domingo, 20 de março de 2022

“TRONCO VELHO” (Reflexões)


 Lembra-te de que, por paridade natural,

a velhice toca a todos; não deves por isso,

abandonar quem toda a vida te amparou.

(A. Figueiredo e Silva)

 

“TRONCO VELHO”

(Reflexões)

 

Velho, abatido, carcomido, fungoso, “escangalhado”, escalvado, imprestável, improductivo, inservível, e outras designações “pomposas”, que não passam de corriqueiros adjectivos, aplicados, por quem não sabe, não vê ou não quer ver, o valor intrínseco de tudo o que é “antiquado”, e, logica e racionalmente, a deductiva reverência que por natureza pedagógica, lhe deve ser prestada.

É. É deste ângulo que, erradamente, a velhice tem vindo a ser encarada pelos amofinados da mente, cuja mazela não lhes permite que a sua visão se alargue para além de si próprios – lei umbilical dos estúpidos. Uma mistura de egoísmo e desdém, que os faz esquecer que um dia, serão eles os agonizantes – se lá chegarem!?

O “tronco”, que já foi “criança”, na verdade está velho! Nele existem os buracos do maldito carcoma; a sua “tês” desidratou, apodreceu e despegou-se. Dos ramos, que suportavam a sua frondosa folhagem, outrora estimada, que protegeu muita gente com a sua sombra, apenas restam uns cotos sêcos e desnudados, e mais uns vestígios de outros, que no seu tempo primaveril existiram.

Está tão velho, que já nem aos pica-paus lhes apetece edificar o seu domicílio, relegando-o para simples pouso de chascos, carriças, pegas, pardais, ou até, para servir de encosto para os cães alçarem a perna no ritualizado alívio de uma mijinha.

Está velho! Não tem préstimo.

Mas, se enfiarmos o indicador num ouvido e coçarmos a massa cinzenta, alojamento permanente do conhecimento, (quem é dotado dessa capacidade), podemos concluir que ele ainda deve ter alguma serventia; apesar de ser um peso renitente atravessado no carreiro da indiferença de muitos viandantes, deve ser “saltado” com alguma prudência e dignidade, porque a velhice é que congrega os tijolos da riqueza da história. É natural que naquele “pau velho” ainda remanesça algum cerne para aproveitar; e o certo é que, em situações várias, ele “cai” atravessado e corta o andamento a alguns desprestigiantes canalhas, onde a modéstia não sai de dentro dos seus encéfalos amorfos, empestados por um auto-convencimento sem razões plausíveis para isso.

Contudo, como “largos anos têm os seus dias” e eles (canalhas), desmemoriam que o corpo, do qual usufruem, como todo o ser vivente, mais não representa do que um empréstimo concedido pela Natureza, que mais cedo ou mais tarde terão que devolver com gravativos juros de mora, que por princípio são piorados por toda a multiplicidade de achaques presenteados num só cesto; o cabaz da velhice.

Por isso, quando te deparares com um “tronco velho” e aparentemente apodrido, não o subestimes. Nele poderá estar reflectido o teu futuro – se tiveres sorte.

Pondera duas ou três vezes, antes de prosseguires a tua caminhada sobre a alcatifa de “troncos velhos” e “folhas mortas”, que atapeta os trilhos desta vida impostora; senão, estás subjugado a enganar a ti mesmo.

 

NÃO DUVIDES... NEM QUESTIONES!?

PALERMA!!!

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 20/03/2022

 

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 Nota:

Faço por não usar o AO90 



 

 

 

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