quarta-feira, 16 de março de 2022

O MEU MAIS FIEL AMIGO МОЙ САМЫЙ ВЕРНЫЙ ДРУГ MEIN TREUESTER FREUND MY MOST FAITHFUL FRIEND

 

Recolha um cão de rua, dê-lhe de comer e ele não morderá:

eis a diferença fundamental entre o cão e o Homem.

Mark Twain

 

O MEU MAIS FIEL AMIGO

МОЙ САМЫЙ ВЕРНЫЙ ДРУГ

MEIN TREUESTER FREUND

MY MOST FAITHFUL FRIEND

 

 


    Vencido pela velhice e pelo infortúnio, hoje, por volta das cinco horas da manhã, finou o único amigo sincero que tinha, na terra onde me deram à luz. Encontraram-no arfando em agonia, quando dava os últimos suspiros em sinal de despedida deste mundo-cão.

Há muito tempo que havia perdido a audição; mas, mesmo que eu estivesse meses sem aparecer, aquele amigo ao longe me farejava e corria alegremente em minha direcção na esperança de umas festas minhas, que com gratidão ele sabia retribuir.

Os anos foram passando e ele foi assolado por um derrame cerebral que acabou por o colocar em estado vegetativo.

O “médico” não o conseguiu reabilitar do suposto rebentamento de um aneurisma numa das artérias encefálicas. Coisas da vida!

Em princípio, ficou com um andar cambaleante, como um ébrio ao sair da taberna, completamente toldado de álcool; chegou a tal ponto que perdeu os movimentos de locomoção e outros, de importante relevo para a sua sobrevivência. Paralisou, coitado! Com a vida já presa por um fio, passou ser alimentado pela boca, com recurso a uma seringa própria para o efeito - sem dúvida, os seus amos foram muito benévolos para com ele até ao último instante.

Era alegre, brincalhão, e dotado franqueza tão aberta, que muita gentinha devia reproduzir – talvez o mundo fosse melhor. É certo que não ia à missa, mas também não devia sentir peso na consciência por isso. A Natureza assim o talhou.

Pelo que consta, jamais hipotecou a sua linhagem “masculina”, e, nas voltas que dava, também não desaproveitava as oportunidades de o manifestar, nunca atraiçoando os dotes que pelo Criador lhe foram concedidos. Foi o um óptimo disseminador do seu ADN por “meia freguesia”; certamente que existirão muitos que desconhecem que ele foi o seu pai – mas isso também acontece com muitos filhos-da-mãe, que não têm a ver nada com a raça dele.

Por ter sido um amigo que na minha terra, sempre me recebeu bem, com exuberante contentamento e carinho, nunca me “ladrou”, e muito menos me “mordeu”, é digno destas palavras que escrevo em sua memória.

Com alguma deploração dos seus donos – e minha -, foi hoje enterrado, por volta das dez horas da manhã.

Porque acredito que no poder e na igualdade da Criação concernente a todos os seres viventes, estou convicto também que lhe tenha sido atribuída uma alma – que a maioria não crê, mas, a mim pouco me interessa!?

Foi o cão mais engraçado e mais patusco que conheci, cujo porte devia meter inveja a muitos elementos da população de Loureiro – e não só.

Adeus “TEK”! Que a tua alma descanse em paz!

Na minha imaginação, és digno de uma lápide em mármore azul junto à cova, tua eterna residência, com o seguinte epitáfio:

 

“AQUI JAZ, O ÚNICO AMIGO QUE

 NUNCA EM VIDA ME MORDEU”.

 

Mereces.

 

António Figueiredo e Silva

Loureiro, 15/03/2022

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Obs.:

Sempre procurei colocar os animais no lugar que por natureza lhes foi atribuído, sem nunca os tratar mal (a cama deles é deles; a minha, é minha).

Também nunca entronizei um animal em detrimento de um ser humano.

Mas que eles nos dão muitas lições, é verdade.

 

Nota:

Faço por não usar o AO90

 

 

 

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