Quando o
governante é indulgente,
o povo é virtuoso. Quando o governante
é
rigoroso, o povo prevarica.
(Lao Tsé)
TRASFEGA
Feita a decantação
do poema subsequente, bem podemos aplicar transversalmente o seu “metafórico”
sentido à realidade dos dias hoje; também estamos a ser espremidos, lentamente
mas com requinte, como vulgares citrinos humanos, pelo manejo da tarraxa
concretizado por figuras cuja credibilidade peca, por ser pouco credível. Vamos
penosamente aguentando até que a exaustão se sobreponha às nossas forças ou até
que, ao vermos tudo perdido, a coragem se fortaleça e nos leve a reagir com
indomada frontalidade. O aperto normativo criado por esses “senhores” é que vem
obrigando os seus súbditos à prestação de uma vassalagem compulsiva, não sendo
no entanto a aplicação da lei igual para todos.
Já lá vão
quarenta e quatro anos desde que este versejador esculpiu na sensibilidade do
seu interior, o retrato de uma realidade (naquele tempo) e a trouxe a público!
Apesar da sua vetustez – não tem nada a ver com reavaliação de imóveis – traça
perfeitamente os desígnios que ciliciam os portugueses na época presente, onde
os trapaceiros navegam à vontade e com alguma sagacidade vão vencendo a
ondulação da incompetência coroada pela redoma da invulnerabilidade. É neste
universo amniótico que, façam as trafulhices que fizerem, criem as asneiras que
criarem, saem sempre impunes, como deuses baratos, porém com os alforges
recheados de “sangue da manada”, “refugiando-se” depois, para digerir o repasto,
em outros poleiros mais bem pagos, erigidos por baixo da sombra da imunidade.
Sonêto quase
inédito
Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.
Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.
E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,
Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.
De: JOSÉ RÉGIO
(Soneto
escrito em 1969, no dia de uma reunião de antigos alunos)
…E tem o povo
muita razão, ao dizer que a História se repete.
António Figueiredo
e Silva
Coimbra,
09/12/2013
www.antoniofigueiredo.pt.vu
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