quarta-feira, 31 de março de 2021

"TOURADA DEMOCRÁTICA"

 

Nota:

É de levar em consideração que esta crónica já foi escrita há cerca de dezanove anos e faz parte do livro que editei em 2007, com o título “Deixem-me Desabafar”; escrito esse, que foi gravado em áudio, para a ACAPO (Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal), pela Biblioteca da Câmara Municipal de Vila nova de Gaia, a quem sempre fiquei imensamente reconhecido.

    
 (António Figueiredo e Silva)

 

 

Lembrar o ridículo dos acontecimentos,

é sempre desagradável para quem os cometeu

 e um pequeno alívio para quem os sentiu.

(A.   Figueiredo)

 

 

“TOURADA DEMOCRÁTICA”

 

Ainda hoje lembro, com rancorosa saudade!...

            Nunca tão grande campo, foi a Praça de Touros do Campo Pequeno, depois da liberdade extravasada após a revolução dos cravos, - hoje mais murchos que nunca, mas donde ainda subsistem cancerosas mazelas! - Que chegava para lá meter todos os portugueses e fuzilá-los.

            Quando a liberdade atingiu o auge, alguém teve esta brilhante ideia. Era engraçado, não era?... Morria-se fuzilado, mas em liberdade!... Depois escrevia-se um epitáfio - em ardósia que era mais barato – que era colocado sobre a vala comum: “AQUI JAZ O “ZÉ”, QUE COM UM SORRISO NA FACE MORREU EM LIBERDADADE FUZILADO, E AGORA DESCANSA EM PAZ”!

            O mentor desta genial “proposta”, que não foi posta em prática porque isto ficaria deserto e a cheirar mal, ainda hoje sobrevive à “amistosa” e enraizada cólera de todos aqueles que acreditam na liberdade... E vive à grande e à francesa!?... (alguns, dos seus acólitos, graças à prematura ou natural senilidade da “plebe”, estão à frente dos altos desígnios da Nação).

            Estou convicto, que quando lhe arrefecer o céu da boca e for colocado na posição horizontal, ainda é capaz de levar um epitáfio onde se pode ler, numa polida pedra de mármore vermelha, em dourados caracteres… “AQUI JAZ EM SENTIDO HORIZONTAL, UM HERÓI DO 25 DE ABRIL” (aonde alguém, maroto, acrescenta: para sorte nossa, não venceu nem convenceu!).

            Não conheço a genealogia do dono da cabeça donde trovejou tão patológico impulso, mas, com certeza que as raízes não são portuguesas, face à raivosa vontade de exterminação que mostrou dos seus compatriotas.

            Foi sem dúvida alguma a ideia com mais essência democrática que até hoje conheci, expressa por “corajosas” e próprias palavras, que exortavam o povo à liberdade absoluta (é que quando se morre a liberdade é infinita).

            Ele tinha razão, e é por isso que ainda hoje retenho na memória a Praça de Touros do Campo Pequeno, (de concentração) aonde por vontade de um se teria feito uma “Tourada Democrática” e pela primeira vez, com a matança de “animais” nunca antes permitida em Portugal, mas que sabemos ser do agrado dos aficionados.

            Seria liiindo!!!

 

António Figueiredo e Silva

            Coimbra 02/06/2002

             

http://antoniofsilva.blogspot.com/

Obs:

Foi só para recordar.

 

 

 

           

 

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