terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

A MEDICINA

 

Se Deus cura todas as doenças, a medicina

 é a ciência mais inútil que existe.

Dr. House

 

Apesar da racionalidade do pensamento,

quedo-me na interrogação do silêncio.

(A.   Figueiredo e Silva)

 

A MEDICINA

(Aos clínicos que não vasculham para além da medicina)

 


Não sou médico, mas arrogo-me ao direito de expor o que o meu entendimento dita sobre o assunto, que desde sempre provocou dores de cabeça ao Ser Humano - e muitos instantes de introspecção, angústia e interrogação a mim próprio.

São empenhados diariamente um infindo número neurónios na pesquisa de químicas e mezinhas, que permitam uma maior longevidade acompanhada por uma favorável qualidade de vida, por vezes conseguida – mas, o certo é, que ninguém cá fica.

Eminentes “pinhas” se têm debruçado sobre esta matéria, mas encontram sempre um barramento inexplicável e enigmático, que transcende a compreensão do mais erudito cientista.

A Natureza é tão pródiga na realidade como no mistério. Quando se desvenda um, de imediato surge o outro. E é pelos degraus dessas surpresas que o Homem vai palmilhando loucamente pelos caminhos do micro e do macro-cosmos, convicto de que um dia encontrará o fim do Universo e resoluções para tudo, inclusivamente para a existência perpétua. Esquece-se de que a ciência, no seu penoso desenvolvimento, faz paridade com a ignorância. Se uma cresce, a outra acompanha.

Conhecer a estrutura que compõe o físico humano e o seu intrincado, porém lógico, funcionamento, não é nada de transcendente; é uma máquina complexa, sabemos, formada por determinados elementos, com funções específicas, que operam sob uma correlação precisa entre eles, com um fim único; manter viva e funcional, a totalidade da estructura da qual são componentes, para a integral formação de um todo. Isto é, até um limite determinado. Quando é atingido o “limiar” nanométrico da substância, é que o saber se enreda, tropeça, cambaleia e grande parte das questões ficam reticenciadas ou mesmo irresolúveis; não direi perpetuamente, contudo, na razão directa dos avanços científicos, que integram o universo investigatório – e nunca terminarão enquanto o mundo comercial e a curiosidade existirem, e o ser humano inglória e cegamente batalhar por uma existência infinita - aninhada somente na sua ignorância.

É evidente que todo o emaranhado mecanicista que integra a edificação que faz fluir a vida, é composto por diversas unidades distintas, não menos complexas do que o todo, que carecem de especialização singular para uma melhor compreensão do seu funcionamento e deducional reparação, se necessário e possível – por vezes a entropia Universal não o permite.      

O mais obscuro e difícil, senão de irrealizável acesso, é o conhecimento da parte anímica. O que o meio científico conhece, d’Aquela Força Desconhecida que brota espontaneamente, coordena, e, incrivelmente, anima e transforma toda a complicada estructura mecânica construída em “carne e osso” (e H2O), num ser vivente, com todos os sentimentos que actualmente conhecemos – não todos – é apenas uma ínfima parte da mais reduzida fracção do incomensurável domínio Universal.

Esta particularidade é que transcende a inteligência de qualquer estudioso por mais persistente e aplicado que ele seja, e, vezes sem fim, refalsa o diagnóstico por ele enunciado. É que, a Força Vital consiste na união de duas, ainda que diferenciadas e “abissalmente” distantes, estão juntas – paradoxal, mas real; quero dizer, fundem-se numa só unidade que é a vida. São elas, a parte material e a parte anímica. Qualquer delas não existe sem a outra; sem ambas, não vivemos. O mesmo que dizer, não existimos. O nosso físico fica à disposição da antropofagia celular, putrefaz-se e some-se. Isto não é patranha.

Mesmo aqueles que se têm como entendidos na parte psíquica e física, navegam num mundo onde as probabilidades caminham mais ao lado da imponderabilidade do que da certeza, porque, como é inteligível, a lógica incorre em falhas, porque mareia no oceano dos pressupostos, que são mais do que as realidades.  Esse é que é o mundo mais complicado para estudo do corpo humano. O segredo dos deuses. O calcanhar de Aquiles que o Homem não consegue desfiar.

De resto, cada órgão tem uma função específica que por Criação lhe foi atribuída, para que possa cumprir a sua missão no Universo por um período demarcado e naturalmente inevitável – a menos que, como por vezes acontece, factores exógenos, venham degenerar as características integrantes dessas funções.

A título paradigmático:

O coração, não é mais do que um órgão de bombagem que se destina à sucção, “compressão” e impulsão de um fluído – neste caso o sangue – que funciona como “transporte de mercadorias” nutritivas para todo o emaranhado celular corpóreo.  

Os rins que são os órgãos filtradores desse fluído e fazem parte do sistema regulador de pressão, denominada por Tensão Arterial, de modo a que este possa percorrer o circuito sem danificar as tubagens do sistema (sistema vascular), cuja missão, além de outras, é servir de vias de transporte dos nutrientes para células do nosso universo pessoal, que nos mantêm vivos, activos e conscientes.

O fígado, que funciona como armazém recolector de tudo o que possa ser nocivo ou benéfico ao corpo humano (metabolismo) e fazer a gestão do que ele necessita, libertando quando é necessário ou excretando para o “lixo” o excedente (catabolismo/anabolismo), para manter o funcionamento integral da unidade física no estado vivente.

Os rins, que em consonância com o fígado e aliados ao coração, além de fazerem a filtragem de “impurezas” contidas no fluído vital, também têm um grande papel na regulação da tensão arterial, e consequentemente na velocidade do fluído sanguíneo (hemodinâmica).   Claro que, ligados a estes, existem outros subsistemas de primordial importância que trabalham em harmonia com os principais, e que sem o seu funcionamento sincrónico, também entraríamos em colapso ou entraríamos em estado vegetativo.

De uma coisa estou crente – se não, certo; a parte anímica nunca terá vida se não houver uma edificação que a sustente. E a parte estructural estará “falecida” se a fracção anímica desaparecer. Isto é ponto assente e irrefutável.

A meu ver, para ser clínico não é difícil, conquanto que não deixa de não ser bastante trabalhoso. Mas, ser competente, é que já será pertinente questionar.

Um mau médico é aquele que, por diferentes razões, em vez auxiliar na cura da doença ou no remedeio da mesma, promovendo a recuperação ou aliviando o sofrimento, pode conceber pessoas ainda mais doentes – ou mais trágico do que isso.

Então, que será um bom profissional clínico?

Coloco esta interrogação, porque alguns, apesar de enveredarem pelos trilhos da medicina, não foram naturalmente bafejados pela deontologia que um médico ou enfermeiro, pela profissão que abraçaram, devem integrar. É certo que ninguém se faz e por isso há muitos “Esganarelo/s Médico/s à Força” (peça teatral de Molière), plantados e enraizados em lugares, para os quais, genética, científica e psicologicamente não foram naturalmente vocacionados - isto não é patranha.

São presunçosos por convicção insana, e convencidos de que a vida humana lhes pertence; são maus ouvintes (a não ser quando algo “metálico tilinta”), porque omitem que uma boa atenção, por vezes é meio caminho andado para uma cura (sou daqueles que acredita no domínio do espírito sobre a matéria). A deferência, o cuidado e a inteligência, devem ser as faculdades primeiras de um bom profissional de medicina, sem as quais, ele nunca será um douto em matéria sobre a existência humana, ainda que haja consumido tempo “infindo” na memorização dos elementos que a integram e lhe proporcionam a integralidade da vida.

Um bom médico é aquele cujos conhecimentos e aptidão psicanalítica lhe permitem descobrir em maior número de vezes, a moléstia e o “remédio” para a tratamento da mesma ou alívio do sofrimento dela decorrente, baseando-se nos queixumes que lhe são apresentadas pelos sofredores e na capacidade analítica de seu entendimento nato.

Porém, o acertar não reside apenas nos conhecimentos adquiridos, (ou supostamente adquiridos), todavia, em saber evidenciá-los através de um raciocínio lógico e credível, fundamentado nos sinais lhe são apresentados pelo paciente e na subtileza da sua erudição, que não é virtude universal. É um dom e é um talento, que somente a Criação legitima.

Se assim não for, pode saber todo o todo o abecedário, toda a matemática, toda a física, toda a filosofia; pode conhecer todos os ossos, desde os tarsos aos carpos, passando pelas costelas e “costeletas” até à caixa craniana que aloja a “centralina”; pode até ter decorado todos os componentes e a sua localização e não ter nascido com talento para saber lidar com as particularidades nocivas que os corrompem, e apenas reproduzir pareceres às golfadas, em consequência de uma congestão daquilo que lhe entrou no caco à pressão (decorado, mas não compreendido), e por razões diversas não lhe abonou a sapiência, tendo resultado numa deficiente digestão intelectual – congestão de trapalhadas. É isto. Essa é a razão da presença de muita burrice incapacitante, nesta e noutras licenciaturas.

Eu sei que isto dói. Mas é verdade!?

Um bom médico é aquele que possui os preceitos aqui mencionados, e trata o corpo e o espírito do seu paciente, como se tratasse o dele próprio.

 É sabido que muitas vezes isso não acontece, a não ser que haja algum impulso material por trás a fornecer-lhe o incentivo, para lhe aguçar a atenção e fazê-lo bolsar o saber, quando ele existe. Mas é certo, que similarmente há ocasiões em que se remuneram para nada.

Em medicina, um especialista, é, dum modo geral, aquele que consagrou o seu saber à exploração de fracções distintas do físico humano e que melhor sabe manobrar com destreza e habilidade a tecnologia no momento ao seu dispor, por forma a reparar ou diminuir mazelas, e não aumentar as já existentes – o que por vezes também acontece.

Agora, generalizando, o mais idóneo clínico, é aquele que mais confiança inspira, com recurso à persuasão e à utilização conscienciosa dos meios tecnológicos ao seu alcance; porque, como frisou Abel Salazar, que foi professor de Histologia na Universidade do Porto, “Médico que só sabe medicina, nem médico é”.

Como tudo, independentemente da profissão ou da especialidade, todas requerem paciência, raciocínio, experiência, criatividade e rapidez, para que o seu objectivo possa ser realizado com o máximo de êxito possível.

É precisamente a partir de algumas imperfeições neste emaranhado de particularidades naturais, que resultam os bons e os maus predicados de um médico, fazendo dele aquilo que merece. Bom ou mau.

Para terminar e observado de um ângulo distinto, porém com maior abrangência.

Existe uma luta titânica entre as “leis” do Homem e os Princípios da Natureza; a medicina propicia a “cura” ou a amenização da maleita (no sentido de remediar), mas nem sempre. A Natureza contra-ataca com a entropia. Diligencia a desordem para gerar a ordem.

Lei da vida! Não só Humana, contudo, Ecuménica. Por consequência, extensível a toda a matéria que conglutina o enigmático e incomensurável Universo, ao qual a Grande Força Criadora, está obstinada em vedar a entrada ao ser humano.

Evidenciando que o Princípio e o Fim, são constantes, equivalentes e indissociáveis para todos seres viventes em geral, (neste caso quero referir-me apenas aos Humanos), apraz-me resumir:  

Para ser um bom médico, são elementos indissociáveis, prática, inteligência, perspicácia, força de poder psicanalítico, conhecimento para fazer uso das tecnologias de diagnóstico e intervenção ao dispor, dedicação, afabilidade e não se deixar corroer pela psico-adaptação – a enfermidade mais indesejável que pode minar um clínico – porque é humano.

A excelência de um médico, consiste, além de outros atributos, na preservação e consagração da sua “veia de estudante” por toda a vida.

Os que assim não fizerem, são ultrapassados técnica e profissionalmente, serão direccionados para o “espaço” do imprestável, que serve de alojamento a meros licenciados em prescrições farmacológicas.

Opte por ser um exímio clínico, independentemente da especialidade que domine.

         A jactância, a voracidade materialista e o desinteresse pela actulização da sabedoria, por certo, não conduzem a lado algum.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 23/02/2022

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Obs:

Procuro não fazer uso do AO90.

 

 

 

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