sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

OS DOIS PAPAGAIOS


Os políticos são a mentira,
legitimada pela vontade do povo.
(José Saramago)


OS DOIS PAPAGAIOS


Muito me alegro porque nenhum deles é gago ou disléxico. Ambos são bem atilados p’rá causa a que se propõem e estiveram aptos para dar espectáculo; aquele espectáculo cuja vulgaridade muitos portugueses já conhecem de ginjeira, mas que não renunciam à sua apreciação que a ocasião se lhes depara. Aqueles que não conhecem, deviam conhecer, porque estas aves, nunca fizeram outra coisa na vida senão de dicarem-se à esgrima politiqueira – como tantos outros oportunistas - no campo aberto do descaramento, em que trocam galhardetes hasteados de roupa suja, onde costuram acusações e insinuações que metem náuseas, e se calhar inveja, às regateiras mais fanhosas das nossas feiras medievais – que ainda existem.
Um, com a penugem enlameada pela brilhantina, palra mais descontraidamente – apanágio do alfacinha – e propõe-se a fazer tudo o que de bom houver – é preciso que o deixem – para transmutar, num futuro próximo que nunca virá, a vivência aperreada dos portugueses num paraíso sem precedentes. Não sei, vamos lá a ver; este, segundo apregoa, é mestre em obras e desempenado nas ladainhas.
O outro, também não se fica atrás; com toda a simpatia nortenha que lhe é peculiar, plenamente compenetrado de que pode vir a ser o salvador desta quinta mal governada, rebusca no seu alfarrábio memorativo uma série de trapalhadas que com fina arteirice catapulta cá para fora, numa tentativa se calhar frustrada, de derrubar a reputação do seu contendor que já teve o trono nas mãos e não o soube segurar.
Também não é mau a tagarelar e baliza bem a orientação política que lhe rumina no consciente, - poderá sair-lhe cara - que se reflecte na intenção de apoiar o governo minoritário do PS após eleições futuras. Além disso, no seu elenco, tem lá elementos que não gostam mesmo nada da “Peste Grisalha” (a velhada) que vem contaminando a nossa terra, com graves consequências para o abalo telúrico do erário público, já de si mal administrado – cuidado!? Não sei se teria sido uma boa a escolha a sua!?
São as tais trapalhadas que vêm mesmo atrapalhar a vidinha a quem não as deseja, mas que por falta de sagacidade ou rotação do destino, enfiou a cabeça no garrote.
Porém, como ambos se alinhavam com as linhas da mesma doutrina, apresentam propósitos idênticos, amigavelmente arranham-se com luvas de boxe – argumentam que na política é assim - e querem comer da mesma manjedoura, p´ra mim, tanto se me dá, como se me deu; que venha o Diabo e escolha.

António Figueiredo e Silva
Coimbra,12/01/2018