sábado, 24 de abril de 2021

ZURRAR

 

“O mal da inteligência, é tentar convencer-se sobre

a necessidade de tolerância com a burrice.

Os burros não querem tolerância, querem feno.”

(Alexandre Coslei)

 

 

ZURRAR

 


É uma das características que distingue muitos seres humanos dos burros, se bem que alguns, nem zurros saibam articular.

Fico na confiante de que os burros não se sintam revoltados belicosos e lhes não dê na “moleirinha” para organizarem em alguma manifestação ou entrarem em greve (realidades que agora estão na berra), e se recusem a acatar as ordens do almocreve, para encetarem a distribuir parelhas de coices por tudo quanto é sítio, sem olhar a quem.

Agora que este animal criou estatuto social e passou a estar sob tutela, não vejo outra razão, a não ser esta, que justifique o aumento do seu número no nosso país. Não digo que está abarrotado deles, mas de futuro não sei!? Já vai em duzentos e tais! Talvez até seja por isso que a sua maneira de escoicinhar e formato de comunicação, se tenham espalhado com tanta celeridade nas “derradeiras” quatro décadas, na tradição das persistentes lavagens aos miolos da burricada nacional.

Muito se tem zurrado e continua a zurrar neste país! É uma zurraria infernal. Zurra o burro que é burro, e zurra o “burro”, que cisma que é inteligente.

A atestar a minha dissertação, temos muita nata da aristocracia fracassada, que deixou de saber “tagarelar”, articulando vocábulos decentes e credíveis e optou pela comunicação zurrante e dessincronizada, podendo ser essa a razão da nossa incompreensibilidade para justificar toda as burricadas que até agora têm feitas.

Bem, por aquilo que tenho compreendido, creio que eles também não se entendem lá muito bem entre si, mesmo com a pança cheia e a manjedoura semicircular repleta de palha. Alguns procuram zurrar sem emitirem uma sonância clara, talvez porque achem que zurram mal, deixando, no entanto, transparecer os desabafos do que zurraram, a ver pelos movimentos denunciadores que fazem com as beiças, de onde saem alguns sons timbrados de complicada tartamudez, de compreensão e audição difíceis.

Penso que, se em vez de utilizarem a linguagem burrical, empregassem também a massa encefálica do burro, era bem possível que o entendimento entre eles se tornasse mais harmonioso e todos nós naturalmente beneficiaríamos mais com isso.

Era plausível que a crise não se tivesse entranhado com a sufocadora, porém de certificável intensidade no nosso país, e quiçá, no mundo, onde ouvimos zurrar por um lado e gemer por outro.

Permanece realmente uma distinção de fio de navalha entre o zurro e o gemido. Enquanto o primeiro pode ser uma manifestação de grandeza, de poder, despotismo, de satisfação e de oportunismo, o gemer já não é assim, uma vez que só o gemido é indubitavelmente uma manifestação de dor e de sofrimento.

São estas exteriorizações dolorosas que a cada momento aumentam o número de pacientes, e, acima de tudo, “burros” padecentes, que já não têm forças para se equilibrar nas patas, nem nas decisões, mas… teimam em sufragar.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 21/01/2021

 

http://antoniofsilva.blogspot.com/

Nota:

Faço por não usar o AO90

 

 

 

 

 

  

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