desta vez, pago pela comunidade; se são sucessores, darão continuidade ao teu sucesso, e, com alguma patetice e incontida ambição, vão dar cabo do canastro, para, com alguns achaques, como reumático, demência ou senilidade já avançadas, irem ao teu encontro - naturalmente já deves sentir-te esfalfado de tanto esperar, quem sabe!?

Eh, pá… agora aguenta a burra! Vou falar p´ra mim.

 P´ra “eu”, quando me apagar, dispenso arautos a propagandear o meu arrefecimento e panfletos colados por todos os cantos e postes, a anunciar que eu bati-a- caçolêta; não me incomodo com benzeduras ou pingos de água no nariz, pois sei que não vou mais constipar-me; flores, seja qual for a coloração ou o feitio, não me seduzem; bilhetinhos com “engenhosas” expressões de pesar, (algumas), não me apoquentam nem me estimulam o carpimento –  o meu sentir esvaiu-se e as glândulas lacrimais estão enxutas.

Suponho - isto não passa de uma conjectura –, é que estarei mortinho por zarpar o mais rápido possível. Por isso  e enquanto é tempo, cá no meu monástico confinamento a que o CIVID-19 me constrange, mas  ainda respirar fundo e com os cinco bem aferidos, opto pela incineração.

Tu, raciocina o que quiseres e faz o que te der na “bolha”.

 

António Figueiredo e Silva   

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

*O amigo desconhecido sou eu.

Apesar de toda a sinceridade expressa,

 legitimo que não conheço bem a mim próprio.

 

Nota:

“Sou burro”; não faço uso do AO90.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

DELAÇÃO

 

DELAÇÃO

(A minha mulher “matou” um rato)

 

Exmo. Sr. André Lourenço e Silva

 

Pundonoroso dirigente d’O Partido das Pessoas, dos ANIMAIS e da Natureza.

 


Perante a minha aquiescência (se calhar caricata), aos preceitos emanados pela doutrina que orienta as linhas fundamentais do partido que, corajosa e beatificamente dirige, é meu apetite, à laia pidesca, (se assim o quiser entender), proceder a uma denúncia que a meu ver, é um “crime” de lesa-natureza, praticado por uma pessoa de alega sentir-se incomodada com a abusiva entrada de um rato no seu (nosso - meu e dela), quintal. Sim, ainda pertencemos e àquela geração de seres que casou com comunhão absoluta (e obsoleta), de pessoas bens – bons e maus, como é inteligível.

A revelação que tenho para apresentar-lhe esta:

A minha mulher, proporcionou a morte “assistida” a um rato.

Por saber que hoje, os animais valem tanto ou mais do que as pessoas, fiquei irritado e pesaroso com o acontecido! Daí, resulta a causa da presente acusação.

Argumentou ela, que os ratos são como os políticos; onde entram só fazem estragos. Roem tudo o que lhes aparece pela frente, mijam em qualquer lado mesmo com sentina por perto, e concedem, umas “caganas” por tudo quanto é sítio, como indigna gratulação pela franqueza da nossa “franca” hospedagem - forçada.

Eu cheguei a vê-lo por uns fugidios décimos de segundo. O ratito até era muito lindo| “redrôlho”, com chicha suficiente para aguçar mais o apetite a qualquer gato ranhoso esfaimado, que fosse de outra extrema-esquerda e se estivesse borrifando para as doutrinações partidárias felinas.

Sem dar nas vistas, mas deixando sinais da sua estadia, foi andando lá pelo quintal, armado em lorde, como se o condado fosse pertença sua. Durante o dia, o malandreco devia proceder ao confinamento por causa (penso), do COVID-19, (como implora, e não como a lei “manda”), lá por detrás das plantas e vasos por ali dispersos, certamente refastelado, a dormitar, enquanto digeria alguns grãos de trigo - há ratos são mais espertos do que as pessoas e têm a noção de que o COVID, mata. Bem, isto não invalida que não hajam pessoas “erradamente” tituladas de ratos, mas mais espertas do que estes cinzentos e “amorosos” animaizinhos. Olhe, basta fazermos um périplo pelo mundo da política para nos certificarmos da presença, não de ratinhos, porém de destruidoras ratazanas, assoladas por uma grande voracidade no desfastio dos seus interesses próprios. É verdade! Fico espantado! esfomeado

Mas, continuando a descasca (denúncia); depois, quando tudo já dormia, enquanto algum grilo ou mocho cortavam o profundo silêncio da mudez da noite, ensolarada pelo brilho diáfano do luar, o sacana saía (presumo), do seu sítio habitacional, e vinha promover alguns estragos, e disseminar através das suas mijadas uma das doenças mais perigosas para as pessoas (que politicamente pouco interessam), vulgarmente conhecida por leptospirose (pode informar-se se desejar, que é mesmo perigosa).

Por estas e outras razões, com as quais, para lhe ser franco, “não concordo muito bem”, a minha corajosa esposa, resolveu proporcionar ao animalzinho umas apetitosas refeições, decerto, gostosas, designadas por trigo-roxo, que decididamente o enviaram para o outro mundo, que não sei onde se situa, mas o certo é, que deixou de haver sinais de rateirice.

Ora eu, não devia estar aqui a fazer-lhe esta denúncia, porque o crime foi executado pela minha “dama de companhia” de uma a vida; porém, contrariando a filosofia da minha esposa e  tendo em conta que para o partido que lidera, (PAN), os animais aparentam fruir de mais valor do que as pessoas, (pelos menos, na minha ignorância, assim o entendo), queria pedir-lhe que cascasse com as “chancas” aí no tablado parlamentar, para que fosse congeminada uma lei que tutelasse a multiplicação e vivência desses animaizinhos, que até têm alguma piada, apesar dos estragos que causam e das maleitas indesejáveis que podem derramar sobre os portugueses. A vida é assim!?

Estou até convencido, que dentro desse hemiciclo onde em várias ocasiões o Sr. arrazoa as suas “produtivas” opiniões, deve haver muitos, devido à existência do mobiliário em madeira, que, por causa da sua “engelhada” antiguidade, deve ter mais buracos e bolor do que um queijo, onde eles se acoitam e podem fornicar e vicejar, apesar da imposição de relativa liberdade “monástica”. Para eles, peço liberdade absoluta. Neste sentido, carecem é de tutela. Debata-se a favor da emancipação da rataria.

Apesar da minha denúncia, que não devia ser feita, não sinto tranquilidade absoluta na minha consciência. Estou a boiar numa instabilidade de contrição.

Sabe, eu “tenho bastante apreço” por eles”! Mas, reflectindo bem, a minha esposa é bem capaz de ter razão.

Sendo eu já velho e apanhado da mioleira, tenho dúvidas quanto à realidade do meu raciocínio; deixo por isso, o meu rogado de protecção ou exterminação, sujeito ao brado da “rectidão” da sua consciência.

É a única via que tenho de aliviar a minha.

Queira desculpar-me.

 

O DELATOR.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 22/07/2021

http://antoniofsilva.blogspot.com/

    

Obs:

Não sou a favor do AO90.     

 

 

quarta-feira, 14 de julho de 2021

UTOPIA, O PARAÍSO DOS INFELIZES

 

O Paraíso de um tolo,

 é o Inferno de um sábio.

(Thomas Fuller)

 

UTOPIA, O PARAÍZO DOS INFELIZES.

(Conceitos “inconvenientes”)

 


Estes tristes, exibem-se como pessoas de bem, muito orientadas, de “esmerada venerabilidade”, pejadas de salamaleques e “boas práticas” na convivência (forçada); no final, não passam de uns calhordas, uns pobres de espírito, que até são capazes de abandonar a família que constituíram, atraiçoar os amigos, e até, cuspir na cara dos seus progenitores, se lhes der na real gana.

Esse paraíso irreal que ornamentam com determinadas frases ou textos completos, que, embora aprontem a identificarem-se com o seu fundamento, este não tem nada a ver com o próprio vulto que pretendem atribuir à “luminosidade” fusca, do seu ensombrado temperamento. Como tal, é fictício.

No interior da moleirinha de muitos, rainhas, princesas, amores da minha vida, pajens, cavaleiros e trovadores, são os ocupantes de muitos “afectos” não sentidos, que, não obstante a grande vulgarização em algumas zonas mais inclinadas à patetice e à simulação, compõem os trilhos mais curtos para a fuga à realidade que eles sabem existir, mas não ousam aceitar. Patetas!

O fingimento empedernido, é hoje a particularidade mais utilizada e mais bem acolhida socialmente por este mundo demente. Não deixa, contudo, de não ser uma aceitação também assente numa representação digna de louvor, porque existe uma reciprocidade análoga entre aquele que dá e aquele que recebe. Ambas as partes procuram, ainda que a contragosto, elogiarem-se entre si, mesmo sentindo que não são verdadeiras as suas emoções, mas apenas porque sim, ou porque é da praxe, é usual, é tendência e/ou dissemina uma fragrância de aparente dilecção e afecto. É a maneira mais sublime e elegante de meio mundo, ludibriar a outra metade.

Considero isto uma reciprocidade clara entre a fingida “vontade” de dar e o anseio doentio de receber – mesmo que seja “bosta”. Conquanto que entre ambos, exista uma retribuição de facto, está tudo certo; se tal não acontece, toda a estrutura comportamental cívica fragmentar-se-á e sai bojarda pela certa. Modifica-se a atitude, parte-se o verniz das unhas, solta-se a língua, e irrompem tempestades de palavrório sem pés nem cabeça, num frente-a-frente, em surdina, ou transmitido por arautos linguareiros – que não faltam por aí aos montes. Esta é a realidade.

Mas é neste “paraíso” idealista que temos de viver e aceitar, muitas vezes “fechando os olhos da mente”, para podermos conviver sem grandes socalcos nos carreiros naturalmente programados da nossa “curta” existência - mesmo assim!?

O Diabo está sempre a tecê-las e lá vai a "monarquia" na enxurrada.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 14/07/2021

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Nota:

Faço por não usar o AO90

 

quinta-feira, 8 de julho de 2021

ABENÇOADOS OS GATUNOS

 

O correctivo certo, para ladrões, vigaristas e corruptos,

é o confisco dos seus bens,

na proporção das suas dívidas ou prejuízos

causados pelas falcatruas cometidas.

(A. Figueiredo e Silva)

 

ABENÇOADOS OS GATUNOS

 

Sejam eles de colarinho branco e gravata de seda, ou de sapatilhas sem atacadores e calças rotas. Vivam eles num sumptuoso palácio ou numa miserável choupana. Andem eles a “auto-butes” ou ao volante de um Ferrari. Comam eles um bom bife regado com champagne ou uma sandes de pataniscas com um “martelo” de tintol. Em qualquer dos casos, são tratados com muito carinho e condescendência por juízes, psicólogos, sociólogos assistentes sociais e até por economistas, pois são os únicos que neste mundo os compreendem. (?).

Temo-los a serpentear no meio de nós e a fazer das suas, encontrando sempre alguém, por certo lerdo da cabeça, ou apenas com a intenção de manter o seu posto de trabalho, que lhes arranja patéticas desculpas na consistência da sua defesa, isto é, até que a sorte do gamanço um dia lhes bata à porta - que eu desejo que nunca tarde muito.

É tudo gente boa e o que fazem é sempre impulsionado por recalcamentos da meninice, infância ou adolescência, que deixam marcas no seu ego, levando-os a tal, como decidida vingança à sociedade, que não tem culpa nenhuma. Abençoados por isso!

Abençoados também quem assim os defende, pois estão no caminho certo até que a primeira curva não desfaça ou um supositório lhes atravesse a massa cinzenta.

Abençoados os gatunos, porque conseguiram “deformar” a lei a seu modo. Roubam hoje, e, se forem apanhados, na mesma hora são soltos, para continuarem na azáfama subtrativa; os que forem julgados serão absolvidos ou o processo é arquivado por prescrição (propositada, claro). Aos intocáveis, como é da praxe, não lhes acontece coisa nenhuma.

Abençoados os gatunos. Porque sem eles já não vivíamos descansados - e com eles muito menos -, constrangendo-nos a andar com um olho no burro e outro no cigano (mesmo assim!?)

Abençoados ainda, porque só roubam a quem tem e a quem é burro, interpondo assim um equilíbrio mais justo na riqueza social. (?)

Abençoados sim, porque nos obrigam a ter sempre o “stock” renovado com a reposição daquilo que nos vão pilhando, e a renovarmos as nossas linhas de pensamento, e, naturalmente, a nossa maneira de agir.

Abençoados sejam pelo seu sacrifício, pois não é fácil trabalhar dia e noite, num gabinete ou na rua, enquanto o corpo e a mente do patego dormem; de dia por distracção ou ganância do visado, ou a qualquer hora, descaradamente, mesmo na sombra das barbas da polícia – acontece.

Abençoados também porque mantêm muitos postos de trabalho em actividade, inclusivamente o deles, e indirectamente dão de comer a muita gente “honesta” – nem sempre!?

Abençoados mais uma vez pela sua espantosa coragem vivacidade e persistência, pois só assim conseguem levar a água ao seu moinho e obrigam-nos a ser mais preventivos e argutos, mantendo-nos o cérebro livre de teias de aranha.

E mais uma vez, não só sejam abençoados os gatunos, mas também todos aqueles que por força das circunstâncias deles dependem, sendo motivo de suficiente justificação para a sua existência dessas “almas boas”.

Ah!... Já me esquecia. Abençoados todos aqueles que lhes aparam os golpes e os defendem, uma vez que ficam a fazer parte dessa exemplar e autêntica famelga.

Abençoados ainda, porque, com “muito sacrifício”, fazem pela vida. Só por isso, devíamos metê-los a todos na choça, onde eles poderiam passar umas férias comendo de borla, vendo televisão e praticando desportos, com tempo ainda, para meditar sobre os próximos roubos ou falcatruas.

Tudo, à nossa custa.

Abençoados sejam.

Bem o merecem.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 08/07/2021


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            Nota:

Faço por não usar o AO90.

 

terça-feira, 6 de julho de 2021

O "BARRACO" E AS "BARRACADAS" DO TIO JOE

 

A ambição desenfreada,

mais tarde ou mais cedo, leva ao abismo.

(A. Figueiredo e Silva)

 

 

O “BARRACO” E AS ”BARRACADAS” DO TIO JOE

 


Ó Sr. Dr. Juiz, isso não se faz! Então o Sr. vai aplicar uma pena de fiança tão gravativa a um aborígene que diz não ter “eira nem beira”?! Apenas um “barraco”?!  

A justiça em Portugal é levada da breca! Olhe que isto dá que pensar! Ponha-se a pau, porque Deus não dorme (só à noite), e o Sr. Juiz vai parar ao Inferno – que os crentes dizem existir no outro lado, mas que eu, com o meu cepticismo, penso que seja cá.

Onde irá este “pobre indigente” arranjar cinco milhões de euros para fiança, se só dispõe de um “barraco”, a que chama garagem?! E nem ponho de parte, que não possa ser a sua habitação permanente. Tadinho!

Não conheço o “barraco”, mas idealizo que deve ser uma “garagem” semelhante ao “barracão” dos Grandes Armazéns do Chiado (e parte de algumas “garagens” subjacentes), situadas na cidade olissipense. Caramba, é obra!

Por tudo o que tem vindo a lume, sou levado a pensar desta maneira, não é!? - Desculpe-me, Sr. Dr. Juiz - se a lei o consentir.

Então… para lá encafuar toda a família, “as velhas e fracas” viaturas que tem, os “cães”, os papagaios - e outra “passarada” que eventualmente por lá possa pousar para bebericar entre gorjeios e arrulhos -, as pulgas dos “cães” que agora o perseguem, lhe aguilhoam a mioleira e lhe roubam o sossêgo.

Devido à “pequenez” do espaço, é natural que até lá albergue algumas obras de arte, que, talvez por terem sido conseguidas em noites de lua nova, ainda não viram o raiar do sol nascente, nem a sombra negra e implacável da AT (Autoridade Tributária), por norma bastante sagaz para com os necessitados – que deve ser o caso do cidadão “alvejado” pelo critério lógico de V. Exa, em face dos factos que apurou e em conformidade com a lei.

Para ser franco, o que mexe comigo é o homenzinho garantir, com todo o pragmatismo (lírico, quem sabe), e descontraída simplicidade de ratazana, que não deve nada a ninguém.

Acredito na pertinência das minhas observações, porque, Meritíssimo Juiz, deixe-me que lhe diga; para atribuir uma “abonadela” de cinco milhões de euros para o “pássaro” (ou passarão,) usufruir de alforria para “aboar”, ainda que somente à volta do ninho, o “barraco”, “versus”, garagem, deve ter um valor superior a esse montante, não é?! Pelo menos é essa a concepção que cá dentro canta.

Bem, mas à parte disso, como o “pobrezinho” foi uma figura de grande influência, é natural que tenha alguns amigos-do-coração que o socorram nesta “refrega”, como teve o “nosso amigo” (salvo-seja) José Sócrates, (por mim, “muito admirado”) que, graças a isso, ainda anda por aí a passarinhar descontraidamente e a exibir a alvura da sua dentição.

Se por acaso for traído nessas amizades – a ingratidão por vezes a isso coage -, venho suplicar aos portugueses em geral, que vão deixando alguns euros no seu desgastado boné que no chão estende e que outrora foi abrigo de ratos, para o ajudar a conservar a sua liberdade fora da gaiola – seja ela vidrada ou gradeada.

Sr. Dr. Juiz, isto não se faz “ó Tio Joe”, bolas!?

Mas… dura lex sed lex.

Apoiado.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra,05/07/2021

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            Nota:

Faço por não usar o AO90.

 

 

   

 

sexta-feira, 2 de julho de 2021

"APURAR"

 

 Penso, logo existo.

(René Descartes)

 

Há quem exista e não pense;

logo, é acéfalo.

(A. Figueiredo e Silva)

 

“APURAR”

(Aos portugueses em “apuros”)

 


Entre o possível dos “apuramentos” e a realidade das complicações, não vou deixar passar em branco a oportunidade de lavrar algo sobre o vocábulo APURAR, que com espirituosa “eloquência” e abusiva repetição, tem vindo a ser empregue como muleta amenizadora de dúvidas, quando “certezas não existem” (ou se presume tal), mas que não tem conduzido a lado nenhum. Os apuramentos apenas ficam na caçoila do molho expectação marinar, até que algum tempo passe, e todo acidifique, e seja arquivado “ad aeternum” por expiração temporal – na maioria dos casos, intencional.

É um vocábulo, que, pela sua repetência excessiva mete repugnância ao mais inerte defunto; revitaliza e assanha a dolência do mais pacato cidadão, pondo-lhe os nervos à flor da pele, porque, do APURAR, apenas existe o verbo e nada mais para além disso.

Por qualquer coisa, vai-se apurar, vai ser apurado, vamos apurar, estão a apurar, está em apuramento; e assim consecutivamente, até à morte certa do verbo APURAR.

O que é de APURAR, raramente ou nunca é apurado; os que sob apuramento, por “legítimas” e requintadas artimanhas, falseiam os procedimentos do APURAR, mediante a criação dos mais diversos modelos de incertezas, para conduzir o tempo processual ao cadafalso do “in dubeo pro reo”, onde vai ser guilhotinado sob o gume afiado da lâmina do ARQUIVE-SE POR PRESCRIÇÃO; enquanto o povo geme, espremido pelas tarraxas do apenas “promissor” e longínquo APURAR.

Mas este tão vulgarizado APURAR, não é aplicado a qualquer reles pilha-galinhas. Não! Para a “escumalha” não existe o direito, - mesmo num estado de direito – ao uso do verbo APURAR. À “ralé”, é-lhe aplicada a coima (nome amoroso para multa), não se obstam de penhoram-lhe o calhambeque, ou até o penico, ou vai mesmo dentro, sem apelo nem agravo, como prémio de consolação – isto está a ficar cada vez mais bonito!

Tenho vindo a notar que, ao APURAR, só têm direito as pessoas mais incompetentes, mais trapaceiras e mais irresponsáveis deste país; as mais “favorecidas” (dubiamente), no mundo pedregoso – e manhoso - dos estratagemas, onde reluz o filão diamantífero que as conduz à opulência indevida e a uma liberdade quase absoluta, à custa do alheio.

Contudo, se o verbo APURAR for “pronunciado com todas as sílabas”, (há peritos nisso, desde que não lhes decapitem o justo lugar), toda essa abastança e toda essa liberdade, podem converter-se em ruína e em dependência, apoucadas pelo manto da clausura e da vergonha.

Para que tal suceda, nunca a verdade deve ser emudecida para que a realidade não possa ser encoberta; porque, se o APURAR não acontece como é devido, quem fica em apuros somos nós, OS PORTUGUESES; que uma podre oligarquia manda, comanda e “apura”, sem nada APURAR.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 02/07/2021

http://antoniofsilva.blogspot.com/

Nota:

Faço por não usar o AO90.