quinta-feira, 3 de junho de 2021

DESCULPAS P'RA QUÊ?!

 

“Quando praticares qualquer falta,

procura remediá-la e não desculpá-la”.

(François La Rochefoucauld)

 

DESCULPAS P´RA QUÊ?!

 


Quase sempre - ou mesmo jamais - são insuficientes para a reparação dos malefícios provocados, quer de ordem material, quer ordem psíquica.

Na minha modesta, contudo, sincera, apreciação, os pedidos de indulgência, não têm qualquer validade nos tempos que correm. Não passam embustes empacotados em películas de sentimentos balofos, sem lisura, sem credibilidade. E então no mundo em que vivemos, o seu real valor extinguiu-se; são usadas como meras corriqueirices na sociedade actual, onde a respeitabilidade e a confiança, aos poucos se têm dissolvido.

Na maior parte das ocasiões, as exculpações têm sido e continuam a ser, aproveitadas como tapa buracos de consciências “sonolentas” que continuam a dormir ao relento da idiotice, mas continuam a consumar a repetição dos mesmos erros (naturalmente por monopolização), após a exibição de ritualizadas, mas simuladas contrições.

Atitudes ou actos que requisitam escusas, jornadeiam por trilhos ondulados, dos quais se servem os fingidos, os aldrabões, os vigaristas e os incompetentes, para se furtarem à realidade de ocorrências (prejudiciais), por eles anteriormente cometidas, e, por preceito, antecipadamente reflectidas.

Estou crente de que a escapatória constante às “reparações” psicológicas e até materiais, cujos recuperações são impossíveis de realizar, é a prova provada do resultado de imposturas persistentes que merecem ser justiçadas, mas não incineradas com desculpas inúteis e sem sentido, tendentes a adormecer quem as aceita – ou faz por isso.

Considerando, que o uso e abuso (muito em voga), do pedido de desculpas, sem mudanças de atitudes, revela, não só na política, o tão afamado populismo oportunista, como também na sociedade em geral, uma tendente influência manipuladora que prima pela sua ocultação, coberta por tão desgastado vocábulo.

Analisado friamente e em profundidade, os pedidos de absolvição praticamente não têm utilidade alguma, porque não visam corrigir os erros e repor as situações nas características iniciais, mas sim, passar um pano sujo para lavar as consequências nefastas de realidades cometidas. São a muleta de hipócritas, de prevaricadores, e até de criminosos, residências onde a degradação e o descaramento estão instalados. Esta espécie de ralé, não deve ser libertada da sua própria opressão emotiva - quando ela existe, claro. Deve ser condenada.

Tendo eu que a desculpa é a própria acusação de um erro, os erros devem ser atenuados, corrigidos e não absolvidos; assim sendo, há que evitar os erros.

No entanto, arrisco a dizer, que as pessoas que recorrem com frequência ao indulto, aparentemente juramentam a sua desistência de actos similares, enquanto por dentro congeminam desculpas para o reprincipio dos mesmos erros ou ainda outros, de gravidade mais volumétrica.

Mesmo perante mil pedidos de desculpa, nada há que nos possa fazer esquecer as afrontas que nos fragilizaram a confiança, característica irreparável. “Abusivamente”, vou plagiar uma frase de John Kennedy, com a qual estou em estreita consonância, e, apesar do seu restringido caligrafado, diz tudo sobre as escusas, e as chancelas que deixam alojadas em perpétuo movimento, no interior de quem as sente: “Perdoa a todos os teus inimigos, mas nunca esqueças os seus nomes”.

Posto isto, só tenho a acrescentar: quando existe uma amizade cristalina e verdadeira, não há carência de desculpas; quanto a malquerença é uma realidade, não credencia as desculpas como verdadeiras.

Assim sendo, nunca te desculpes; evita é, seres coagido a fazê-lo falsamente.

Desculpas, p’ra quê?!

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 03/06/2021

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

 

Nota:

Faço por não usar o AO90

 

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