sábado, 20 de março de 2021

O POSTIGO

 

Escrito por mera brincadeira,

para aliviar a “loucura” que o

confinamento nos quer impingir.

(A. Figueiredo)

 

 O POSTIGO

 


Anteriormente, à luz de uma lamparina, ainda acalentava determinadas recticências sobre tão desusado vocábulo, que agora foram desmanteladas pela utilidade que os governantes atribuíram a tão vetusto termo.

Já não digo, a totalidade dos portugueses; mas aqueles que nos governam, são possuidores de uns crânios recheados de mioleiras, de uma invejável fertilidade imaginativa.

Não me sobram hesitações de que estamos bem servidos.

Nunca me passou pelo “capacete” que uma pequenita portinhola - quadrada ou rectangular - embutida em uma porta, portada ou numa parede, antigamente destinada à “espiolhagem” e à coscuvilhice, fosse agora ressuscitada e aplicada para fins transacionais de mercadorias e quejandos.

Ainda bem que temos gente com caco; Deus seja louvado!

Foi mesmo bem pensado! Porque essa é uma forma eficaz de impedir que as pessoas ultrapassem os limites impostos, devido às dimensões do tal postigo, que não irão além de uma fresta, em tempos de antanho, utilizado para vigia velada, arejamento de cortelhos, currais e outras coisas mais. Se o vírus não troca as voltas, por aí também não entra de certeza.

Esta da reinvenção ou ressurreição, do dito postigo, bateu cá com uma bolina na minha mona, que me tenho consolado de rir. É de maluco, não é?!

Quer dizer que agora tornou-se tendência cucar pelo postigo, linguajar pelo postigo – com máscara, como é preceito e dever de gente civilizada – servir vitualhas pelo postigo e certamente, em átimos aflitivos, - porque não?! - fazer outras coisas pelo postigo (ou por detrás dele), não é verdade?! É mesmo pela portinhola que se faz o serviço.

Porém, ao que parece, tornou-se também normal a “venda de irrealidades” através do dito postigo; sim, porque do lado de dentro do postigo, a realidade é outra.  

É certo que os devaneios até fazem muita falta, (e os finórios nisso são mestres), porque, como a sua reiteração ao longo dos tempos tem sido exaustiva, já nos sentimos agarrados a eles; sendo que, pelo nosso inveterado masoquismo, reagimos mal, muito mal, às ressacas resultantes, se sua inexistência, algum dia vier a suceder. Estamos viciados em promessas e crenças que sabemos não acreditar, mas não nos sentimos emocionalmente confortáveis sem essa imposturas – mesmo que sejam declaradas pelo postigo.

Acho a designação tão caricata, para as funções a que se aplica… postigo!

Só por isso, entendo que é merecedor desta chalaça gráfica, a título elogioso.

 

Coimbra, 20/03/2021

 

 http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Nota:

Faço por não usar o AO90

 

 

 

 

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