terça-feira, 9 de agosto de 2022

DIARREIA COGNITIVA

 

Para quê preocuparmo-nos com a morte?

A vida tem tantos problemas que temos

de resolver primeiro.

(Confúcio)

 

“DIARREIA” COGNITIVA

 

    O HOSPITAL é o derradeiro recurso contra a morte quando ela começa a manifestar a sua vontade patológica de liquidação - se não for de surpresa. Os achacados que lá entram, aos ais, abananados da mona ou a tremer, dependendo das causas, nunca podem prever se saem pela porta por onde entraram ou se pela traseira, com uma rolha a bloquearem-lhes o esfíncter – não vá o Diabo tecê-las e borrarem a “escrita”. Um facto é garantido; saírem, saem sempre. Porque são impróprios para consumo e muito menos para colecção.  

Se saírem pela traseira, é uma “oportunidade” única que só têm a chance de experienciar uma vez. Se saírem por onde ingressaram ainda podem ter muitas possibilidades de, mesmo que atanazados por algum sofrimento, aturarem este mundo-cão e selvagem, de princípios éticos danificados, que a todo o custo lhe apetece rapinar a parte material, e também lhes subtrair o descanso do lado afectivo, através de imposições anti-moralistas, que o ser humano não comporta, mas é coagido suportar.

Ao menos, o finamento, apesar de ser indesejado, resolve-lhe os problemas de uma vez por todas e só lhes pode extorquir um valor que parece ser o bem mais precioso que tem; a vida. Mais nada.

Esta condição universal, mais não é do que uma passagem, que num piscar de olhos se volatiliza e nunca mais eles voltam a relembrar; da mesma forma, que nunca se lembraram de haverem nascido. Esta dualidade de raciocínios parece diferente entre si, contudo, não deixam de não ser equivalentes; tanto no ponto de chegada como no cais de partida.

Há porém um acontecimento que não se arreda da realidade; esquecemo-nos e de que o nosso corpo vai desvivendo a cada segundo que passa; essa duração é um factor contabilizado com rigorosa precisão no relógio Universal da Natureza e entra no livro da existência como um débito da vida, cuja indemnização vai ser coercivamente liquidada com o Fim, ou oferecida como o Princípio!?

Por considerar-me humano e estar sujeito a erro na apreciação, quero, com natural modéstia, admitir que a minha sabedoria não é infinita, consolidando as minhas dúvidas nas conclusões do texto que acabei de compor.

Estas linhas e sua livre interpretação, ficam ao critério de quem as lê, para subsequente busca da razão, que eu, por “muito” que deseje, não consigo obter.

Mas, pensando melhor, mesmo com todos os contratempos que ao ser humano possam surgir, julgo ser preferível sair d’O HOSPITAL pela porta da frente – e sem “rolha”!?

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 09/08/2022

 http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Nota:

Faço por não usar o AO90