sexta-feira, 28 de maio de 2021

ELE/s

 

A mente só tem razão quando

está em paz consigo própria.

(Séneca)

 

ELE/s

(Interlocução em solilóquio)

Advertência a mim próprio e à sociedade em geral

 


Quando, no silêncio quase absoluto das trevas, nada mais me ocorre do que meditar, ponho-me a viajar na vastidão do mundo que preenche a minha já velha moleirinha, e acabo sempre por seleccionar do seu cardápio cognitivo, algo aliciante para diluir a atonia do momento. Sobre esses retalhos, eu medito, reorganizo e completo os espaços vazios com realidades que ao longo da minha vivência hei observado. O prazer da narrativa sempre me “alcoolizou”. O seu horizonte não tem dimensões, por ser viciante e necessitar de criatividade; sendo esta fecundidade infinita, não me faço rogado em explorá-la até aos limites do meu intelecto. Então ponho-me a pensar! - Eu, e os meus “botões”, claro. Sim, porque, feliz, ainda reservo e conservo o direito à cogitação com que a Natureza me mimoseou. Já não é nada mau!

Quantos não existirão, amofinados pela a carência deste talento natural?!

A minha gratidão à Criação!

 

Depois deste alfobre de palavreado, quiçá, “sem nexo” (ainda bem), coloco-me em esfuziante estado de meditação, e penso!

 

*Na realidade, há “humanos” que não têm paz consigo próprios, porque procuram interiorizar a razão, onde ela não existe. Mesmo tendo integral conhecimento disso, continuam a chafurdar no azedume de um capricho combalido, aparentando o contrário, para abafar os recalcamentos que voejam nas orlas do âmago do seu ego, já de si bastante depauperado e comprimido por pulsões que a anormalidade lidera.

E, reflectindo, falo p’ra mim:

- Meu velho. A base da erudição e do sucesso, consiste na certeza daquilo que dizes e em construíres aquilo em que acreditas. É o triunfo justo e merecido, fruto da tua resiliência, do teu trabalho e da tua força de vontade, sem prejudicar terceiros, que causa cobiça, e até mesmo, ódio, presente naqueles que apreciariam ser como tu, sem nunca o terem conseguido.

Partindo deste princípio, nunca deves submeter a tua maneira de ser às lapidações sádicas de qualquer doente do juízo, sem amor próprio, emocional e materialmente falido; são  algozes da sociedade, que estão apostados em subjugar os espíritos mais sublimes, onde a nobreza de carácter mais se faz assinalar e lhes causa felina e incontida inveja; a doença insanável de uma ambição sequiosa na busca de um brilho metálico reluzente, que às vezes sai pardacento - porque o “metal” não compra tudo, quando a avidez está fora de controlo.

- Olha, é a maneira de dominar, ainda que velhaca, empregada por esses tresloucados, porém, fracos anfitriões, que não regulam bem da mona em consequência de uma bipolaridade congénita que lhes desnorteia o temperamento e os faz vestir e inflar uma importância plástica, que de legitimidade nada tem. Neles só acredita, quem é cego, ou faz por acreditar, quem deles estiver dependente – muitas vezes acontece!?  

Nesta ocorrência, que não é rara, os “padecentes” (por falta de coragem), ainda que contrariados e desgostosos, abdicam da sua personalidade própria, e, gemendo, vão-se deixando pisotear pelas patorras da insensatez e depreciação dos convencidos cavalgaduras, que têm a cisma em se comportar como gente de bem, sem, no entanto, apresentarem exemplos credíveis que certifiquem esse desígnio.

Geralmente, a doença bipolar e a esquizofrenia, estão agarradas como carrapatos a este tipo de criaturas, que não aceitam estas enfermidades como um dado adquirido, resultando numa revolta interior que não lhes dá consolo, e, em muitos casos, levam-nas a uma trágica cisão com a vida. E então, quando são manipulados por terceiros, teatralmente representam o papel de mauzões, contudo, não passam de uns cobardolas maliciosos, que pertencem à casta ou à nitreira, dos inconsumíveis.   

No entanto, enveredam pela ostentação de uma arrogância vincada, que lhes está enraizada profundamente numa carência emotiva que constantemente os suplicia, infernizando-lhes a existência, e, em resultado disso, eles martirizam também a vivência de quem os rodeia. São indivíduos megalómanos, manientos, lunáticos (variam de fase cada instante), autoritários, egoístas e sarcásticos. Afáveis e bons comunicadores, quando os ventos da vantagem e da conveniência sopram a seu favor; de contrário, agressivos e dominadores. E então, quando as vítimas se colocam a jeito ou deles dependem, transformam-se em “terroristas” na linguagem, pouco polidos na comunicação e até raivosos e hostis.

 Passada a “onda de choque”, quando são censurados, pela a sua própria consciência, deprimidos, “encolhem-se” a um canto qualquer, a deplorar e a carpir sobre a negatividade das suas atitudes, recorrendo em certas ocasiões a espíritos etílicos, para minorar o sofrimento (ocasional), porque no dia seguinte, a rotina continua.

Na sua maturada alienação, a sêde de subjugar o “mundo” e a inveja, deturpam-lhes o sentido de ética e acentuam-lhes o inconformismo que se traduz em exigências pueris, cegas e despropositadas. São amesquinhadores e fazem tudo para diminuir a honestidade do próximo, como forma de se sentirem supremos e sobressaírem na sociedade em que “vivem”, como soberanos incontestáveis; todavia, enganam-se a eles próprios, porque a comunidade, fazendo também uso da dissimulação, um dia abandoná-los-á e eles acabam por serem vítimas do “fosso” que durante muito tempo andaram a abrir. Eles não possuem uma uniformidade comportamental constante e fiável; transmutam de humor “sem se saber porquê”. Não conseguem ser galantes sem manifestar a rudeza peculiar que os acompanha desde que nasceram. Emocionalmente são uns débeis. São destituídos de coragem para cortar com os “fantasmas” do passado que constantemente os atormentam.

É pela projecção da penumbra do carácter, procedente das suas acções impróprias para conservar a estabilidade social e familiar, que os podemos conhecer, e, consequentemente, também dominar; se não mais, com a retribuição do desdém que eles próprios usam como arma de arremesso para humilhar ou oprimir os seus semelhantes - até mesmo aqueles que os bem-querem.

São frios, calculistas, trapaceiros, agressivos, falsos e sádicos.

Contudo, não lhes quarto a sagacidade e o mimetismo aparente nas acções, que são de facto, surpreendentes! Apesar de disso, não são felizes. Auto-escravizam-se. O masoquismo que sustentam para se vitimizarem sem razão de causa, cilicia-os. Um dia, quando o futuro se tornar carrancudo e sombrio, serão triturados pelos muros do despotismo que com excêntrico devaneio e arrogante hostilidade, à sua volta levantaram.

 Aí chegados, num terminal suspiro, quando as “trevas começam a dominar a Terra” e já é tarde para recomeçar, ainda são capazes de questionar sem ponta de contrição: o que fiz eu, para merecer esta tortura?!

Mas, a Natureza não é somente benevolente; também é justa. Como tal, obriga a que cada um durma no catre que construiu. Esse dia chegará.

Agora é o momento, de atribuir a Razão a quem é devida: SÉNECA.

 

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 27/05/2021   

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

*Este flagelo, que tem sido o desestabilizador do Mundo,

não deixou incólume a área aonde abrolhei e comecei a

gatinhar; visto que, ainda subsistem alguns macambúzios

que persistem em exibir um carácter que não é real.

É hipócrita. É simulado. É fingido.

 

Obs:

Faço por não usar o AO90.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

OS HEBREUS

 


“Quem não sabe se defender nesta vida,

apanhará para toda eternidade.”

(Wesley D’Amico)


OS HEBREUS

האנשים

ЕВРЕИ

DIE HEBRÄER

 


    Após a Segunda Guerra Mundial, através de uma deliberação da ONU, foi atribuído aquele recôndito e minúsculo sítio, para Pátria dos Judeus. Porém, desde a proclamação da sua independência, em maio de 1948, como país titulado de Israel, consolidado como um Estado Judeu e Democrático, nunca mais aquelas gentes usufruíram de um sono descansado. Aliás, sempre foram perseguidos através dos tempos. É o desígnio dos filhos de Judá, rebento de Jacó – segundo reza a história.  

Apesar de ter “queimado” pestanas durante largas horas dedicadas a leituras sobre o tema em quesito, nunca cheguei a entender por que é que este povo foi sempre anatematizado.

Será que aquelas pessoas não têm direito a uma pátria sua aonde possam viver em paz?!

Logo que foi declarada a independência, com os “respeitosos cumprimentos”, no dia seguinte, os “abutres” caíram-lhe em cima. O Líbano, a Síria, o Iraque e o Egito, fizeram o seu ataque surpresa contra aquela leira de quatro por cento, apartados da imensa área árabe (ainda sobra muito terreno para criarem muitos camelos), para concederem um cantinho destinado ao repouso daquele povo e à uma identidade própria, como nação. ISRAELITAS.

Depois de tudo o que aquela gente tem passado, entendo que sim.

Esta comunidade, que durante tantos séculos foi cosmopolita compulsivamente por força de circunstâncias diversas, porque não havia de ter direito a um bocadinho seu, neste planeta de invejosos?! Não lhes foi atribuído um paraíso; o que actualmente existe, foram eles que o construíram.

Transformaram uma ínfima parte de deserto seco, pedregoso e estéril, num oásis verdejante e colorido; devido à escassez de água, foram os inventores do processo de fertirrigação (rega gota-a-gota), para fazer germinar e desenvolver as suas culturas, tendo em cuidado a economia hídrica. Onde só havia calhaus e areia amarelada, que o sol agreste calcinava, levantaram cidades, vilas e aldeias; fizeram “milagrosamente” brotar das areias áridas, grandes pomares de sumarentos citrinos. Têm mostrado ao Mundo, que o sacrifício e a perseverança, usadas por medida, compensam.

Já vi que o mal não reside naqueles que se contentam com pouco, mas nos outros, para quem o muito não lhes mitiga a avidez.

Espertos, são de certeza; só que vão muito além dessa esperteza; são INTELIGENTES, IVENTIVOS E ARGUTOS. Se não tivessem estas virtudes, já haviam sido varridos do planeta, como meros e imprestáveis trastes, uma vez que não faltaram tentativas para que isso tivesse acontecido. Só nestas probidades pode residir a causa de tamanho ódio àquele povo.

Todos sabemos.

Por onde passaram, deixaram marcas dos seus resultados; quer na religião, quer nas artes, quer em várias vertentes da ciência. Além disso, muitos, mas muitos, ainda deixaram todos os seus haveres ou foram chacinados às mãos de impiedosos verdugos - alguns deles assumidos crentes em Deus.

Estou tão cheio de os ver serem espezinhados, que a minha força moral já não deixa calar o meu grito de revolta.

São odiados porquê? Só pode ser por cobiça. Por ansiarem ser como eles são. Por não terem capacidade de lhes comerem as papas em riba da cabeça.

Estou crente de que se deixarem de os atacar, eles não farão mal a ninguém.

A sua nação é pequena, contudo, a inteligência daquele orgulhoso e obstinado povo, tem-lhe dado umas dimensões que têm superado o inimaginável.

Deixem-me relembrar de que, dois dos Homens que modificaram o Mundo, eram judeus; Jesus Cristo e Albert Einstein.

Deixem os Israelitas, hebreus, judeus, ou que queiram chamar-lhes, em paz.

Ainda cá cabemos todos.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 27/05/2021

http://antoniofsilva.blogspot.com/

Nota:

Procuro não fazer uso do AO90

domingo, 23 de maio de 2021

O EXISTENCIALISMO E O SUICÍDIO

 

Ainda não sei se um suicida

existiu para se matar,

ou se se suicidou para existir.

Contudo, nunca deixes que

o desânimo seja o teu mentor.

(A. Figueiredo e Silva)

 

O EXISTENCIALISMO E O SUICÍDIO

 


O indivíduo que vive um existencialismo puro, sorve o presente e deleita-se como se ele fosse o último trago da sua existência. Não espera nada do futuro, o qual ele situa nos confins do absurdo. A liberdade de existir é condicionada pela morte, à qual ele não tem quaisquer hipóteses escapar com vida. Por isso, para ele, existir é gozar o momento actual, porque o resto apresenta-se como uma incógnita da qual nada sabe, nem se interessa por saber, fazendo assim navegar o seu ego numa pacificidade onde cada acontecimento é um facto existencial e não o começo de um futuro anónimo cuja transcendência o transcende.

A existência límpida não obedece a planos, a crenças ou a dogmas, cujas algemas prendem o ser, deformando a sua estrutura natural, transformando-o num simples objecto manipulado pelos tentáculos insustentáveis de um errado pensar. Não!... Ela segue somente o desenrolar dos acontecimentos à medida que vão surgindo e, como um barco impelido pelos ventos de uma grande força de vontade navegando ao longo da costa existencial, vai contornando os obstáculos conforme as condições que no momento se lhe apresentam.

O existencialista, ao contrário do que muitos cogitam, tem fé!... Neste aspecto, que é semelhante ao religioso, acredita que para além da extinção nada mais existe; por isso é que vive liberto das preocupações despoletadas por sonhos reais de irrealidade absoluta, que desaguam no mar abismal do absurdo.

O existencialismo está ao alcance do homem, assim ele tenha capacidade intelectual para resistir às pressões que o rodeiam, não com o intuito da sua redenção, mas tendo como fim o seu afundamento.

Todos os não existencialistas são vítimas das ilusões preconceituosas, os cilícios da sua existência que lhes angustiam a vida com a castração do seu ego, da sua força de vontade própria. Eles não vivem, vegetam claustrofobicamente numa claridade ilusória onde a escuridão está bem patente. Quando dão conta de que a vida não tem objectivos, não tem dimensão nem valias, resta-lhes o suicídio como única e última alternativa de libertação das grilhetas a que estavam acorrentados.

Sucumbiram ao peso das correntes da ilusão que num sofrimento silencioso arrastaram consigo e lhe provocaram o anacronismo na forma de pensar por colapso neuronal. Escandalizaram-se consigo próprios ao verem que existência é bastante efémera, que cai num abismo sem fundo e numa contradição permanente. Descobriram na sua presença um penoso suplício do qual tinham que se libertar e naquele momento não tiveram coragem para o não fazer, porque chegaram à conclusão de que a vida não merecia ser vivida. Quer isto dizer que viveu a vida e depois pensou-a, quando devia ter feito precisamente o inverso.

 Por isso é muito melhor viver não tão bem quanto possível, mas tanto tempo quanto a existência nos permite.

O suicídio não resolve os problemas de frustração criados pelos tais sonhos reais de irrealidade, como o não existencialista pensou. Não, ele entrou de olhos cerrados na noite do absurdo e os problemas aumentaram para os que ficaram, que de certo vão dar continuidade à existência vegetativa, contudo, talvez mais moderada.

Isto acontece quando o homem não existencialista conclui que o mundo já não tem mais nada para lhe dar e a sua força vegetativa colapsa sob o peso gelado do negativismo, que se sobrepõe à vontade de viver.

Em toda esta dissertação não é minha intenção justificar a morte em si, pois não existe justificação possível. Acontece, porque é uma consequência da vida.

Com o acto, o que a provoca já é diferente, uma vez que considero por exemplo “condenável” o corte voluntário de uma duração, como fuga pertinaz a uma responsabilidade, real ou forjada.

Suicidar-se pode ser encarado como uma confissão não de coragem, mas fraqueza, decorrente de uma razão endémica, postulando que a existência não vale a pena ser vivida.

Viver nem sempre é fácil, mas separar-se radicalmente da vida, pode considerar-se a manifestação de que as ilusões e ambições que fizeram parte de um pensamento fantasioso, ultrapassaram a compreensão do próprio indivíduo, deixando-o vencido, à mercê de um instinto de loucura, doente e sem vontade própria; no momento exacto em que toma a decisão de cindir a linha da sua existência, a vida, ele já não é ele próprio. Já não se reconhece como ser vivente.

Estava morto em vida.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 27/08/2006

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Nota:

Faço por não usar o AO90.

 

 

  

quarta-feira, 19 de maio de 2021

A DIGNIDADE

 

O conceito jurídico dignidade da pessoa humana,

 é o conceito fundamental da ciência jurídica.

(Roberto Wagner Lima Nogueira)

 

A DIGNIDADE

 


Quando não defendemos os nossos direitos perdemos a dignidade e esta não é negociável. Ela desponta e medra em função do respeito por nós próprios. Manifesta-se pela possante força de vontade, de, quando entendemos que os nossos procedimentos estão no caminho errado ou navegam na crista das vagas da dúvida, sermos capazes de dizer não, a nós mesmos. Obviamente que toda a estructura fulcral implicada na formação da honorabilidade reside na concepção lógica de que nós nos devemos colocar no lugar do próximo, antes de procedermos a julgamentos fúteis e sem nexo, ou tomarmos decisões negligenciadas do uso da razão.

Naturalmente que, apesar de ser nosso dever alimentar uma maneira de ser purista, em relação à nossa honradez, é também obrigação nossa, ter sempre presente a noção de que sozinhos nunca conseguiremos mudar a estrutura de alguns elementos das comunidades, quanto à sua maneira de pensar e agir; porém, ficaremos com a certeza plena, de que não fazemos parte do monte de esterco, do qual fazem parte aqueles que dela não usufruem.

O valor da dignidade pessoal é de elevada relevância para manutenção da solidariedade entre as pessoas, através do respeito mútuo, para o qual não existe outra forma de o conseguir.

Na inexistência da respeitabilidade, que até está a evidenciar um aumento na sua frequência, podemos observar e sentir, que o Mundo anda e continua a mover-se a passos largos, para uma grande confusão, que provavelmente acabará no funesto caos.

As pessoas devem consciencializar-se de que podem ser resolvidos com mais facilidade grande parte de todos os dilemas, se colocarem em evidência o respeito pela dignidade dos outros.

Acredito que o ser humano foi criado para pensar; logo, em vez de pensar bem, não vejo razão para pensar mal – a menos que seja alucinado. Mas isso já pertence ao foro das aberrações da Natureza, cujos meandros ou propósitos transcendem a minha capacidade de compreensão.

Não existem outros meios de avaliar conhecimento das pessoas a não ser pela sua personalidade (que é nata), pelo seu temperamento e pela sua honorabilidade.

Há quem acredite – erradamente - que os “metais” são avalistas imaculados da dignidade humana. Mas eu assim não o entendo.  Considero-os apenas como medidas enganadoras que não estão aferidas para esse fim, porém tidas como tal, por muitos patetas destituídos dessa dignidade, que vagueiam por este mundo, corrompendo a sua estabilidade - até que o seu dia se aproxime!

Pessoa sem dignidade, não passa de um ser miserável, fortemente pontapeado pelos protestos asfixiados pela tirania ou libertos pela coragem indomável e colérica da censura colectiva.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 19/05/2021

 

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

            Nota:

Faço por não usar o AO90.

 

 

domingo, 9 de maio de 2021

MAIS UM (?)

 

A vaidade é o caminho mais curto para o paraíso da satisfação,

porém, ela é, ao mesmo tempo, o solo onde a burrice

 melhor se desenvolve.

(Augusto Cury)

 

MAIS UM (?!)

(Apologia ao Burro)

 


Ora cá estou eu – não podia ficar de fora.

Porque hoje é o Dia Internacional do Burro, cá estou eu para “zurrar” alguma coisa pela defesa daquele que, desde o seu aparecimento à cimeira da Terra, sempre serviu de paralelo e argumento, porém com rebaixada medida, para elevar ao patamar da “inteligência” a real burrice daqueles que realmente a abarcam. E são tantos, que posso afirmar; são mais do que as mães!

Além de conveniente, creio ser assertivo dizer que a burrice de alguns “inteligentes” tem vindo, ao longo dos tempos, a escangalhar a inteligência de muitos “burros”, por estes se deixarem dominar por uma passividade doentia que lhes aperta a “cilha” da razão, tolhendo-lhe a coragem para uma justa e indispensável sublevação. Continuam passivamente no mesmo curral a rilhar palha sêca, e por vezes nem isso.

Digo isto, porque a extrema burrice, não se tem manifestado propriamente nos Burros; contudo, naqueles que se ajuízam de inteligentes - que eu apelido de *intelijumentos. Têm sido esses “judiciosos” de inteligência fracassada, que não chegam se quer às patas do Burro – tardiamente entronado - os criadores e coveiros de toda a miséria e desordem no mundo em que vivemos.

Não sei se é devido a um descrédito de consciência ou se de um enaltecimento a eles próprios, que os “inteligentes” resolveram conceber o “Dia Internacional do Burro”. Todavia, por tantas burricadas “inteligentes” que tenho presenciado, é natural que me subsistam sérias desconfianças, entre a realidade da burrice Humana e a “suposta” inteligência do Burro.

De qualquer forma, sinto-me satisfeito e ao mesmo tempo pesaroso, porquanto, apesar de hoje ser, hipocritamente, o Dia Internacional do Burro, este nobre animal, continua a ser usado como transporte de carga, bombo de desaforos dos espíritos mais revoltados, um escravo dos seus senhores e considerado pelos espertos de inteligência rasa, como um intelectual sem valor. Ora isto, não é verdade.

Um facto quero afirmar - espero que nenhum “burro” me retruque ou escoicinhe; existem Burros inteligentes, e “inteligentes” que são mais burros do que os próprios Burros.

Fico ciente de que o Burro não leve a mal esta minha dissertação sobre a sua imponente figura, as suas qualidades de trabalho e intelectuais, que muito têm contribuído para o desenvolvimento da Humanidade e aferição da inteligência falhada da mesma.

Com esta narrativa de louvor e apreço, espero que o Burro tenha o bom senso não se envaidecer e tente abichar uma “cátedra“ na administração pública, que por certo irá aumentar consideravelmente a enorme récua já lá existente, e depois a palha não chega e o Zé pode não aguentar.

Vamos lá a ter tino na mona, ó Burro!?

  

 

António Figueiredo e Silva,

Coimbra,09/05/2021

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Obs:

Faço por não usar o AO90

 

*Hibridismo resultante do coito da

 inteligência falhada com a burrice pura.

sábado, 1 de maio de 2021

A "TERCEIRA FASQUIA"

É velhinha, mas talvez possa servir de leccionação a filhos de

muitos pais.

(O escrevinhador)

 

A velhice é uma tirania que proíbe,

sob pena de morte,

todos os prazeres da juventude.

(François La Rochefoucauld)

 

 

A "TERCEIRA FASQUIA”

 

 

Quando se ultrapassa determinada fasquia considerada por muitíssimos leigos como limitadora temporal, entra-se num espaço que é denominado a terceira idade, como se a idade tivesse espaços e interregnos próprios e não seguisse uma linha de “locomoção” sequencial e constante.

Por considerar bastante depreciativo e desprestigiante este título atribuído à velhice, é que me passou pela mioleira escrever meia dúzia de palavras com o fim de agraciar o imbecil em cuja caixa corniana (é mesmo corniana, que não tem nada a ver com córnea), esta palavra teve a sua infeliz criação. A besta ou as bestas de tão genial ideia, espero bem que tenham atingido a idade suficiente para terem sentido no coiro, o cariz caricato que esta palavra encerra para muitos velhinhos que merecem a nossa afeição, se não mais, por aquilo que de bom e útil nos transmitiram.

A terceira idade!… A semântica desta frase parece querer dizer: deixa passar que não presta; já não existem peças para ele; esquece… é chato como a potassa; não ligues, que já não atina. E por fim, um hipócrita senil, coitado!

A vida é como um segmento de recta, que possui um ponta inicial e uma ponta final. Em qualquer das pontas se vê muito, mas não se diz nada: uma é quando se é criança, outra é quando se é velho, porque é comum dizer-se que o velho volta ser criança; mas como criança ele vê muito, só que, não é levado em conceito.

A nossa sociedade está tão podre, que a velhice já não é tratada com o devido apreço, por falta de formação cívica, que os dos pais dos mais novos não lhes souberam ou não se preocuparam em lhes inocular.

Não existem asilos, casas de repouso, centros sociais ou passes de transporte mais baratos para velhinhos; é tudo para a terceira idade.

A palavra velhice, deixou de ter graça e foi riscada do nosso vocabulário. Contudo, quando é aplicada, a sua entoação de carinho e apreço, morreu à nascença do gesto. Ó velho, chega-te p’ra lá! Velho filha-da-puta - esta eu ouvi. Olha para aquele velho ranhoso!… Já viste esse velhote com o pingo no nariz? Buzina a esse velho p’ra ver se está a dormir. Olh’ó cabrão do velho?! Ó pá, já deves pertencer à terceira idade.

É mais ou menos com esta “altivez” e arrogância que os velhinhos são tratados por uma maioria adolescente de hoje, por estes olvidarem que, com um pouco de sorte ou de azar, serão os velhos de amanhã. Serão tudo o que eles disseram, no futuro que os espera, mais veloz do que pensam.

Imbecilmente... à futura terceira idade.

 

 

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra

 

Coimbra, 22/02/2003

http://antoniofsilva.blogspot.com/