segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

O REGRESSO DE IVÃ “O TERRÍVEL” ВОЗВРАЩЕНИЕ ИВАНА «Грозного»DIE RÜCKKEHR VON IVAN „DER SCHRECKLICHE“ THE RETURN OF IVAN “THE TERRIBLE”

 

 

“Quem abre o coração à ambição,

fecha-o à tranquilidade”.

(Provérbio Chinês)

 

O REGRESSO DE IVÃ “O TERRÍVEL”

ВОЗВРАЩЕНИЕ ИВАНА «Грозного»

DIE RÜCKKEHR VON IVAN „DER SCHRECKLICHE“

THE RETURN OF IVAN “THE TERRIBLE”

 

    Entre a realidade e a crença, sinto alguma dificuldade na escolha em qualquer delas devo assentar a minha sensibilidade; se na predição ou se no credo que prega a reencarnação - dogma este, cujos princípios o Induísmo vem disseminando há mais de cinco mil anos e tido para os seguidores desta religião, como uma “realidade” irrefutável.

Não obstante a minha indeterminação, reflicto que, no actual século XXI, houve realmente um fenómeno na Rússia, que “conquistou a minha aderência” ao Induísmo. A reencarnação (ou maldição, creio), de Ivã “O Terrível” (grozny), com os seus acessos de raiva actualmente disfarçados, e a sua ambição conquistadora e subjugadora, que outrora fez dele o Czar de todas as Rússias - território que se estendia do Mar Cáspio e Mar Negro aos Montes Urais.

Noto, contudo, uma diferença entre o “protótipo e a cópia”; enquanto o primeiro subjugou com o gume da espada, este tem apetência para impor a submissão e fazer corresponder a sua vontade, com recurso a armamento bélico, terrivelmente letal.

Gostaria de não ser negativista, alucinado ou simplesmente visionário, mas… creio que as chaves das portas que vão permitir ingresso ao Apocalipse, estão engastadas nas fechaduras - que mãos dominadas pela loucura se aprontam a rodar.

Muito se tem falado sobre Hiroxima e Nagasaki! Todavia, a maioria das criaturas, não me parece ter noção das consequências de uma cisão ou fusão nucleares - não é matéria que seja transmitida nas telenovelas que servem para criar ilusões, nem nos estádios de futebol, onde, como classifica Pitigrilli, “são vinte e duas cabeças vazias a chutar uma bola cheia”.

Não, as coisas agora são diferentes. Bem diferentes! Abissalmente dissemelhantes.

Um louco como Ivã, ao sentir-se como um animal encurralado, pode muito bem, acender o rastilho de neutrões que fará desestabilizar o átomo, sem se constranger com a consequente fusão e varrimento de “toda” a existência na Terra – inclusivamente a dele.

Isto, porque se deixou dominar por uma avidez de tal forma desmedida, que para a satisfazer no momento, não pensa no mal que dela possa resultar, a curto e a longo prazo.

SR. VLADIMIR PUTIN.

PARA QUE O MUNDO (E O SR.), TENHA PAZ, PONHA FIM À DESTRUIÇÃO DA UCRÂNIA.

As pessoas, assim como os países, devem ter direito à sua liberdade. Compreendo que o entrelaçamento entre o Direito e Justiça, várias vezes induzem o pensamento humano em erro; porque, nem tudo que é direito é justo e nem tudo que é justo é direito.

Mas o certo é, que ninguém consegue “negociar” ou chegar a um assentimento, com uma “pistola apontada aos miolos".

Tenha isto em mente, se tiver espaço para reflectir.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 28/02/2022

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Nota:

Faço por não usar o AO90

 

 

 

 

 

 

    

 

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

A MEDICINA

 

Se Deus cura todas as doenças, a medicina

 é a ciência mais inútil que existe.

Dr. House

 

Apesar da racionalidade do pensamento,

quedo-me na interrogação do silêncio.

(A.   Figueiredo e Silva)

 

A MEDICINA

(Aos clínicos que não vasculham para além da medicina)

 


Não sou médico, mas arrogo-me ao direito de expor o que o meu entendimento dita sobre o assunto, que desde sempre provocou dores de cabeça ao Ser Humano - e muitos instantes de introspecção, angústia e interrogação a mim próprio.

São empenhados diariamente um infindo número neurónios na pesquisa de químicas e mezinhas, que permitam uma maior longevidade acompanhada por uma favorável qualidade de vida, por vezes conseguida – mas, o certo é, que ninguém cá fica.

Eminentes “pinhas” se têm debruçado sobre esta matéria, mas encontram sempre um barramento inexplicável e enigmático, que transcende a compreensão do mais erudito cientista.

A Natureza é tão pródiga na realidade como no mistério. Quando se desvenda um, de imediato surge o outro. E é pelos degraus dessas surpresas que o Homem vai palmilhando loucamente pelos caminhos do micro e do macro-cosmos, convicto de que um dia encontrará o fim do Universo e resoluções para tudo, inclusivamente para a existência perpétua. Esquece-se de que a ciência, no seu penoso desenvolvimento, faz paridade com a ignorância. Se uma cresce, a outra acompanha.

Conhecer a estrutura que compõe o físico humano e o seu intrincado, porém lógico, funcionamento, não é nada de transcendente; é uma máquina complexa, sabemos, formada por determinados elementos, com funções específicas, que operam sob uma correlação precisa entre eles, com um fim único; manter viva e funcional, a totalidade da estructura da qual são componentes, para a integral formação de um todo. Isto é, até um limite determinado. Quando é atingido o “limiar” nanométrico da substância, é que o saber se enreda, tropeça, cambaleia e grande parte das questões ficam reticenciadas ou mesmo irresolúveis; não direi perpetuamente, contudo, na razão directa dos avanços científicos, que integram o universo investigatório – e nunca terminarão enquanto o mundo comercial e a curiosidade existirem, e o ser humano inglória e cegamente batalhar por uma existência infinita - aninhada somente na sua ignorância.

É evidente que todo o emaranhado mecanicista que integra a edificação que faz fluir a vida, é composto por diversas unidades distintas, não menos complexas do que o todo, que carecem de especialização singular para uma melhor compreensão do seu funcionamento e deducional reparação, se necessário e possível – por vezes a entropia Universal não o permite.      

O mais obscuro e difícil, senão de irrealizável acesso, é o conhecimento da parte anímica. O que o meio científico conhece, d’Aquela Força Desconhecida que brota espontaneamente, coordena, e, incrivelmente, anima e transforma toda a complicada estructura mecânica construída em “carne e osso” (e H2O), num ser vivente, com todos os sentimentos que actualmente conhecemos – não todos – é apenas uma ínfima parte da mais reduzida fracção do incomensurável domínio Universal.

Esta particularidade é que transcende a inteligência de qualquer estudioso por mais persistente e aplicado que ele seja, e, vezes sem fim, refalsa o diagnóstico por ele enunciado. É que, a Força Vital consiste na união de duas, ainda que diferenciadas e “abissalmente” distantes, estão juntas – paradoxal, mas real; quero dizer, fundem-se numa só unidade que é a vida. São elas, a parte material e a parte anímica. Qualquer delas não existe sem a outra; sem ambas, não vivemos. O mesmo que dizer, não existimos. O nosso físico fica à disposição da antropofagia celular, putrefaz-se e some-se. Isto não é patranha.

Mesmo aqueles que se têm como entendidos na parte psíquica e física, navegam num mundo onde as probabilidades caminham mais ao lado da imponderabilidade do que da certeza, porque, como é inteligível, a lógica incorre em falhas, porque mareia no oceano dos pressupostos, que são mais do que as realidades.  Esse é que é o mundo mais complicado para estudo do corpo humano. O segredo dos deuses. O calcanhar de Aquiles que o Homem não consegue desfiar.

De resto, cada órgão tem uma função específica que por Criação lhe foi atribuída, para que possa cumprir a sua missão no Universo por um período demarcado e naturalmente inevitável – a menos que, como por vezes acontece, factores exógenos, venham degenerar as características integrantes dessas funções.

A título paradigmático:

O coração, não é mais do que um órgão de bombagem que se destina à sucção, “compressão” e impulsão de um fluído – neste caso o sangue – que funciona como “transporte de mercadorias” nutritivas para todo o emaranhado celular corpóreo.  

Os rins que são os órgãos filtradores desse fluído e fazem parte do sistema regulador de pressão, denominada por Tensão Arterial, de modo a que este possa percorrer o circuito sem danificar as tubagens do sistema (sistema vascular), cuja missão, além de outras, é servir de vias de transporte dos nutrientes para células do nosso universo pessoal, que nos mantêm vivos, activos e conscientes.

O fígado, que funciona como armazém recolector de tudo o que possa ser nocivo ou benéfico ao corpo humano (metabolismo) e fazer a gestão do que ele necessita, libertando quando é necessário ou excretando para o “lixo” o excedente (catabolismo/anabolismo), para manter o funcionamento integral da unidade física no estado vivente.

Os rins, que em consonância com o fígado e aliados ao coração, além de fazerem a filtragem de “impurezas” contidas no fluído vital, também têm um grande papel na regulação da tensão arterial, e consequentemente na velocidade do fluído sanguíneo (hemodinâmica).   Claro que, ligados a estes, existem outros subsistemas de primordial importância que trabalham em harmonia com os principais, e que sem o seu funcionamento sincrónico, também entraríamos em colapso ou entraríamos em estado vegetativo.

De uma coisa estou crente – se não, certo; a parte anímica nunca terá vida se não houver uma edificação que a sustente. E a parte estructural estará “falecida” se a fracção anímica desaparecer. Isto é ponto assente e irrefutável.

A meu ver, para ser clínico não é difícil, conquanto que não deixa de não ser bastante trabalhoso. Mas, ser competente, é que já será pertinente questionar.

Um mau médico é aquele que, por diferentes razões, em vez auxiliar na cura da doença ou no remedeio da mesma, promovendo a recuperação ou aliviando o sofrimento, pode conceber pessoas ainda mais doentes – ou mais trágico do que isso.

Então, que será um bom profissional clínico?

Coloco esta interrogação, porque alguns, apesar de enveredarem pelos trilhos da medicina, não foram naturalmente bafejados pela deontologia que um médico ou enfermeiro, pela profissão que abraçaram, devem integrar. É certo que ninguém se faz e por isso há muitos “Esganarelo/s Médico/s à Força” (peça teatral de Molière), plantados e enraizados em lugares, para os quais, genética, científica e psicologicamente não foram naturalmente vocacionados - isto não é patranha.

São presunçosos por convicção insana, e convencidos de que a vida humana lhes pertence; são maus ouvintes (a não ser quando algo “metálico tilinta”), porque omitem que uma boa atenção, por vezes é meio caminho andado para uma cura (sou daqueles que acredita no domínio do espírito sobre a matéria). A deferência, o cuidado e a inteligência, devem ser as faculdades primeiras de um bom profissional de medicina, sem as quais, ele nunca será um douto em matéria sobre a existência humana, ainda que haja consumido tempo “infindo” na memorização dos elementos que a integram e lhe proporcionam a integralidade da vida.

Um bom médico é aquele cujos conhecimentos e aptidão psicanalítica lhe permitem descobrir em maior número de vezes, a moléstia e o “remédio” para a tratamento da mesma ou alívio do sofrimento dela decorrente, baseando-se nos queixumes que lhe são apresentadas pelos sofredores e na capacidade analítica de seu entendimento nato.

Porém, o acertar não reside apenas nos conhecimentos adquiridos, (ou supostamente adquiridos), todavia, em saber evidenciá-los através de um raciocínio lógico e credível, fundamentado nos sinais lhe são apresentados pelo paciente e na subtileza da sua erudição, que não é virtude universal. É um dom e é um talento, que somente a Criação legitima.

Se assim não for, pode saber todo o todo o abecedário, toda a matemática, toda a física, toda a filosofia; pode conhecer todos os ossos, desde os tarsos aos carpos, passando pelas costelas e “costeletas” até à caixa craniana que aloja a “centralina”; pode até ter decorado todos os componentes e a sua localização e não ter nascido com talento para saber lidar com as particularidades nocivas que os corrompem, e apenas reproduzir pareceres às golfadas, em consequência de uma congestão daquilo que lhe entrou no caco à pressão (decorado, mas não compreendido), e por razões diversas não lhe abonou a sapiência, tendo resultado numa deficiente digestão intelectual – congestão de trapalhadas. É isto. Essa é a razão da presença de muita burrice incapacitante, nesta e noutras licenciaturas.

Eu sei que isto dói. Mas é verdade!?

Um bom médico é aquele que possui os preceitos aqui mencionados, e trata o corpo e o espírito do seu paciente, como se tratasse o dele próprio.

 É sabido que muitas vezes isso não acontece, a não ser que haja algum impulso material por trás a fornecer-lhe o incentivo, para lhe aguçar a atenção e fazê-lo bolsar o saber, quando ele existe. Mas é certo, que similarmente há ocasiões em que se remuneram para nada.

Em medicina, um especialista, é, dum modo geral, aquele que consagrou o seu saber à exploração de fracções distintas do físico humano e que melhor sabe manobrar com destreza e habilidade a tecnologia no momento ao seu dispor, por forma a reparar ou diminuir mazelas, e não aumentar as já existentes – o que por vezes também acontece.

Agora, generalizando, o mais idóneo clínico, é aquele que mais confiança inspira, com recurso à persuasão e à utilização conscienciosa dos meios tecnológicos ao seu alcance; porque, como frisou Abel Salazar, que foi professor de Histologia na Universidade do Porto, “Médico que só sabe medicina, nem médico é”.

Como tudo, independentemente da profissão ou da especialidade, todas requerem paciência, raciocínio, experiência, criatividade e rapidez, para que o seu objectivo possa ser realizado com o máximo de êxito possível.

É precisamente a partir de algumas imperfeições neste emaranhado de particularidades naturais, que resultam os bons e os maus predicados de um médico, fazendo dele aquilo que merece. Bom ou mau.

Para terminar e observado de um ângulo distinto, porém com maior abrangência.

Existe uma luta titânica entre as “leis” do Homem e os Princípios da Natureza; a medicina propicia a “cura” ou a amenização da maleita (no sentido de remediar), mas nem sempre. A Natureza contra-ataca com a entropia. Diligencia a desordem para gerar a ordem.

Lei da vida! Não só Humana, contudo, Ecuménica. Por consequência, extensível a toda a matéria que conglutina o enigmático e incomensurável Universo, ao qual a Grande Força Criadora, está obstinada em vedar a entrada ao ser humano.

Evidenciando que o Princípio e o Fim, são constantes, equivalentes e indissociáveis para todos seres viventes em geral, (neste caso quero referir-me apenas aos Humanos), apraz-me resumir:  

Para ser um bom médico, são elementos indissociáveis, prática, inteligência, perspicácia, força de poder psicanalítico, conhecimento para fazer uso das tecnologias de diagnóstico e intervenção ao dispor, dedicação, afabilidade e não se deixar corroer pela psico-adaptação – a enfermidade mais indesejável que pode minar um clínico – porque é humano.

A excelência de um médico, consiste, além de outros atributos, na preservação e consagração da sua “veia de estudante” por toda a vida.

Os que assim não fizerem, são ultrapassados técnica e profissionalmente, serão direccionados para o “espaço” do imprestável, que serve de alojamento a meros licenciados em prescrições farmacológicas.

Opte por ser um exímio clínico, independentemente da especialidade que domine.

         A jactância, a voracidade materialista e o desinteresse pela actulização da sabedoria, por certo, não conduzem a lado algum.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 23/02/2022

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Obs:

Procuro não fazer uso do AO90.

 

 

 

sábado, 19 de fevereiro de 2022

"ELES COMEM TUDO E NÃO DEIXAM NADA"

 

A democracia, muitas vezes significa o poder

nas mãos de uma maioria incompetente.

(George Bernard Shaw)

 

“ELES COMEM TUDO E NÃO DEIXAM NADA”

(Estrofe d’um verso de Zeca Afonso)

 


Nasci uns dias antes da assinatura do armistício que ultimava a Segunda Guerra Mundial, que não deixou de não provocar uma crise económica globalizada que se estendeu por alguns anos.  Ainda me recordo das senhas para o bacalhau e para açúcar.

Outros tempos, outras razões. outras linhas de moral. Enfim, outros valores!

 Vivi nesse tempo, sofri nesse mesmo tempo, mas não deixei de desfrutar de algum prazer ao ter vivido nesse período. Aprendi muito com os sacrifícios impostos pela conjuntura da altura, não obstante a minha desbarbada maturidade e imponderada reflexão. Era novato! Apesar de ser um monte de argamassa ainda por moldar, a minha capacidade de observação já estava geneticamente traçada; porém, ainda não polida. No entanto, a sua robustez e moldagem, com as quais ainda hoje me sinto confortável, tenho de reconhecer serem consequência das complexidades que atravessei. Ou abrolhava a vivacidade ou capitulava. Optei pela primeira, ainda que algo “defeituosa” - reconheço.

Se me fosse perguntado, “gostarias de voltar a viver naquele tempo?” é certo que responderia que sim, evidenciando a minha faixa etária naquela altura, em que a loucura e o sonho me iam alimentando a emoção; mas, é provável que respondesse que não; porque as lições foram duras e baseavam-se estritamente, no exemplo e na prática desses mesmos padrões.

E se me observassem; “Se fosse no outro tempo, não divulgarias este escrito”; claro que não. Agora posso fazê-lo, mas nada adianto, porque “os cães ladram e a caravana continua” - permitem-me “cantar”, mas não dançam ao compasso da música. Faço-o, não para endireitar o que está e continuará torto, mas mais como um desafogo que me comprime o íntimo.

Naquele tempo, havia ordem, progresso, educação, (não descorando alguns arredios que com umas arrochadas iam ao sítio), civilidade, justiça e alfabetização com credível recheio.

Depois da acirrada luta para manter a minha cabeça erguida e de ter passado por dois estágios de políticas diferentes, concluí que as coisas não foram como as pintam; a minha provecta idade, isso acusa. Enquanto que os “jovens” relatam a narrativa que lhes é contada, não por historiadores, mas por tendenciosos cuntadores d‘stórias, eu falo com factos vividos e sentidos, e não contaminado por palavras engendradas e fermentadas por meros contistas de algibeira, para se fazerem sobressair nesta sociedade demente, em que a sua maioria é propensa acreditar em tudo, desde que a falácia vá ao encontro dos seus desejos e ambições.

A meu ver, a plenitude da trova, para a época em questão, foi bem concebida e implicitamente censurava actos que não devim ter sido praticados. Por tal motivo, é meu dever louvar esse poeta (e músico), pela corajosa transmissão do seu pensamento, na altura, e pela estrofe que dele recolhi, a qual considero ter sido uma verdadeira profecia, que finalmente hoje se converteu em realidade.

Abençoado Zec’Afonso, e que a tua alma repouse na serenidade celestial (se ela existir), em eterno descanso.

Esta tua estrofe, (não me refiro à globalidade do poema), encaixou com perfeição na altura devida; porém, é, sem dúvida, igualmente apropriada ao presente, pelas propriedades que agrega.

Foi um poema arrancado do fundo do teu espírito sublime e emotivo, destinado a uma época determinada; porém, a estrofe por mim plagiada, tem sentido sim, todavia, noutro período subsequente, que é o actual.

Grato por isso.

 

Naquele tempo, é verdade que não se comia de tudo, mas comia-se tudo; “quando a larica aperta, não há ruim pão”.

Que havia pobreza, é verdade. Contudo, estarei equivocado se disser que nos tempos que correm, e com esta governação, é bem maior? Penso que não. E mais; a pobreza, que infelizmente tem crescido a olhos vistos, tem sido abusivamente usada, como um prestável contributo ou muleta de suporte, nas campanhas eleitorais.  

Prosseguindo:

Hoje é bem pior: comem de tudo (aqueles que podem), mas, no fim, também não comem “nada” – apenas falsificações naturalizadas.

Agora é que, “eles comem tudo e não deixam nada”.

Por causa de toda a forretice a que na altura ditatorialmente fomos sujeitos, após a morte do ditador, ainda sobraram umas “barrazitas” de ouro, e uns valentes alqueires de prestígio no Mundo – sou crente de que não estou a mentir – que foram completamente exterminados com oabrilar” da neo-democracia, que, em toda a “resplandecência” e euforia, assomou à (des)governação deste território, e acabou por provocar um verdadeiro abalo sísmico, que destruiu todos esses valores materiais, éticos e os “satélites” a eles cativos. Tem sido um descalabro, em toda a grandeza que o vocábulo possa abranger.

Não tenho dúvidas e ainda cá me encontro “vivinho da silva”, para dizê-lo.

Portugal é hoje um lacaio da Europa. Como qualquer lacaio, executa o que lhe é determinado sem um cisco de vontade própria; não tem estructura económica sólida – anda sempre de bordão e chapéu na mão na pendichice (transmontanismo=esmolar); ora chega a troika, ora vem a bazuca (mas que bazucada para o povo saldar); a justiça anda rastejante e perdeu credibilidade (só tem força para a arraia miúda); os membros da governação estão protegidos pelo privilégio da imunidade em podem fazer a “cagadas” e “burricadas” que entenderem, que nada lhes sucede; não têm necessidade de criar galinhas, patos ou perus, (como no tempo do “ditador”); porque, além da remuneração que auferem, acrescem as “alcavalas” - mais do que o suficiente para se darem a esse “desprestigiante” trabalho de “caca de galiáncios”, (veja-se Deputados - Estatuto Remuneratório para 2022).

Não vale a pena acrescentar mais ao que sobejamente todos conhecem, uma vez que já me sinto esfalfado. Mas, só mais um minuto para dar por ultimada a sessão edificada no alvalade do meu espírito descontente.

Se temos os cofres vazios e andamos a esmolar, só posso concluir que o considerável aforro legado pelo ditador, foi perdulariamente dissipado, abusivamente desviado (p’ra num dezer extorquido), ou sofregamente ingerido – não por vampiros, mas por abutres oportunistas e sem consciência.

Agora sim, depois deste preâmbulo de malhanço, já concordo com Zec’Afonso.

Ao acreditar cegamente no populismo, e com a chave do nosso voto,  “se lhes franqueia as portas” à entrada

 

Eles comem tudo, eles comem tudo,

Eles comem tudo e não deixam nada”.

 

Certinho, direitinho.

 

António Figueiredo e Silva

http://antoniofsilva.blogspot.com/

Nota:

Faço por não usar o AO90

 

Consultar:

Do Estatuto dos Deputados  

(1)  Nos termos da Lei n.º 4/85, de 9 de abril de 1985 (1), até outubro de 2005, os Deputados tinham direito a uma subvenção mensal vitalícia a partir do momento em que cessavam as funções de Deputado, desde que tivessem desempenhado essas funções pelo menos durante doze anos (o equivalente a três legislaturas) (2). Este regime foi revogado pela Lei n.º 52 A/2005, de 10 de outubro de 2005, contudo, ainda se encontra em vigor para os Deputados que, no momento da sua revogação, já tinham conquistado o direito de beneficiar de tal regime (ou seja, já exerciam funções há doze anos ou mais).

 

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

"TESTAMENTUM AD AETERNUM"


 

O que tiveres de fazer, faz em vida;

quando a morte aparecer ficas incapacitado.

(A. Figueiredo e Silva)

 

 

“TESTAMENTUM AD AETERNUM”

 

A muitos de vós, “testamentários”, concedo o direito de não concordarem com o trecho que vou redigir; mas não é por isso que deixarei de defender o meu direito de escrevê-lo.

(Do Autor)

 

Um TESTAMENTO, mais não é do que o procedimento escrito (pode ser epístola ou grafado em cartório, pelo punho d’um tabelião), sob alguma tensão apreensiva, porém, protocolar, no qual podem lavrar-se conjunturas inerentes à última vontade do testamenteiro (aquele que futuramente “embarcará”), para serem cumpridas ulteriormente à paragem integral dos batimentos do seu músculo cardíaco, com o consequente esfriamento do seu “espigueiro”, teso e inerte, para todo o sempre.

Dispõe do poder legar bens materiais a pessoas de boa índole ou a uns papalvos quaisquer, e, conjuntamente, adicionar outras vontades (factíveis, como é obvio), ou somente vontades - conquanto que deixe algum carcanhol, para que estas possam ser satisfeitas. Se não, chapéu!

É um documento, que, na sua origem, pode conter várias causas; filantropia, por crença ou prodigalidade; agradecimento, por reciprocidade afectiva; retaliação, para desobriga do seu ego ferido; por último, outras, senão as mais “importantes” e que devem ser analisadas antes do acto; estar apanhado do juízo ou ser burro – tantas vezes isto tem sucedido!

Reconheço que esta prosa, é tudo palha p‘ra botar fora. Mas, como sinto ser portador de todos os predicados a riba referidos, proponho-me hoje, a elaborar o meu, (testamento), mesmo sem a solícita e “cuidada” presença de Oficial de Registos, a exibir com alguma ostentação, as mangas-de-alpaca que lhe protegem a alvura da camisa.

Nomeio a todos vós, viventes, como testamentários – ou seja, aqueles que m’herdam tudo, e se obrigam a realizar ou fazer com que seja concretizado o meu derradeiro desejo – se não, ireis estar à pega comigo!?

Ora bem:

Em pleno gozo de todas as minhas capacidades mentais, - suponho eu!? – é minha vontade deixar o Mundo inteiro para vós, com todo o recheio que ele engloba, não obstante a sua extraordinária, porém complexa, diversidade. Tem de tudo e para todos os paladares, apetites e caprichos. Um grande espólio! Uma entulheira para reciclar e aproveitar o que é bom. E mesmo assim, é provável que de bom pouco conglutine.

Raças “pensantes” mescladas de todas as cores, que vão desde o prêto mais ou menos carregado, passando pelo retinto, ao branco mais avermelhado ou de coloração leitosa e enfezado, cruzando pelo castanho mais escuro ou tonalidade de café com leite; inclui ainda, o amarelo, mais desbotado ou abraseado, que salienta um olhar semicerrado, mas de grande precisão e matreirice.

Nestes elementos que vos deixo, estão entalhadas as mais distintas pluralidades de caráter, para gosto ou desgosto de cada um de vós – ou de vós mesmos; fraco, forte, manhoso, finório, sem índole alguma (os descaracterizados), e de temperamento cata-vento ou cata-maré. Estes finais, são os mais perigosos – é a camada onde se encontra encaixada a grande récua de políticos que não sabem governar, os bandos de salteadores, oportunistas e desviadores de capitais, que, em comunhão com os outros, auxiliam desgovernar o Mundo – burro nem sempre é tão burro como possa parecer.  

Em toda esta tipologia estão abrangidos: trapaceiros, vigaristas, ladrões de bancos, proxenetas, governantes maliciosos, filhos-da-puta, filhos-da-mãe, “filhos-do-pai”, porque ao pai lhe “apeteceu” ser mãe, (actualmente é permitido), e filhos de ninguém, que andam p’raí ao deus-dará, a coçar o cu das calças pelas esquinas e a olhar para o céu a ver se chove.

 Quanto à intelecção: podem contar também com espertos, loucos, manientos, asininos, “inteligentes” e benevolentes (uma raridade), ambiciosos, desinteressados, patifes, esbanjadores, calaceiros e laboriosos. Ah, faltavam os egocêntricos; estes marcam também a sua presença no monte de trastes que vos lego, porém, apenas alimentam a cisma de se julgarem os melhores exemplares à face da terra, mas não passam de uns bardamerdas quaisquer, sem valores nutritivos para uma universalidade saudável, onde a euritmia poderia ser um facto e não uma miragem montada na esperança.

Como parte também integrante do legado, deixo-vos mais aqueles que, classificados por “abóboras amorfas” onde a sanidade mental não brotou, os inventariam como seres impensantes; assim, destituídos de emoções (uma ova!?). São os animais “irracionais”, que fazem parte da mais incrível e variada espécie que ciranda por esta esfera azul, que de boa vontade vos deixarei. Consolai-vos!

Enfim; sem qualquer arrependimento, deixo-vos tudo o que neste Mundo existe, desde a mais pequena pedra ao maior calhau, - e há muitos - do mais ínfimo fio d’água ao mais caudaloso rio, e deste, ao maior oceano. Desde o mais retorcido pentelho à mais entufada carapinha. Fica tudo, tudo, p’ra vós.

Lego-vos tudo. Porém, com uma condição que congrega a minha última vontade: dêem-se como irmãos e companheiros, e não andem às turras como carneiros ou a formar rebanhos, como ovelhas p´ra seguirem cegamente o pastor que vos quer enganar.

Se não o conseguirdes, continuai a vossa luta canina - como tendes vindo a fazer - até que chegue o Dia do Juízo Final – que toca igualmente a cada um de vós.

Lembrem-se de que nada no Universo tem uma existência infinita, porque a entropia que o governa, jamais o permitirá.

Por uma questão de prudência, resolvi escrever e noticiar isto agora, porque, por entre as neblinas de épocas passadas, sinto que o sol está a querer esconder-se por detrás do horizonte longínquo do entardecer.

E quando eu “levantar voo” para o desconhecido, os que tiverem a chance de me verem – se lhes apetecer e estiverem ao alcance -, poderão confirmar que estou esticado, mas não com fisionomia aborrecível ou lacrimejante. Farei questão de apresentar uma cara deslavada e sem expressão, em que, até a linguagem corporal não manifeste quaisquer resquícios de contrição – fisionomia de poker-face.

E por agora, resta-me dizer-vos mais duas palavras para activar a vossa meditação: fiquem bem, gozem o que vos testamentei, e, quando eu for, - não sei quando nem para onde - esperarei lá por vós.

Prossegui a encenar a vossa peça teatral virada ao exibicionismo e oxalá que o revisor que vos certifica o bilhete, tarde muito a aparecer!

Não vos apoquenteis com a minha sorte, porque, PPP/s (Parcerias Público Privadas), por aquele sublime recanto, não me faltarão com certeza, para me distraírem com a sua falta de honestidade.

Como disse Epicuro, “A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais”.

Esta é a razão porque testamentei ainda vivo.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 17/02/2022

 

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Obs:

Procuro não fazer uso do AO90.

 

 

 

 

 

 

 

 

    

 



 

domingo, 13 de fevereiro de 2022

QUALIDADE DE VIDA

 

QUALIDADE DE VIDA

 


Não ouço ninguém arengar acerca da qualidade, da qualidade de vida.

Actualmente está muito em voga a frase atinente à “qualidade de vida”.

 

Ter qualidade de vida.

Procurar qualidade de vida.

Viver com qualidade de vida.

Promover a qualidade de vida.

Trabalhar, para ter qualidade de vida.

Pensar, para usufruir de qualidade de vida.

Roubar, para garantir qualidade de vida (nem que seja na cadeia).

Descansar para possuir qualidade de vida (sem se deixar adormecer)

Caminhar para gozar de qualidade de vida (se for em excesso, bate a caçolêta).

Lixar o parceiro, (se ele for na onda), para ter qualidade de vida.

Morrer, com qualidade de vida (isso sim, mas só os tolos).

Esta malta anda toda doida - até eu!

 

Os mais gananciosos, matam-se, arranham-se, esfolam-se, azedam-se entre si e discutem; “jogam” à paulada e mordem-se ou corneiam-se se for preciso; para terem qualidade de vida (pensam).

Outros, pelo mesmo motivo (e emocionalmente desmotivados ou desaparafusados, porque a vaidade excessiva não encontrou alicerces na sua depauperada autoestima), abandonam por completo a famelga; mulher, filhos, pais, cão, passareta, passarinha, ou passarinho, e, por último, para “empilhar” no rol, acabam por se afastarem também, dos amigos (ou os amigos, deles; que é o mais certo). Tudo, na euforia destravadamente “amalucada”, de terem qualidade de vida.

É caso para dizer: Parvalhões! Tristes camelos! Reclamam sempre qualidade de vida.

 Então, ainda não chegaram à conclusão de que A VIDA TEM SEMPRE QUALIDADE?! É verdade. Sendo que a vida é uma prenda da Natureza, impossível seria que não tivesse qualidade!? Como tudo o que por Ela foi criado, a partir “zero absoluto” – que não acredito, não é!?

O que entendo que tem passado despercebido a todos os “jogadores insípidos no pensamento” sobre senda da existência, é não terem ainda reparado, no que é prática e teoricamente incontestável; A VIDA TEM QUALIDADE. Porém, assemelha-se a uma moeda; só tem duas faces.

BOA OU MÁ.

Onde podemos ter preferência, é na qualidade da qualidade de vida e não na qualidade de vida. Isto porque, a qualidade é um dado adquirido; em quanto que, a qualidade da qualidade, é uma escolha.

Parem p’ra reflectir, e vejam se entendem, porque é que, em vez de polir estas palavras, optei por bujardá-las.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 13/02/2122

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Nota:

Faço por não “calçar” o AO90

   

 

 

sábado, 12 de fevereiro de 2022

FIGURAS P’RA NÃO 'SQUECER

 

                                                                            A notoriedade dilui-se com o atravessar do tempo,

                                                                                            mas, a escritura, cinzela a imortalidade.

Logo, aquele que escreve, é eterno;

nunca passou em vazio por este Mundo.


(A.   Figueiredo e Silva)

 

 

FIGURAS P’RA NÃO ESQUECER 


Um homem robusto, a superar as adversidades de um coração já fatigado.

Conhecem-no? Eu conheço.

É Polybio Serra e Silva; Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Medicina de Coimbra, que fez o obséquio de me dispensar a sua amizade - gentileza pela qual, ainda hoje estou muito grato.

Foi um dos nomes mais sonantes no mundo do ensino, na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, na área de Endocrinologia, Cardiologia outras cátedras referentes â manutenção e preservação da Saúde Humana.

Sempre o conheci como sendo uma pessoa carácter forte e persistente. Respeitador, magnânimo, prudente, simpático, de porte cavalheiresco, alegre e brincalhão, amigo do seu amigo (negócios à parte), e também um grande aficionado da pandega.

À parte do universo científico que com afinco se dedicou e fez por derramar toda a sua erudição, similarmente tem outro filão de ouro na “venêta”, que é a articulação vocabular grafada, que tem vindo a expor com lógica e sabedoria, em poesia ou em palratório, o que no momento, lhe vagueava pelo pensamento – deleite com que sempre ocupou as horas de “ócio” - em vez de ir para o campo caçar borboletas ou apanhar pampilhos.

Sempre foi uma figura interessada na absorção da cultura geral, cuja sede não conseguiu apaziguar até ao presente. Admirável!

Continua a escrevinhar. Prova manifesta de que os seus neurónios estão em plena actividade e os contactores sinápticos, não fracassaram. Creio que o sentimento de glória que interioriza, é fazer meditar os que podem fazê-lo; penso ser este, o elo que o liga à dissertação escrita; porquanto, “palavras leva-as o vento”, e a escrevedura é uma chancela para sempre, que expressa a forma de pensar de um ser, em determinado momento e período temporal definidos. É uma exteriorização do estado de espírito; o escape livre da emoção.

Apesar da sua avançada “juventude”, que se enquadra no período áureo do saber, continua a “trovar”, como jovialmente manifesta poeticamente no livro por si redigido, que hoje, dia 12 de Fevereiro de 2022, foi lançado, sob o tema, “Cantares – Para gostar de envelhecer”.

É daqueles seres obstinados, que alegremente tem travado uma luta despicada por uma existência alegre e perene.  

Faz assomar-se-me à lembrança, uma estrofe de um fado de Coimbra, que deste modo, dolentemente derrama:

 

Ao morrer os olhos dizem,

Para morte, espera aí.

Vida não vás tão depressa

Q’eu’inda te não vivi.

 

E tem levado a sua avante. Oxalá que por muitos anos.

Disse-me, em amena conversa, que o seu próximo livro será lançado quando a sua presença existencial contar um século.

Oxalá que sim – e eu que veja.

Na parte que me diz respeito, leccionou-me muito sobre valores científicos e humanos. Aprender destrinçar o saber da empáfia, e humildade da arrogância.

BEM-HAJA, Professor Polybio.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 12/02/2022

 

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Obs:

Procuro não fazer uso do AO90.