terça-feira, 16 de março de 2021

ALOCUÇÃO À POBREZA E À DISCRIMINAÇÃO SOCIAL

 

 

Escrita em 2001.

Será que está actualizada?!

 

 

ALOCUÇÃO À POBREZA

E

À DISCRIMINAÇÃO SOCIAL

 

 

A palavra é o método de que o ser humano se socorre para elevar um assunto banal e esquecido à esfera da arte cognitiva. Tanto pode causar pavor às pessoas, como sobriamente formular-lhes uma intimação que as leva a lançar um olhar quiçá um pouco mais alargado ao mundo que as rodeia. Quer isto dizer, levá-las a um entendimento mais perfeito, mais integral, mais racional. É precisamente a esse entendimento, a essa intelecção, que fustiga a mente dos mais sensatos, que ouso levar estas palavras, no intuito de lembrar-lhes a pobreza e a discriminação social que cada vez mais tem vindo a manchar os nossos valores da ética e da moral.

Sentir-me-ia feliz se a sociedade em que vivemos desse um pouco mais de si mesma no sentido de que essas dissemelhanças, essas máculas, que mais tarde ou mais cedo nos hão-de aterrar, fossem minoradas. E
liminá-las na sua totalidade é pura utopia.

No entanto, se conseguirmos silenciar a barulheira da ganância, da avidez, que sepultam a luz da ponderação, deixando a pobreza a cambalear e sem vontade de dormir porque o estômago cavernosamente roncando não o permite, é possível que consigamos fazer alguma coisa de bom.

Sobre a discriminação social, devemos julgar o ser humano por aquilo que realmente é, e não por aquilo que parece; as aparências não passam de meras fantasias que só servem para enganar os tolos, poluindo-lhes os juízos de valor.

É tempo de a sociedade remover a máscara do fingimento, lançar um olhar mais abrangente à calamitosa situação que a rodeia e fazer o que deve ser feito; quando não, as listas dos organismos de ajuda social continuam a engrossar, circunstâncias essas, decorrentes da pobreza esquecida e da descriminação de urbanidade imposta por genuíno snobismo.

Se este estado de coisas assim continuar, quer queiramos quer não, seremos amargamente premiados com a nossa quota-parte de responsabilidade e nunca mais conseguiremos amansar a revolta, da qual não duvido que venhamos a ser vítimas.

A todos os que me “ouvem” peço que dêem o vosso contributo.

Eu farei a minha parte.

Para finalizar e por achar adequado a esta questão, quero aqui apresentar um poema, não meu, mas de uma autora, da qual apenas conheço o seu nome e nada mais; Maria Alice da Luz:

 

Ser pobre não é vergonha

Mas parece humilhação!

Pois quando digo que sou pobre

Ninguém me quer dar a mão.

 

Mas se é vergonha ser pobre,

O que querem afinal?

Porque deixaram haver

Tanto pobre em Portugal?

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra

18/10/2001

 

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

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