RECORDAÇÕES DA FORÇA AÉREA PORTUGUESA (VII)
Nada
me faz tão feliz quanto possuir um coração
que não se esquece de seus amigos.
(William
Shakespear)
Mas
também seria “ingrato”, se olvidasse
os
nomes dos meus inimigos.
(A. Figueiredo)
RECORDAÇÕES
DA FORÇA AÉREA PORTUGUESA (VII)
(AB 5 - Nampula-Moçambique)
O mundo militar é um “laboratório” de psicanálise, onde temos oportunidade de desenvolver e aprimorar o nosso talento investigatório (quem o tem), com recurso às mais diversas castas de “cobaias”, que raramente se apercebem do seu estado comportamental.
Adjectivando:
militaristas ferrenhos, sádicos, oportunistas, vaidosos, tolos, labregos,
burros, pategos e covardes – há de tudo; também os há, honestos,
condescendentes, humanos, indulgentes, inteligentes, corajosos e perspicazes.
De
toda a multifacetada “cambada” que este organismo congrega, sobressaem figuras,
que, através do seu comportamento cívico, exibiram com extrema simplicidade as
suas melhores qualidades éticas e humanas, sem suprimirem as responsabilidades
que faziam parte da incumbência que lhes fora militarmente determinada.
Aqueles
em quem estes estes últimos atributos de grandeza de carácter foram uma
constante na sua maneira de ser, entendo que devem ser rememorados, independentemente
do lugar ou da dimensão em que estas pessoas se possam encontrar. Merecem-no
sempre. Se na seráfica paz etérea, a título póstumo; se ainda neste mundo
abascado, egoísta e selvagem, como um acto de gratidão, pelo enaltecimento dos
seus predicados deontológicos, que podem servir de lição a muitos manegos.
Esta
é uma delas. O Capitão Guedes, que esteve no AB5 em Nampula, onde exerceu o
cargo de Chefe das Oficinas de Material Terrestre.
Jamais
esqueci a amizade que me dispensou durante o tempo que por aquelas bandas
permaneci a torrar os miolos ao sol tropical, em que, encontrar um pequeno
gesto de familiaridade e protecção, tinha o valor de “côdeas em tempo de fome
emocional”. Ele permitiu que eu não me sentisse só. Sabia que tinha ali alguém
com quem podia contar, para me defender de algum percalço que pudesse surgir –
e até aconteceu.
Era
um homem bom; indulgente, compreensivo, orientador, e, acima de tudo, bom
conselheiro; respeitava todos sem militarizar e fazia-se reverenciar também
como ser humano.
Sempre me tratou com alguma deferência e foi
um grande entusiasta das minhas faculdades natas, ligadas à pintura, à escrita
e à minha habilidade para a execução de vários trabalhos elaborados em torno
mecânico.
Havia
entre nós uma simbiose entre elementos, que consistia numa cooperação entre a
protecção, o trabalho e a amizade, que dia após dia cada vez mais se foi
fortalecendo, através da nossa salutar convivência.
Quando
ele precisava de mim, requisitava-me aos Serviços de Manutenção de Aviões,
chefiado na altura pelo tenente Cardoso (mais tarde capitão), o qual ainda hoje
relembro com saudade e estima por ter sido também, senhor de uma dignidade
despretensiosa, sincera e simples (um dia, quando a minha memória me permitir reunir
os elementos que se encontram em estado letárgico, algo irei dizer, também,
sobre esta figura).
Quanto
ao capitão Guedes, convivi muito com ele, numa harmonia aberta onde eram
trocadas opiniões diversas, e com quem muito aprendi.
Como
verdadeiro amigo que foi, a sua figura ainda hoje, pelas melhores razões, ocupa
um lugar de relevo no meu repositório memorativo.
De
seu nome: José Póvoas GUEDES da Silva (Capitão Guedes).
António
Figueiredo e Silva
Coimbra,
16/06/2021
https://antoniofsilva.blogspot.com/2021/06/recordacoes-da-forca-aerea-portuguesa.html
ou
http://antoniofsilva.blogspot.com/
Nota:
Faço por não usar o AO90
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