quinta-feira, 7 de março de 2019

OS AVÓS


Não há nada mais gratificante do que o afecto
 correspondido e nada mais perfeito do que a
reciprocidade de gostos e a troca de atenções.
(Cícero)

OS AVÓS

Que não subsistam dúvidas; eles são as figuras mais emblemáticas da família, que marcam profundamente a nossa maneira de ser. Com a madureza da sua sabedoria e a sua paciência ilimitada, estão sempre prontos para aturar com muito carinho e um condescendente sorriso na face, as traquinices e as birras dos pequeninos, seus netos. São qualidades que inegavelmente sempre desfrutaram, só que mais limitadas, face à austeridade imposta pela dureza da vida, aquando da criação dos pais que deram origem àqueles que consideram como seus segundos filhos. Apesar disso, não se reprimem em dar tudo o que têm de melhor àqueles rebentos, que admiram tanto ou mais do que os primeiros.
Os avós, são de facto, pais duas vezes. Isso é inquestionável.
Com o caminhar na vida é que me fui apercebendo de qual a razão porque os netos sempre alimentaram uma predilecção bem vincada pelos avós. Um afecto tão frisado, que se mantém, até mesmo quando eles passaram para a eternidade.
Os avós, são aquele poço sem fundo onde os netos despejam as mágoas; são os segredeiros número um, o cofre-forte das “desventuras”, e têm sempre uma palavra amiga para dar resposta aos problemas que os netos lhe colocam, ou desfrutam sempre de uma carícia para lhes oferecer, sob a forma mais simples de um beijo e um afago de ternura, para lhes estancar as lágrimas, besuntando com elas o seu próprio rosto, por vezes já enrugado pela idade, em sinal de condescendência e afectuosa protecção.
São eles que, muitas vezes já velhinhos e cansados, arranjam sempre forças e tempo para tratar do bem-estar dos netos, nas ocasiões em que os ascendentes mais necessitam. São o seu anjo da guarda que raramente levanta a voz ou a mão, mesmo quando o “fedelho” necessita. Muitas vezes desleixam a sua vida para viver a dos netos. Por muito que tenham para fazer, arranjam sempre tempo e paciência para os aturar, emocionando-se com a sua inocência e indulgenciando sempre as traquinices e teimosias próprias da sua idade e do seu entender inocente, ainda em fase de desenvolvimento.
Um dia os avós hão de partir para nunca mais voltar; aí os netos vão valorizar a sua falta e vão sentir que, apesar do seu desaparecimento, algo lhes deixaram que não se resume somente à saudade, contudo, lições de vida, repletas de histórias, adágios e exemplos, que jamais esquecerão.
Este simples resumo é dedicado a todos os avós do mundo – inclusivamente aos meus, que há muitos anos embarcaram para a eternidade.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 06/03/2019

Nota: ainda continuo a resistir
ao Acordo Ortográfico.
   

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