sábado, 20 de abril de 2024

POR DETRÁS DE UM SORRISO

 

É, por vezes, do sentimento acre de profunda tristeza,

que é libertada a “sublime doçura” de um sorriso.

Incompreensível, mas verdade.

(A. Figueiredo)

 

POR DETRÁS DE UM SORRISO

 


É comum dizer-se que mostrar um sorriso, não custa nada e alegra o Mundo. É verdade, - para nós, quando não sentimos os “calos” a doer. De resto, pode ser uma ilusão agradável para os outros, que não compreendem o nosso estado de espírito no momento desse tão precioso trejeito.

Todos percebemos que o sorriso tanto alegra o mundo como pode irritá-lo. Isto, porque, sorrir não é necessariamente, arreganhar a fateixa; é muito mais para além disso. 

Para quem entende, o sorriso reflete sempre o estado de espírito de quem sorri. Tanto pode demonstrar a nobreza, a graça, a humildade, a compreensão, daquele que ri, como pode ser o embaixador da sua torpeza, mesquinhez, degradação emocional ou mesmo física, onde o prazer, a dor ou o ódio, estão latentes. É bastante complexo, não é?

Naturalmente que é complicado saber interpretar o corcel sentimental que uma manifestação jovial cavalga, contudo, não é de todo impossível. É uma questão de perspicácia e apurado espírito de observação.   

Sempre que contemplo um sorriso, tempero-o com a toda a expressão facial que o embeleza ou desfigura, o que me possibilita uma apreciação mais correcta da sua razão de ser. É evidente que não diz tudo, porém, o suficiente.

Com ou sem sorriso, a fisionomia é, infalivelmente, o espelho, não só do espírito, mas também da condição do físico. Ambos vivem entrosados. O estado de um, reflete-se no outro e a cara, na sua expressão, retrata o mais fiel estado de ambos.

Por isso é que existem sorrisos de várias configurações; hipócritas, ridículos, gozo, rancorosos e raivosos; também os há sublimes, de satisfação, complacentes, humildes, carinhosos, de pranto etc.

Naturalmente que é indispensável muita vivência, (calosidade), e “alguma” apreciação de tratados relacionados com a psicologia, para apurarmos a sensibilidade que nos permite identificar o se esconde nas atrás de cada “arreganho”.

No que concerne à investigação desta matéria, apesar da sua enorme complexidade, não faltam eruditos, que, através de narrativas sustentadas por episódios, têm chegado a brilhantes e indubitáveis conclusões, cujas realidades, adidas à nossa conjuntura genésica, nos vão possibilitar a remoção da máscara da farsa e fazer emergir realidade - assim nós, antes do nascimento, tenhamos sido “brindados” com essa condição, que naturalmente, não está ao alcance de todos.

Como tal, vezes sem conta, deparamos que atrás da alegria de um sorriso, pode existir um profundo poço de tristeza, uma agressividade contida, um ciúme latente, uma ambição desmedida ou realmente a verdadeira, despretensiosa e natural pureza do sorriso franco e aberto, que na realidade vem alegrar o Mundo!

Concluindo: como nem tudo o que brilha é ouro, nem tudo o que se esconde atrás de um sorriso é alegria.

   

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 20/04/2024

 

     https://antoniofsilva.blogspot.com/

 

 

 

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