quarta-feira, 24 de março de 2021

O "PROFETA"


 

As atitudes de um, podem restringir

 a ascensão de muitos e levá-los ao declínio.

(António Figueiredo)

 

O “PROFETA”

THE “PROFET"

ПРОФЕТ »

DER PROFET "

 

Não é que esta figura me tivesse proporcionado recordações felizes; antes pelo contrário.

Mesmo passados muitos anos, há momentos de meditação que a sua voz hidrofóbica me entoa na memória. Lembro-me dos seus excitados discursos de incitamento ao ódio, sempre intercalados com um, “É ou não éééé?!”. Estas lembranças causam-me um profuso desconforto emocional que, por mais que deseje, não consigo cindir.

Estava em sublime quietude, até surgir esta imagem que alguém partilhou no facebook.  Nesse instante, desabou sobre mim uma chuva torrencial de recordações que eu não queria trazer à tona, não queria reviver; mas a isso sou obrigado, pela possança das mazelas que, ao que parece, ainda me aguilhoam o espírito com os seus estigmas.

No   momento em que escrevo estas palavras, sinto dentro de mim um azedume, que com afincada relutância obstina em não me abandonar. O tempo passa, as feridas curam, mas as marcas ficam, como baluartes marcadores de um passado turbulento.

É manifesto que, para que eu desabafe deste modo, é porque detenho algumas razões de causa para o fazer. E tenho. Tenho, e sem quaisquer remorsos na minha consciência, vou continuar a descomprimir.

É certo que Samora Machel assumiu um enorme papel para a emancipação do território moçambicano; mas não teve sabedoria nem diplomacia suficientes, para a libertação absoluta do seu povo e para a continuidade daquele país com o rumo traçado para uma grande potência económica, com o aproveitamento de todas as infra-estructuras que por lá foram compulsivamente “abandonadas”, sumariamente ocupadas ou extorquidas.

 Esse bom povo, por ele manipulado, depois de uma impensada e desorientada orgia “revolucionária” e de numa devassa consistente dos bens de outros moçambicanos, actualmente vive e sente alguns dos desígnios que por Samora Machel foram profetizados e por ele difundidos – pode ver-se no seu discurso, acima referenciado.

Quanto a isso, os seus pensamentos estavam certos; sendo, por tais razões, digno da minha vénia; porque justiça, não se resume somente em condenar, mas também atribuir o valor a quem ele é devido. E, neste caso, foi uma dissertação, em grande parte, oracular.

Porém, à parte de tudo, foi um dos maiores racistas e incitadores à violência, que passaram pelos andurriais da minha existência em África (Moçambique).

Foi um cáustico atiçador das fogueiras do ódio que colocou muita gente na miséria, inclusive a maior parte do seu próprio povo.

Foi ele que incutiu e incentivou, com toscos, incendiados e revolucionários discursos, o caminho da violência; os roubos de valores, as ocupações indevidas a imóveis que tinham dono; assaltos a estabelecimentos privados, onde para além dos desenfreados saques, quando já mais nada podia ser “carregado, os restos eram literalmente destruídos; foi o “causador”, ainda que indirecto, de muitos assassinatos e violações; “empreendimentos” que deixaram muitas pessoas só com a roupa que traziam no corpo (algumas nem isso), e que ficaram psicologicamente perturbadas para a vida inteira.

Não estou aqui para entrar em minudências e reportar o que vi, o que vivi ou que senti; mas somente para aliviar um pouco a pressão emocional que ainda hoje me sufoca, e manifestar a minha compaixão por aquele povo que tanto tem sido martirizado; que nunca mais teve uma vida e uma tranquilidade como quando se encontravam sob a égide da bandeira portuguesa.

De que valeu? Não foi bom para nenhum dos lados; nem para nós, nem para eles.

A carência continua a alastrar, os recursos a esvaírem-se, a paz, a anos-luz de distância, os prédios de 15 andares a germinar e… “capitalistas pretos que vão tentar explorar outros pretos, estudou um pouquinho e licenciou-se, tem o seu diplomazito, pronto! Está pronto, está autorizado a explorar.” – E continuam pobres e sem tranquilidade.

Grande vidente?! – Em parte, claro.   

Aquele país, que hoje podia ser uma das nações mais prósperas de África, deixou-se enrolar por outras potências mais manhosas, mais ambiciosas e sem decência, que se limitaram a sugar até ao tutano (e certamente devem continuar), toda a riqueza existente naquela grande área situada no conhecido Corno de África, chamada MOÇAMBIQUE.

Terra de boa gente, que me ficou atravessada na alma!

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 24/03/2021

Para ler mais, “clic” em:

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Obs:

Evito o uso do AO90

 

 

 

 

 

 

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