quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O PROFESSOR

Esta serradela já foi ortografada há nove
 anos e nem por isso envelheceu, graças à
“hiperactividade” degenerativa carente de
uns  tabefes – controlados, como é óbvio.
A.     (Figueiredo)


O PROFESSOR*

É certo que não vou aqui andar feito Diógenes, com uma candeia na mão, à procura daqueles que merecem ou não estas palavras, mas reconheço no entanto, que muitos não são dignos delas, mercê da sua marreca pedagogia e da sua postura em relação aos alunos, originado que estes, por um lado não compreendam o que lhes é transmitido, e por outro tomem o freio nos dentes e se apossem de um desregramento que atinge os limites da razoabilidade.
Podem juntar-se todos os psiquiatras e neurologistas, sociólogos e assistentes sociais, numa tentativa vã para justificar o injustificável, porque as suas bonitas teses, vazias de conteúdo, nada justificam; antes pelo contrário agravam mais a situação de insubordinação e a falta de respeito que actualmente se vive nas instituições de ensino, desde o primário até à universidade, onde o desrespeito abusivo é um facto dos nossos dias, cujas provas são de total irrefutabilidade.
Não venham os “entendidos” dubiamente armados de puritana compreensão, porque não foi neles que o “arganel” foi introduzido, imputar as culpas de tudo o que tem vindo a acontecer nas instituições de ensino, onde o professor é por vezes vexado e agredido, à descriminação social e à instabilidade familiar, porque isso, para além de ser caricato, só vem dar força aos novos energúmenos em fase de germinação e impulsionar os que já o são, a fazerem pior.
Ainda há bem pouco tempo numa das minhas crónicas, mencionei uma frase de Nietzch, “o medo é o pai da moral”. O facto é que hoje ninguém tem medo e por isso a moral está decadente. Se os puritanos da filosofia do entendimento, nas suas intervenções televisivas e escritas, procuram justificar todas as atitudes dos desvios de personalidade que originam pulsões nefastas nalguns elementos constituintes da nossa sociedade, então é lógico que acabem de vez os castigos, porque ninguém faz nada de bom ou de mau sem uma razão de causa. Assim sendo existe uma equivalência absoluta entre o bem e o mal. Neste caso, que reine a anarquia. Mas que o resultado dessa mesma anarquia ataque incisivamente aqueles que a defendem, que eles mudarão de ideias a curto prazo.
O problema actual existe por causa da existência do “culto” à impunidade, onde fiéis crentes tudo compreendem, ou fazem por isso, porque as coisas não se passam com eles, e por outro lado têm um posto de trabalho a assegurar; eu compreendo-os, todavia não concordo com as suas alegações!?
Actualmente quem dá o pão, já não dá, ou não sabe dar a educação e por vezes nem uma coisa nem outra. Contudo, isto não deverá ser motivo para justificar a isenção implacável do castigo sem qualquer condescendência, que evidentemente deverá obedecer não só ao delito cometido, mas também a uma série de antecedentes que normalmente precedem a sua eventual consumação.  
As instituições de ensino, no que respeita a comportamentos, são em parte a continuidade daquilo que no seio familiar é ensinado, não descorando porém, que independentemente disso, cada um também sabe o que é bem e o que é mal.
Agredir um professor ao ponto de o mandar para o hospital, como recentemente aconteceu!? Na minha cabeça, esta atitude não tem lugar para desculpas. No meu tempo, atitudes menos “poluentes” do que esta, resolviam-se com duas ou três chapadas no cangote, dadas por um Director ou até mesmo por um professor, que até davam para ver a Ursa-Maior; e chegado a casa, se apresentava queixa comia mais duas ou três. Era assim que as coisas andavam direitas.
Presentemente, com toda a compreensibilidade doentiamente vivente, não é permitido puxar a orelha ao menino porque ele fica traumatizado e o professor é condecorado com um processo disciplinar por agressão indevida. E os pais, todos contentes, de mãos dadas com as leis governamentais, até alinham na fita do menino, ajudando a linchar a autoridade do professor, esquecendo-se de que país com ensino defeituoso e onde não existem regras é país com espondilite anquilosante cívica, que lhes servirá de futura enxerga onde jamais conseguirão descansar a consciência do seu poroso esqueleto.

António Figueiredo e Silva
Coimbra
30/03/2006
www.antoniofsilva.com

*Não sou professor, nunca o fui, mas
compreendo as razões da sua desmotivação.




terça-feira, 29 de dezembro de 2015

VENTUROSO ANO NOVO

VENTUROSO ANO NOVO

Apesar do meu remanescente cepticismo sobre o futuro, gostaria de desejar a todos os meus amigos e àqueles que, espalhados por todos os continentes, lêem as minhas escrevinhações, um Novo Ano Melhor do que o passado, praticamente já volatilizado no nevoeiro do tempo!
E principalmente às pessoas de boa índole, que mantêm entranhada no seu ser a virtude da esperança - aminha anda de rastos – porque, ilusoriamente esperam uma metamorfose benéfica – bem-haja quem assim pensa - na qual piamente não acredito.
Apesar de saber que sonhar é também uma forma de viver, não desconheço contudo, que muitos nasceram e morreram somente a sonhar.
Era meu anseio pintar neste “caixilho” um mar de rosas com um pincel de optimismo, mas não encontro motivos para o fazer; ou então, só realço a parte negra, que parece ser o maior quinhão da maleita que está a putrefazer o Mundo, provocando a imersão dos valores cívicos, o diapasão da harmonia mundial.
Ninguém se entende!
Mas, apesar da minha falta de crédito numa expectativa melhor, não é motivo para eu não o anseie deseje a todos os que crêem…
UM BEM-AFORTUNADO NOVO ANO.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 29/12/2015
www.antoniofsilva.blogspot.com



domingo, 27 de dezembro de 2015

SE NÃO MAIS...



                                                                                           Nada é impossível para aquele que persiste.
(Alexandre o Grande)

SE NÃO MAIS…


Para despoletar uns cestos a abarrotar, não de bagos, mas de contentamento, num lagar de prometimentos que a conveniência obriga a fingir, não deixando por isso, que a coisa não seja séria para nós, portugueses.
Aí o temos, de marmeleiro na mão, decidido a transformar o maçador e repetitivo ambiente pré-eleitoral, uma contenda por norma sórdida e por vezes irritante, num arraial alegre e tipicamente minhoto, onde não faltarão as sinceras marteladas, construídas com palavras de plástico, para evitar o cheiro a alho-porro, caramba!
E como até à lavagem dos cestos ainda é considerado tempo de vindima, vamos lá a ver no é que isto vai dar. Oxalá que sim. Se me perguntarem o quê, não sei!?
O Tino de Rans é o maior! É detentor de uma preciosa articulação vocal onde a velocidade das palavras e gafanhotos ultrapassam em muito os relatadores de futebol – do meu tempo, claro – em que no fim se tornava imperativo espremer o microfone para retirar-lhe o adubo, alimento predilecto de incontáveis bactérias, condenando-as ao óbito por falta de assistência – de vez em quando os “humanos” também usam esse método; propositado ou por negligência, não me cabe averiguar.
Bem, o que é certo, é que no TINO, perante a sua modesta humildade pode notar-se uma sublime sinceridade, que poucos usam nos nossos dias – até porque a não têm; ele consegue, por palavras simples mas bem compostas, entabular uma oratória que todos compreendem e lançar-se sem papas na língua, na liça renhida em defesa dos seus ideais, e, como ele próprio atesta, em defesa dos interesses daqueles que confiaram na sua ilustre pessoa (?). É de garba valentia, porra!
A sua forma de expor as ideias é única e inalienável. É por considerá-lo uma avis rara – no bom sentidoque eu me lembrei de urdir um “cesto” vago das vindimas, não cheio de uvas vinhateiras mas de palavras de apreço, não repletos de vocábulos de chacota mas de incentivo à sua luta na qual piamente acredita.
Estou ansioso por vê-lo em abrasivo debate com Paulo Morais; acredito assistir a uma peleja encarniçada entre o que poderemos considerar, por analogia, a bíblica luta entre David e Golias.
Viva o TINO DE RANS.
TINO DE RANS ao poleiro.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 26/12/2015
www.antoniofsilva.blogspot.com
  



sábado, 26 de dezembro de 2015

A JUSTIÇA HÍBRIDA QUE TEMOS


A JUSTIÇA HÍBRIDA QUE TEMOS

A voz do pensamento e da razão, nunca deviam ser abafadas, contudo, a censura sem sensatez está a fazer o seu triunfante regresso ao nosso país, criando um lago sem ondulações, sob o qual, escabrosa escumalha sem senso, bolina ao sabor das suas ambiciosas conveniências, rilhando e triturando tudo o que lhe possa impedir o caminho para o seu duvidoso sucesso.
Assim, a justiça neste ambiente amniótico poluído de interesses, em que a ambição materialista constitui o pilar fundamental, é infeccionada por forte ambliopia em relação ao dever da imparcialidade; pode ser vesga, cega de um ôlho ou completamente cega, dependente das circunstâncias que alimentam as decisões que na subjectividade que a comtempla são edificadas.
   Seja pelo pavor aos dominadores ou devido à inépcia ou fraqueza espiritual de quem analisa, bastantes vezes o mais certo é saírem os prevaricadores ilesos e materialmente compensados e os ultrajados “passados a ferro” e atirados para o cadafalso da incredibilidade.
Verifica-se que, em várias ocasiões, para aplicação de sanções coercivas emanadas de uma mesma lei, existem vários juízos com pontos de vista diferentes, estados de espírito diversos e índices de autoprotecção à impermeabilidade, também diferenciados; para quem não é mole do miolo, apercebe-se que neste campo, o relvado aparente da razão está minado por uma sujidade caciquista cuja influência exerce grande pressão na tomada consensual das decisões.
E é nesta atmosfera putrefacta que concava também, além dos grandes centros urbanísticos, as cidades “rurais”, onde a inconstância fumega sobre os valores dos apadrinhamentos e compadrios que a apreciação se torna doente, fazendo com que, muitas vezes a “justiça” exponha o esqueleto cavernoso, cinzento e medonho da injustiça.
Não é propriamente a honra que comanda esta atmosfera, mas vingança - mácula incapacitante do bom senso – e a avidez materialista com o rumo virado enriquecimento fácil, a falta de carácter, ética e moral, depauperadas ou inexistentes e o recalcamento do intelecto daqueles que, apesar de terem tudo, não têm nada – nem miolos – têm vindo a subsidiar os elementos transformadores da nossa democracia numa ditadura de contornos Inquisitoriais ou Pombalinos, onde muitos inocentes são cozinhados no panelão da insensatez para bel-prazer de ramelosos srs. que se alcandoram de capos, sem vergonha morreu à nascença.
Cheira-me a fumaça!
As fogueiras da Inquisição há muito que se apagaram, mas quer parecer-me que as cinzas ainda fumegam, atiçadas por abusos de, ou influências no poder, que injectam um enorme quinhão de hibridez na imparcialidade analítica, mas…
Infelizmente é a justiça híbrida que temos.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 22/12/2015
www.antoniofsilva.blogspot.com



  






RESCALDO

RESCALDO
(Mais um Natal passado)

Desta vez, como não escrevi nada sobre a quadra festiva - passada - resolvi fazê-lo dia do rescaldo; é quando o pensamento não é afectado pela euforia festiva, por vezes excessiva, em que a realidade das incongruências da vida vêm à tona para nos rememorar que o Natal foi somente ontem; mas que devia sê-lo todos os dias.
É uma quadra, ou um período, como queiram intitular, que, se procedermos à sua dissecação analítica, feita com consciência despretensiosa e fertilizada com simplicidade natural, podemos chegar à conclusão de que no meio de toda a exaltação, subsiste também uma abonada dissimulação emotiva.
Desejam-se muitas felicidades, muitas prendinhas, muita saúde e bem-estar, muita paz e harmonia, colorindo com “tudo o que de bom existe sobre Terra”.
A meu ver, este sentimento tem vindo a banalizar-se com o correr dos tempos e à blogosfera. Deseja-se tudo a quem se conhece e a quem se desconhece, o que por si, não vou dizer que não seja uma boa atitude, contudo, peca por falta de sentimento afectivo. Quer dizer: o desejo está expresso; o afecto é que muitas vezes cai no charco da incerteza.
Perante isto e ainda no rescaldo, os pobres, esquecidos, voltaram aos seus “refúgios”; pardieiros, dormitórios cativos debaixo das pontes ou encolhidos sobre uma enxerga de cartão puído pelo uso e cobertos com “roupa confeccionada” com mesmo material; “acomodam-se” nas soleiras portas dos prédios, nas estações ferroviárias e em outros sítios abandonados pelo aconchego, enquanto a sociedade dos “bons” desejos natalícios, continua no seu andamento rotineiro carregando um ar frio onde congelam a lembrança natalícia e vão passando a assobiar para o lado, até ao próximo Natal que será sempre no ano seguinte.
Durante o resto do tempo, treme quem tem que tremer, passa fome quem tem comida à míngua ou morre à míngua quem a não tem.
 Vem outra época natalícia. Aí sim, a comunidade dá novamente azo ao seu fingido - para muitos - filão puritano, que lamentavelmente só acontece de ano, a ano e recomeça o a expor o seu dom caritativo, mas, sol de pouca dura…
“PORQUE É NATAL”!

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 25/12/2015
www.antoniofsilva.blogspot.com





segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

OS HERÓIS NÃO MORREM (in blog da Associação de Pensionistas e Reformados- APRE)

OS HERÓIS NÃO MORREM…

(…) vós sois o sal da terra;
O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando
a terra se vê tão corrupta como está a nossa,
havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, 
ou qual pode ser a causa desta corrupção?
Ou é porque o sal não salga, ou porque 
a terra se não deixa salgar.

(Padre Antônio Vieira em: “O Sal da Terra”.

Poderia eu não dizer nada sobre tal assunto, uma vez que sobre ele já jorrou muita “tinta”; baralhou
muitas ideias e ajustou outras, dividiu opiniões judiciosas por diferenças doutrinárias, agoniou o estado de espírito de muitos e saciou o entendimento defeituoso e mórbido de outros; porém, eu não posso ficar quedo perante a voz da minha consciência, se não vomitar o que me vai na real gana, porque, no monte de muitos milhares de revoltados, eu sou um deles e não me é alheio que por vezes o bom senso é infectado pela salubridade apodrecida de egocêntricas exibições.

Se assim não fosse, jamais teriam sido impressas as palavras tão depreciativas e deprimentes “a nossa Pátria foi infectada pela já conhecida peste grisalha”.

Pode ter parecido, a quem as redigiu, que elas não iriam ter um eco tão retumbante e que certamente ficariam dissolvidas pelo meio do palavreado inserido no artigo “Portugal de cabelos brancos”. O facto é que isso não aconteceu; antes pelo contrário, promoveu um levantamento de indignação e revolta na “velhada” que deixou marcas profundas de indignada tristeza, razão pela qual essas palavras ainda hoje são recordadas e certamente ficarão na fila dos raciocínios penalizados pela censura, que ficarão a fazer parte do pasto da história; não como um louvor à inteligência, à sensatez, mas como uma sentida reprovação da “grisalhada”, direccionada a uma desvalorizada consideração latente em algumas cabeças da nossa, vá lá… ”fidalguia”, onde o nível de raciocínio anda, e não era esperado andar, abaixo do da “plebe”.

Entre os que defenderam com unhas e dentes a integridade, em seu nome e em nome de todos os grisalhos deste país, espadeirando com a coragem sagaz, fria e costumeira da sua análise e a força severa e precisa da sua pena, contra as garras da afronta, houve uma figura que se destacou pela audácia com que lutou contra a lógica depreciativa daquelas célebres palavras, minadas pela infelicidade analítica de quem as escreveu.

É a essa figura de trato simples mas de opiniões austeras que vagueia no nosso “rebanho” colectivo, e que em consequência da sua luta na defesa honradez, dos “peste grisalha” deve merecer todo o nosso apoio, uma vez que os “lobos”, salivando de raiva, lhe querem desmembrar a razão, com recurso à trama do nosso sistema judicial, que é frágil para uns e intransponível para outros, devido à subjectividade existente na sua interpretação regulamentar.

É pois, a este “Crónico cronista”, que há muitos anos vagueia no mar imenso do dos caracteres ortográficos, fazendo deles o seu florim de esgrima em defesa do que pensa não estar dentro da ética e do civismo, que eu quero, em meu nome e em nome e em nome – se me é permitido – de todos os elementos da “peste grisalha”, aquilatar os meus elogios.

…Porque os heróis não morrem mas ficam para a história, esta criatura tem um nome: António Figueiredo e Silva.

Dixit.

António Valente
(Escultor)
Coimbra, 2/12/2015

Nota da administração do blogue: O Sr. António Figueiredo e Silva, é o autor da carta intitulada “A PESTE GRISALHA” (carta aberta a um deputado do PSD), que tinha como destinatário o deputado Carlos Peixoto, autor da célebre frase "A nossa pátria foi contaminada com a já conhecida peste grisalha", e que está a ser em julgado no Tribunal da Comarca de Gouveia, acusado de Crime de Difamação Agravada, por ter escrito a referida carta.

domingo, 13 de dezembro de 2015

CARTA DE UMA TOUPEIRA

Exmo/s Sr/s
Como estamos em tempo húmido e a comida é mais abundante, se bem que seja necessário cavar muito para que não falte. Hoje, resolvi empregar um pouco do tempo que tenho disponível para endereçar-lhes esta carta, em nome de toda a família toupeiral onde faço questão de exteriorizar o nosso gozo, em sabermos que o/s Sr/s não percebem patavina do assunto, mas estão apostados em enfiar o barrete até às orelhas aos patinhos e aos incautos da V. raça, que fervilham de raiva, dominados por férrea vontade em promover a nossa exterminação; para isso, têm recorrido às mais variadas mezinhas, remédios, fumos, objectos cortantes, armadilhas e ultimamente, até vêem esquadrinhando e aplicando sofisticados sistemas electrónicos que emitem um som cavo de flauta de cana rachada, ao qual, depois de nos habituarmos ao seu compasso, até dançamos e descontraidamente adormecemos; toda essa azáfama para quê? Sois uns pobres diabos! Ainda não verificastes que essas charlatanices não têm sucesso?
Também desconhecemos qual é o motivo do vosso azedume contra nós!? Arejamos os vossos terrenos, tornando-os mais produtivos; damos cabo dos inimigos das vossas culturas, trucidando escaravelhos, roscas, lesmas, caracóis e até algumas minhocas. Não vemos motivo para tanto ódio. Reconhecemos no entanto, que as nossas cavernosas vias de comunicação através das quais transitamos e comunicamos entre nós e que fazem parte da nossa sobrevivência, muitas por vezes retiram o alimento às raízes de algumas das vossas plantas mais tenras, tornando-as débeis e supliciando-as à secura; mas por isto não vos deveríeis zangar, pois ainda vos sobra muito para vos alimentardes  se não fordes austeros, para aparvalhadamente investirdes no desperdício; por isso não deveis ter mais olhos que barriga.
Os indivíduos da nossa família dão à luz na escuridão, entre 2 a 8 crias, isto duas vezes por ano. Nós não usamos preservativos, pílulas do dia seguinte, nem fazemos condenáveis abortos; todos os que vierem aumentar a prol são sempre bem-vindos, tratados e acarinhados com denodado afecto.
Somos tantas famílias que vós, humanos, nunca conseguireis exterminar a nossa raça; deixem-se de pensar sobre o fim do nosso género porque isso não passará de um sonho; que queirais aldrabar os vossos clientes e vender todo o sistema de artimanhas, isso já é outro assunto; porém, não podemos descorar que os “canudos”, velha invenção vossa, que têm sido muito perigosos, tendo condenado muitos dos nossos ao encarceramento e a uma morte supliciante à fome, à sede, ao tórrido calor solar no estio ou enregelamento invernoso. Quanto àqueles electrónicos, que são postos a apanhar banhos de sol na cabeça para terem força musical, vendam muito; dão-nos música nas horas amargas e ajudam-nos a pegar no joão-pestana, para além de acalmarem os nossos bebés quando estão mais rabugentos. Esses não nos assustam!
Mas o melhor seria não serem parvos e deixarem-nos em paz.


                                                               A TOUPEIRA-MOR


António Figueiredo e Silva
Coimbra, 22/04/2015
www.antoniofsilva.blogspot.com


      

sábado, 12 de dezembro de 2015

CRISOPHRENIA…

Ou frenesim (inquietação) devido à crise.


Uma peça teatral amplamente bem urdida, apresentada por um grupo de cena amador, auto-denominado Circleuphoria, no passado dia 10 de Dezembro, no anfiteatro da Ordem dos Médicos, em Coimbra.
“CRISOPHRENIA”, não é mais do que a representação satirizada do sobressaltado frenesim em que estamos metidos, consequente da crise existente na sociedade portuguesa. É um epigrama a uma realidade espelhada no descontentamento colectivo ao qual estamos cativos, ou mais… agrilhoados. É certo, como da peça podíamos depreender, que com tenacidade e determinação, ainda que gemendo e chorando, cá vamos resistindo ao monstro actual: A CRISE.
Aquela crise pela qual temos vindo a apagar sem termos sido culpados, porque estes não existem – mas deviam existir; a impunidade desregrada é a causa primeira da sua inexistência.
Os “actores”, cujo trabalho foi feito apenas por carolice, “talvez para se esquivarem a impostos” que, em grandes fatias, vêm atafulhando as insaciáveis barrigas de muitos pançudos, conseguiram transformar um melodrama, de facto alicerçado numa realidade profundamente “submarinada”, da qual não vemos hipótese de emergir, para tomar um fôlego de confiança numa crítica alegre e cheia de vida, gozando com as “feridas” que nos estão a tolher o corpo e a alma.
O inserto da peça, que demorou cerca de oito meses a idealizar, imprimiu na assistência um ambiente de exultação, como panaceia à triste realidade social onde as interrogações navegam num mar de preocupações e de revoltas, em que a esperança, não acredita na esperança - praticamente já não existe; foi cerceada pelo desemprego em flecha, pelo ensino esconso, pela saúde com espondilose na sua assistência, pela carga dos impostos espremidos pelo espartilho da coacção, pelo somítico auxílio à cultura e muitas outras coisas “boas” que, cansado desta jorda, não estou com paciência para enumerar. Basta saber, que todos o sabemos e todos o sentimos.        
Os meus parabéns aos actores que, graças à sua indomável força de vontade, apresentaram um melodrama em que toda a gente se riu à gargalhada das chagas que nos apoquentam.
A CRISOPHRENIA.


António Figueiredo e Silva
Coimbra, 11/12/2015
www.antoniofsilva.blogspot.com