sexta-feira, 12 de abril de 2019

A INVEJA


Na sombra dos nossos admiradores
escondem-se sempre alguns invejosos.
(Marcus Deminco)


A INVEJA

É uma particularidade resultante de um estado de espírito doentio, de quem não se contenta com o que vida lhes proporcionou e reservam “dissimuladamente” um sentimento de frustração em relação àqueles que se lhe afiguram terem singrado melhor na vida, o que muito naturalmente acontece, por vezes ser um pensamento errado.
Apelido a cobiça como o camaleão social, porque é dotada de um apurado mimetismo podendo por isso manifestar-se das maneiras mais díspares, que podem ir desde de amizades fingidas a factos visíveis, mas sempre tentativa de danificar o invejado, sem que este tenha cometido algo de anormal, que o tivesse merecido.
As emoções germinadas da cobiça, invariavelmente promovem efeitos contrários aos pretendidos pela loucura ferrosa dos ambiciosos; estes dilaceram os sentimentos daqueles que a alimentam e amplificam as mais valias dos invejados.
Ao longo da minha vida, parte da qual dediquei muito do meu tempo ao ensaio colectivo, cheguei à desgostosa conclusão de que as nossas capacidades intelectuais, físicas e materiais, quando estão no caminho certo, são certificadas pela inveja dos fracos de espírito, independentemente da sua condição de vida, faustosa, média ou “miserável”; estes  estes últimos são os menos perigosos; aqui quero referir-me ao miserabilismo intelectual, que é o que mais pode afectar o ambicioso, transformando-o num doente compulsivo que o leva a um sofrimento masoquista e só o abandona após a morte – mesmo assim, não sei o que se passa do outro lado!?
O antídoto para a inveja é andarmos direitos por onde passamos, sem que ninguém nos puxe o casaco; quer isto dizer, sermos pessoas de honra onde a palavra tem valor, não sermos intrometidos na vida alheia, não fazermos julgamentos de valor em branco, sermos austeros nas nossas relações familiares e sociais, e, acima de tudo, quando nos prontificamos a abrir o orifício bocal, (nos invejosos tem a designação de trombone), termos a certeza do que dizemos, porque os trombonistas, que não passam de mentes pobres, das quais, na ausência do bom raciocínio o raquitismo psíquico se apoderou, confinando-as ao um espaço limitado, que é ocupado por um campo estéril onde opinião válida e saudável não consegue  subsistir.
Apesar da nocividade largamente esparrinhada pela inveja, ela também possui o seu quinhão de benignidade; serve para revelar as capacidades boas que integram os abençoados, que, por mentira que pareça, aos invejosos produz ácido fórmico no seu íntimo ganancioso onde a pobreza de senso é uma realidade.
Estou convicto de que se a inveja matasse, meio mundo não existia. No entanto devemos aproveitar os julgamentos dos invejosos para construirmos com eles as rampas de lançamento que nos podem levar ao sucesso. Seguidamente, é um consolo poder mirá-los da cumeeira da nossa alcândora, e, com austera humildade, devemos continuar a tolerar os seus latidos hidrofóbicos de sofrimento, enquanto no nosso silêncio espiritual, ao pensarmos naqueles pobres diabos, podemos murmurar: perdoai-lhes Senhor, que não sabem o que pensam.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 12/04/2019

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