sábado, 4 de junho de 2022

SER RICO OU SER FELIZ

 

A maior riqueza da vida, é a própria vida;

é inalienável, invendável, e, acima de tudo, é única.

(A. Figueiredo e Silva)

 

SER RICO OU SER FELIZ

 

    A riqueza e a felicidade, são extremidades incompatíveis. Por tudo que tenho aprendido ao longo da vida, que, na esfera do meu não saber, (certamente saberei alguma coisa), acredito que no circo, onde entram o “sucesso” da fortuna e a “pobreza“ do contentamento, quando uma entra, a outra afasta-se lentamente. Decorrente desse afastamento vagaroso, subsiste um vazio entre ambas; é o jardim campesino onde nascem, crescem e florescem as afigurações; essas distinções que dão origem à galhofa, adjudicadas aos pobres de espírito. Aos materialmente abastados, porém, intelectivamente necessitados, vazios.

Se bem que a fortuna (material) seja relactiva, o sentimento de relactividade da mesma, apresenta-se enganadoramente ao ser humano, como, ter tudo; ter dinheiro para tudo. Ora, isso não acontece. É ilusório. Ninguém tem tudo e ninguém compra tudo, por muita “bagalhoça” que tenha. Só aos tolos e aos imbecis é facultado pensarem o oposto.

Acontece que, aqueles que julgam ter tudo, no fim não têm nada; são uns infelizes, vítimas deles próprios. Não têm paz de espírito, não possuem amigos verdadeiros, não andam nem dormem com serenidade de espírito, são assediados, temem pela sua segurança vital, e não só; as inquietações são fantasmas que lhes comprimem o esfíncter, não os deixando evacuar relaxados. Apesar das aljafras bem atulhadas, têm sempre uma brecha que raramente preenchem; é o metafísico halo “brilhante” da felicidade e da liberdade em toda a sua grandeza.  

A satisfação de viver uma vida bem-aventurada não implica em ser pobre ou rico; envolve sim, em contentar-se com o que se tem; esse é o lugar máximo da bem-aventurança, que está interdito à riqueza. O dinheiro foi sempre o fermento que azedou a felicidade dos povos e fez deflagrar a fome, a guerra, o ódio, e o genocídio - escusadamente.

Penso que todo aquele que ambiciona ser verdadeiramente rico, só tem uma linha a seguir, que é não se inquietar para dilatar os seus bens materiais, porém, em restringir a ambição que o apoquenta, flagela e mortifica. Não buscar o mais nem o menos, contudo, ter a noção do suficiente. Aí sim, atingiu o limiar da riqueza perfeita.

E quanto à fortuna ou à pobreza, no momento em que o óbito bate à porta, este não se preocupa em questionar qual o estatuto social do “passageiro”. Essa interrogação remete-a para o cangalheiro, para o capelão ou outra entidade eclesiástica qualquer, segundo a sua crença, caso em vida, não se
tenha auto-considerado agnosticista.

Por isso, se toda a riqueza que tivemos (se é que houvemos) na vida, de nada serviu para nos transvertermos em seres generosos e magnânimos, de certeza que sempre fomos, e morremos, mais necessitados do que alguma vez idealizámos.

Não adianta nada remar contra a maré.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 04/06/2022

 

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Nota:

Faço por não usar o AO90