sexta-feira, 28 de maio de 2021

ELE/s

 

A mente só tem razão quando

está em paz consigo própria.

(Séneca)

 

ELE/s

(Interlocução em solilóquio)

Advertência a mim próprio e à sociedade em geral

 


Quando, no silêncio quase absoluto das trevas, nada mais me ocorre do que meditar, ponho-me a viajar na vastidão do mundo que preenche a minha já velha moleirinha, e acabo sempre por seleccionar do seu cardápio cognitivo, algo aliciante para diluir a atonia do momento. Sobre esses retalhos, eu medito, reorganizo e completo os espaços vazios com realidades que ao longo da minha vivência hei observado. O prazer da narrativa sempre me “alcoolizou”. O seu horizonte não tem dimensões, por ser viciante e necessitar de criatividade; sendo esta fecundidade infinita, não me faço rogado em explorá-la até aos limites do meu intelecto. Então ponho-me a pensar! - Eu, e os meus “botões”, claro. Sim, porque, feliz, ainda reservo e conservo o direito à cogitação com que a Natureza me mimoseou. Já não é nada mau!

Quantos não existirão, amofinados pela a carência deste talento natural?!

A minha gratidão à Criação!

 

Depois deste alfobre de palavreado, quiçá, “sem nexo” (ainda bem), coloco-me em esfuziante estado de meditação, e penso!

 

*Na realidade, há “humanos” que não têm paz consigo próprios, porque procuram interiorizar a razão, onde ela não existe. Mesmo tendo integral conhecimento disso, continuam a chafurdar no azedume de um capricho combalido, aparentando o contrário, para abafar os recalcamentos que voejam nas orlas do âmago do seu ego, já de si bastante depauperado e comprimido por pulsões que a anormalidade lidera.

E, reflectindo, falo p’ra mim:

- Meu velho. A base da erudição e do sucesso, consiste na certeza daquilo que dizes e em construíres aquilo em que acreditas. É o triunfo justo e merecido, fruto da tua resiliência, do teu trabalho e da tua força de vontade, sem prejudicar terceiros, que causa cobiça, e até mesmo, ódio, presente naqueles que apreciariam ser como tu, sem nunca o terem conseguido.

Partindo deste princípio, nunca deves submeter a tua maneira de ser às lapidações sádicas de qualquer doente do juízo, sem amor próprio, emocional e materialmente falido; são  algozes da sociedade, que estão apostados em subjugar os espíritos mais sublimes, onde a nobreza de carácter mais se faz assinalar e lhes causa felina e incontida inveja; a doença insanável de uma ambição sequiosa na busca de um brilho metálico reluzente, que às vezes sai pardacento - porque o “metal” não compra tudo, quando a avidez está fora de controlo.

- Olha, é a maneira de dominar, ainda que velhaca, empregada por esses tresloucados, porém, fracos anfitriões, que não regulam bem da mona em consequência de uma bipolaridade congénita que lhes desnorteia o temperamento e os faz vestir e inflar uma importância plástica, que de legitimidade nada tem. Neles só acredita, quem é cego, ou faz por acreditar, quem deles estiver dependente – muitas vezes acontece!?  

Nesta ocorrência, que não é rara, os “padecentes” (por falta de coragem), ainda que contrariados e desgostosos, abdicam da sua personalidade própria, e, gemendo, vão-se deixando pisotear pelas patorras da insensatez e depreciação dos convencidos cavalgaduras, que têm a cisma em se comportar como gente de bem, sem, no entanto, apresentarem exemplos credíveis que certifiquem esse desígnio.

Geralmente, a doença bipolar e a esquizofrenia, estão agarradas como carrapatos a este tipo de criaturas, que não aceitam estas enfermidades como um dado adquirido, resultando numa revolta interior que não lhes dá consolo, e, em muitos casos, levam-nas a uma trágica cisão com a vida. E então, quando são manipulados por terceiros, teatralmente representam o papel de mauzões, contudo, não passam de uns cobardolas maliciosos, que pertencem à casta ou à nitreira, dos inconsumíveis.   

No entanto, enveredam pela ostentação de uma arrogância vincada, que lhes está enraizada profundamente numa carência emotiva que constantemente os suplicia, infernizando-lhes a existência, e, em resultado disso, eles martirizam também a vivência de quem os rodeia. São indivíduos megalómanos, manientos, lunáticos (variam de fase cada instante), autoritários, egoístas e sarcásticos. Afáveis e bons comunicadores, quando os ventos da vantagem e da conveniência sopram a seu favor; de contrário, agressivos e dominadores. E então, quando as vítimas se colocam a jeito ou deles dependem, transformam-se em “terroristas” na linguagem, pouco polidos na comunicação e até raivosos e hostis.

 Passada a “onda de choque”, quando são censurados, pela a sua própria consciência, deprimidos, “encolhem-se” a um canto qualquer, a deplorar e a carpir sobre a negatividade das suas atitudes, recorrendo em certas ocasiões a espíritos etílicos, para minorar o sofrimento (ocasional), porque no dia seguinte, a rotina continua.

Na sua maturada alienação, a sêde de subjugar o “mundo” e a inveja, deturpam-lhes o sentido de ética e acentuam-lhes o inconformismo que se traduz em exigências pueris, cegas e despropositadas. São amesquinhadores e fazem tudo para diminuir a honestidade do próximo, como forma de se sentirem supremos e sobressaírem na sociedade em que “vivem”, como soberanos incontestáveis; todavia, enganam-se a eles próprios, porque a comunidade, fazendo também uso da dissimulação, um dia abandoná-los-á e eles acabam por serem vítimas do “fosso” que durante muito tempo andaram a abrir. Eles não possuem uma uniformidade comportamental constante e fiável; transmutam de humor “sem se saber porquê”. Não conseguem ser galantes sem manifestar a rudeza peculiar que os acompanha desde que nasceram. Emocionalmente são uns débeis. São destituídos de coragem para cortar com os “fantasmas” do passado que constantemente os atormentam.

É pela projecção da penumbra do carácter, procedente das suas acções impróprias para conservar a estabilidade social e familiar, que os podemos conhecer, e, consequentemente, também dominar; se não mais, com a retribuição do desdém que eles próprios usam como arma de arremesso para humilhar ou oprimir os seus semelhantes - até mesmo aqueles que os bem-querem.

São frios, calculistas, trapaceiros, agressivos, falsos e sádicos.

Contudo, não lhes quarto a sagacidade e o mimetismo aparente nas acções, que são de facto, surpreendentes! Apesar de disso, não são felizes. Auto-escravizam-se. O masoquismo que sustentam para se vitimizarem sem razão de causa, cilicia-os. Um dia, quando o futuro se tornar carrancudo e sombrio, serão triturados pelos muros do despotismo que com excêntrico devaneio e arrogante hostilidade, à sua volta levantaram.

 Aí chegados, num terminal suspiro, quando as “trevas começam a dominar a Terra” e já é tarde para recomeçar, ainda são capazes de questionar sem ponta de contrição: o que fiz eu, para merecer esta tortura?!

Mas, a Natureza não é somente benevolente; também é justa. Como tal, obriga a que cada um durma no catre que construiu. Esse dia chegará.

Agora é o momento, de atribuir a Razão a quem é devida: SÉNECA.

 

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 27/05/2021   

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

*Este flagelo, que tem sido o desestabilizador do Mundo,

não deixou incólume a área aonde abrolhei e comecei a

gatinhar; visto que, ainda subsistem alguns macambúzios

que persistem em exibir um carácter que não é real.

É hipócrita. É simulado. É fingido.

 

Obs:

Faço por não usar o AO90.

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