quinta-feira, 17 de junho de 2021

RECORDAÇÕES DA FORÇA AÉREA PORTUGUESA (VII)

 

Nada me faz tão feliz quanto possuir um coração

 que não se esquece de seus amigos.

(William Shakespear)

 

Mas também seria “ingrato”, se olvidasse

os nomes dos meus inimigos.

(A.   Figueiredo)

 

RECORDAÇÕES DA FORÇA AÉREA PORTUGUESA (VII)

(AB 5 - Nampula-Moçambique)

 


O mundo militar é um “laboratório” de psicanálise, onde temos oportunidade de desenvolver e aprimorar o nosso talento investigatório (quem o tem), com recurso às mais diversas castas de “cobaias”, que raramente se apercebem do seu estado comportamental.

Adjectivando: militaristas ferrenhos, sádicos, oportunistas, vaidosos, tolos, labregos, burros, pategos e covardes – há de tudo; também os há, honestos, condescendentes, humanos, indulgentes, inteligentes, corajosos e perspicazes.

De toda a multifacetada “cambada” que este organismo congrega, sobressaem figuras, que, através do seu comportamento cívico, exibiram com extrema simplicidade as suas melhores qualidades éticas e humanas, sem suprimirem as responsabilidades que faziam parte da incumbência que lhes fora militarmente determinada.

Aqueles em quem estes estes últimos atributos de grandeza de carácter foram uma constante na sua maneira de ser, entendo que devem ser rememorados, independentemente do lugar ou da dimensão em que estas pessoas se possam encontrar. Merecem-no sempre. Se na seráfica paz etérea, a título póstumo; se ainda neste mundo abascado, egoísta e selvagem, como um acto de gratidão, pelo enaltecimento dos seus predicados deontológicos, que podem servir de lição a muitos manegos.

Esta é uma delas. O Capitão Guedes, que esteve no AB5 em Nampula, onde exerceu o cargo de Chefe das Oficinas de Material Terrestre.

Jamais esqueci a amizade que me dispensou durante o tempo que por aquelas bandas permaneci a torrar os miolos ao sol tropical, em que, encontrar um pequeno gesto de familiaridade e protecção, tinha o valor de “côdeas em tempo de fome emocional”. Ele permitiu que eu não me sentisse só. Sabia que tinha ali alguém com quem podia contar, para me defender de algum percalço que pudesse surgir – e até aconteceu.

Era um homem bom; indulgente, compreensivo, orientador, e, acima de tudo, bom conselheiro; respeitava todos sem militarizar e fazia-se reverenciar também como ser humano.

 Sempre me tratou com alguma deferência e foi um grande entusiasta das minhas faculdades natas, ligadas à pintura, à escrita e à minha habilidade para a execução de vários trabalhos elaborados em torno mecânico.

Havia entre nós uma simbiose entre elementos, que consistia numa cooperação entre a protecção, o trabalho e a amizade, que dia após dia cada vez mais se foi fortalecendo, através da nossa salutar convivência.

Quando ele precisava de mim, requisitava-me aos Serviços de Manutenção de Aviões, chefiado na altura pelo tenente Cardoso (mais tarde capitão), o qual ainda hoje relembro com saudade e estima por ter sido também, senhor de uma dignidade despretensiosa, sincera e simples (um dia, quando a minha memória me permitir reunir os elementos que se encontram em estado letárgico, algo irei dizer, também, sobre esta figura).

Quanto ao capitão Guedes, convivi muito com ele, numa harmonia aberta onde eram trocadas opiniões diversas, e com quem muito aprendi.

Como verdadeiro amigo que foi, a sua figura ainda hoje, pelas melhores razões, ocupa um lugar de relevo no meu repositório memorativo.

De seu nome: José Póvoas GUEDES da Silva (Capitão Guedes).

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 16/06/2021

   

https://antoniofsilva.blogspot.com/2021/06/recordacoes-da-forca-aerea-portuguesa.html

ou

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Nota:

Faço por não usar o AO90


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