quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

ERA UM VEZ

 

Esta “talhadela” foi caligrafada em 25/07/2002.

Fui rebuscá-la, só para lembrar à população desse país, que as coisas não evoluíram. Antes pelo contrário.

Quero asseverar a todos, mesmo a todos os seus cidadãos, que a esperança não põe pão na mesa.

Ou regem, ou morrem na penúria.

(António Figueiredo e Silva)

                                                  ERA UMA VEZ

                                                 Carta ao meu amigo Zé (VI)

 

Raramente te dou notícias minhas, mas, como todo o amigo-de-Peniche, só quando estou deveras embaçado, flatulento, revoltado, quezilento, exasperado e a sentir outras realidades que não me atrevo a dizer porque seria forçado a consumir palavras do mais vernáculo e acintoso português, que felizmente ainda não constam no cabro do acordo ortográfico, é que te dou conta da minha existência.

Olha, amigo Zé, já estou a ficar irritadiço só com o atrupido da cavalgada, que com as ferraduras da incompetência me tenta esmagar a lógica do pensamento. Perante este fundamento e para não esbanjar toda a raiva que me lavra a razão e me pode coagir a sair dos carris, escolhi contar-te uma história para ajudar a dissipar o meu nervosismo, e, quem sabe, arrancar-te do marasmo em que deves ter vivido.

Como todas as histórias, esta também irá começar por: “era uma vez…”

 

Era uma vez…

 

    Um território que apesar de ter suportado várias fatalidades esporeadas durante muitos anos por cobiças externas, péssimas políticas, insurreições, assassinatos com regicídios pelo meio e mudanças do estilo de governação, alcançou certo dia, alguma estabilidade económica, financeira e acima de tudo, disciplinada. O seu povo podia respirar à vontade a brisa límpida assoprada pelas qualidades doutrinais da ética, da justiça e naturalmente pela quietude social. Era uma nação que impunha respeito e colhia o apreço de todos os que dela tinham conhecimento.

O seu povo vivia numa concórdia “antiquada” com a qual talvez na época não simpatizasse, porém com uma segurança a todos os níveis e uma governação exigente e cumpridora das suas convenções, onde a ordem lascava a direito, assente em regras compulsivas e punitivas decorrentes dos princípios nelas instituídas.

É certo, amigo ZÉ, que ladrões sempre existiram, mas, quando apanhados, era-lhes aplicado um forte “arganel”, que anos mais tarde, no país inspirador desta história, foi substituído por uma pulseira electrónica, talvez até em ouro ou prata, consoante o gosto e as posses do gatuno protegido.

Aquela terra não era de avantajada grandeza, mas usufruía de um razoável património satélite que lhe dava força, vida e solidez. Subitamente foi assolada por mais um rude golpe, urdido por meia dúzia de mentecaptos com as cabeças entaladas entre grandes patilhas e encumeadas por sebosas cabeleiras, que resolveu fazer uma tomada do poder, submetendo aquele país e as suas gentes, a outro estilo da governação; diziam eles que era uma governação socialista marxista, onde todos seriam iguais e aferidos pelo mesmo sarrafo. Era esta substância bolorenta, o miolo dos repertórios bocejados ao som de harmoniosas composições revolucionárias, onde eram arengados o sumiço da pobreza, o equilíbrio entre ricos e pobres, a criação de subsídios para os jogadores de sueca e entornadores de copos, etc.

Olha pá, sobre essa filosofia, pá, eu não enxergo nada pá. Entendes, pá?

O certo é que o povo desse triste país foi levado na lamacenta e traiçoeira torrente política e caiu na esparrela. Com lábia soporífera, os ladrões continuaram a existir, mas em maior número e com requintadas qualidades; mais polidos, mais descarados, mais fortificados, mais manhosos, mais traiçoeiros e, acima de tudo, mais ladrões. Apesar destas características deprimentes, por entre ziguezagues e renhidas altercações, conseguiram por fim atingir a esfera do domínio, a partir da qual criaram uma ampla cúpula que a todos pudesse proteger contra quaisquer chafurdices negligentes ou crimes propositados, que apelidaram de IMUNIDADE, S. A. I. L. (Sociedade Anónima de Irresponsabilidade Lda.).

Sob a tutela de regras por eles caboucadas com artesanal habilidade, não dispensando a prestimosa ajuda dos comparsas para a sua urdidura, começaram aqueles filhos de rameiras e pais incógnitos, a dar cabo de tudo o que de bom que aquele povo possuía. Lentamente iniciaram uma cultura de instabilidade e insegurança que levou a população a deixar de dormir descansada com medo do dia seguinte.

Pagaram muito bem pago para o oferecimento de todo o império que aquele país possuía, donde resultaram consequências trágicas; encetaram uma delapidação do património financeiro, esbanjando-o perdulariamente sem qualquer senso de ponderação; assassinaram o ensino e abalroaram a justiça, que só passou a existir para a arraia-miúda; estrangularam o sistema de saúde com imposições agrestes que estão fora do alcance de uma grande maioria – velhos, doentes crónicos etc. impuseram dízimos sobre rendimentos não rentáveis,
que aquele pobre povo não pode suportar; liquidaram com a segurança do reino pelo achincalhamento e limitação da autoridade às forças policiais; criaram rendimentos para os parasitas alérgicos ao trabalho ou viciados na bebedeira e na droga; deceparam mesmo, muitos benefícios sociais, por lei inalienáveis impenhoráveis; possibilitaram a gatunos da pandilha o roubo descarado e abusivo de dinheiros públicos e sua posterior lavagem; ajudaram ou facilitaram a fuga de “ilustres” vigaristas para outros territórios; apoiaram e protegeram fortunas ilícitas a elementos da pandilha ou com ligações a ela etc.

Não saciados, aqueles filhos de pais desconhecidos pertencentes à governação daquele torrão, que permitiram ou se outorgaram fazer aquelas cavaladas, foram sempre postos à margem das punições por leis criadas had hoc que os colocou numa posição de intocáveis; por falta de provas (decisões forjadas) sobejamente conhecidas, ou por deliberações com peso político, ou por recursos permitidos pela sabotagem das regras de meia-tijela, ou por expiração propositada decorrente de adiamentos dos casos encanados para julgamento e consequente punição, as coisas deram sempre em águas-de-bacalhau.

Não, amigo ZÉ, esta não acaba como todas como todas as outras histórias, com um fim glorioso, em que tudo fica bem e reina a felicidade e o bem-estar.

Não, nesta narrativa sobre aquele país imaginário fruto da minha inspiração, o pobre povo ficou atascado na calamidade até ao gasganête. Uma parte meio escondida, outra a céu aberto e ainda com um calote às costas para pagar, resultado da cáfila e récua de incompetentes e ladrões, que desgovernaram e saquearam impunemente aquele país que, apesar da desafortunada delapidação de seu império, ainda tinha recursos para andar da cara levantada, em vez de ser coagido a ficar roncando e a chafurdar no lamaçal, gemendo, chorando e a dar serviço às agências funerárias, para diminuição das despesas costumeiras, investidas na detecção, assistência e ulteriores tratamentos das mais diversas maleitas. Isto porque os piratas que por sublevação tomaram conta da governação daquela terra, assaltaram o seu património e arruinaram o sistema governativo antes instituído.

O governo, disposto em meia távola redonda, instaurou com frieza de verdugo um genocídio encapotado, que o povo tem de aguentar até que o fôlego se abscinda.

         É muito infeliz esta história, não é Zé?! Até a mim me extirpa a vontade de repousar. Pobre povo!

Com um grande abraço, até à próxima.

 

         António Figueiredo e Silva

Coimbra, 25/07/2002

www.antoniofigueiredo .pt.vu

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

A ALMA DO 25 DE ABRIL

 

 O fracasso é simplesmente,

 a oportunidade de começar de novo,

mas desta vez, de forma mais inteligente.

(Henry Ford)

      

A ALMA DO 25 DE ABRIL

 


Sim, tem espírito, porque não?! O que lhe deu corpo, foram adobes de proveitos, assentes na ânsia fantasista de um povo, por uma liberdade que nunca foi concretizada, apesar de ter sido, congeminada para abrolhar a igualdade e a fraternidade entre todos. Todos quem? - pergunto.

As intenções que serviram de base e orientação para o 25 de Abril, ou pelo menos assim foi apregoado, de facto eram boas; era o que o povo português há muito ansiava. Entrar no céu aberto da democracia e não no inferno desconjuntado da anarquia. O que estava oculto no reverso da moeda daquela revolução, e nos propósitos de alguns dos “conjurados”, é que tem sido um carambolim.

Isto de nos ter sido concedida a liberdade para expormos o que desejamos, já é uma grande carta de alforria, porém de duvidosa veracidade. Conferiu-nos uma emancipação (aparente), divulgação de credos religiosos, que entendo ser certo (ainda que com algumas reticências), ideologias políticas (condicionadas) e promovida uma igualdade de direitos e deveres (nas intenções), só para fogo-de-vistas, porque na prática, assim não tem funcionado.

Quase nada dessa semeadura vingou. Uma tempestade de interesses escondidos, tem vindo a vassourar a plantação, impedindo-a de abrolhar e florescer na paz e na concórdia, criando em vez disso, um domínio invulgar em que só se safa quem pode. Os interesses mafiosos são muitos e os juízos são abissalmente divergentes. Isto está transformado num ninho de ratos sedentos e esfomeados, onde só meia dúzia deles são donos absolutos do queijo.

O que daquela revolução mais destacou, foi uma diáspora do povo das da “ex-colónias” para todo o mundo, com maior incidência para o seu país de origem - Portugal - criando um apertado congestionamento populacional nesta “santa terrinha”, e um agudizado confronto mental entre aqueles que chegaram, vindos da zona equatorial, (com a mente mais aberta e horizontes mais dilatados), e os outros, que sempre fizeram a sua vida neste pequeno horto encostado ao Atlântico), aconchegados por um marasmo insípido e concepções limitadas.

Foram evidências incontestáveis, que as divergências nos conceitos e as práticas deles resultantes, assim o demonstraram.

Salgueiro Maia - que Deus o guarde - deve estar bem amargurado por sentir, (se isso lhe fosse consentido), que a sua valentia e os eus ideais, foram vandalizados, adulterados e corrompidos, por uma cáfila de incapacitados e desleais, ao espírito da revolução do 25 de Abril.

A título póstumo, quero enaltecê-lo pela sua determinação e valentia e não duvido que o que fez, foi graças à sua boa-fé, por acreditar no nascer de um futuro melhor para todos os portugueses – que afinal… saiu esburacado.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 28/12/2021

 

http://antoniofsilva.blogspot.com/

Nota:

Faço por não usar o AO90

 

 

              

              

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

A MINHA AMBIÇÃO NATALÍCIA


  

“Que as fantasias nos alimentem os anseios

 que a realidade não nos consente idealizar”.

(A. Figueiredo)

 

A MINHA AMBIÇÃO NATALÍCIA

 


    Estava eu aqui, a voejar no firmamento infinito da minha introspecção e a reflectir com os meus botões.

A todo o Ser Humano, devia ser dada a possibilidade ter um Natal repleto de felicidade e exuberante alegria, no seio do afecto, da fraternidade e da concórdia.

Sei, porém, que essa eventualidade não passa de uma falácia para muitos. Os desgraçados. Lamentável, mas verdade!

A ganância desmedida, a corrida ao enriquecimento fácil e acelerado, para isso têm contribuído.

Para cada “papo-cheio”, existem centenas, senão milhares de barrigas vazias, onde as ossadas teimam em furar a epiderme encarquilhada e desidratada pela míngua de tudo.

Lembro-me muitas vezes desses desafortunados, (que na verdade não conheço), não somente nesta quadra festiva, mas em muitos dias e noites dos anos que marcaram o percurso da minha existência.

Esta estação festiva, para mim, significa um período não só de alegria, mas também, de descarga de sentimental; de desempanturramento daquilo que me enfartou o espírito durante vários lapsos do ano e me fez ebulir a fracção da moralidade, que, socialmente se encontra em frenética decadência, donde tem brotado a seiva nociva da desigualdade.

É por isso que sei que o Natal, tristemente não está ao alcance todos; não me coibindo, contudo, de o desejar a quem quer que seja.

Para os meus Amigos e suas famílias, aspiro que tenham um Feliz Natal e um Novo Ano, em que todos os sonhos da esperança possam ser materializados, segundo as aspirações de cada um.

PARA TODO O MUNDO…

UM FELIZ NATAL!

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 24/12/2021

Obs:

Faço por não “calçar” o AO90.