Para o ignorante, a velhice é o inverno da
vida;
Para o sábio, é a época da colheita sábia.
(Talmude)
LIÇÃO
De um
pai amargurado, para um filho
ranhoso e
imbecilizado, que despreza os velhos!
Antes
de mais quero apresentar-te, meu menino, a Entropia Universal; essa força
cósmica, misteriosa, que rege todo o Universo e que, simultaneamente propagando a destruição, dissemina o princípio,
dando assim origem à Existência do
incomensurável Mundo, como o podes
ver e sentir. Esta força universal, não se compadece com nada nem com ninguém e
atribui com implacável incondicionalidade um período de vida determinado, que é
imposto a toda essa Existência,
desde a mais pequena partícula da matéria ao maior planeta ou estrela, progredindo
até à mais longínqua galáxia constituinte do Universo que até agora conhecemos;
é por isso que há nascer, viver e há morrer – ou simplesmente uma transformação
de uma matéria para dar origem outra, de igual equivalência energética, porém
em outro estado; e assim, com características dissemelhantes.
É deste modo que
isto funciona meu rico menino. Quero lembrar-te também, caso ainda
não tenhas percebido - porque eu não conheço os miolos de cada um - que essa força ininteligível “ataca” todos os
seres viventes, incluindo o ser humano.
No
caso do ser humano, que podemos presumir como uma entidade pensante, enquanto
dura a sua existência ele deve cumprir o seu papel, no trajecto que medeia
entre a vida e a morte, com base nas tradições, na prática e no conhecimento,
amealhados no decurso de milhares de anos e que têm vindo a ser transmitidos ao
longo de gerações, pelos da barba russa e cabelos grisalhos, - “de quem tu
tanto gostas” - àqueles quem ainda por cá ficam, como tu, inteligente ou
estupidamente, a cumprir os desígnios dessa entropia.
Para
isso existem as normas educativas e regulamentares instituídas pelas e para as
criaturas da família humana se poderem orientar em comunidade com ordem,
através de uma filosofia delas emanada; se assim não fosse, vê lá como que
seria isto… E mesmo assim!? É nesta filosofia normativa, que assenta a formação
cívica, que se rege pelos princípios da ética e da moral a estabelecer entre os
indivíduos para uma vivência conciliadora; é pena que alguns merdosos acéfalos,
incompatibilizem esta sucessão unificadora.
Muitos
deles, como tu, meu filho, são uns verdadeiros palermas e estúpidos, bafejados
pela sorte e não pelo saber, que para atingirem os objectivos cegamente
interiorizados, são capazes de triturar tudo o que lhes possa parecer obstáculo
à sua ambição, e, sem olhar a meios para os consumar, fazem-no e estão-se
cagando para o resto da “manada”. É precisamente por isso, que nascem motins,
agressões, greves, palavras de indignação, e muitas vezes situações em que os
casos são letais.
-
Então olha lá. Que razão de queixa tens tu contra os velhos? Já reparaste que
se a sorte não te bater à porta, em pouco tempo lá chegarás, meu grande
macambúzio?
Estou
velho, meu piolhoso! Mas limpo de corpo e alma e, esquelética e
intelectualmente com razoável funcionalidade - o resto, foi-se, sem ficar a
dever nada aos prazeres da carne neste mundo. Vivi sempre a minha vida com
modéstia e de cabeça levantada, sem ninguém atrás de mim a puxar-me pelo
casaco; não nasci num berço de ouro e comi pão que o diabo amassou; brinquei,
saltei, corri alegremente por entre pampilros e milheirais; dancei, bebi, fumei
(não charro) diverti-me à grande, mas sempre dentro de uma linha educacional
dura - o meu falecido pai não era para brincadeiras – em que me era imposto o respeito por toda a gente e principalmente
pelas crianças, velhos, pobres e pelos professores, tatuagens que ainda
hoje mantenho gravadas no meu ser e que tenciono mantê-las, até estar retesado
no esquife, para tristeza de muitos e certamente de descomunal exultação para
ti. Mas olha…
-
Cheguei a este estado, contudo resta-me um refrigério de que a minha família (a ti já nem te considero com tal)
certamente se orgulhará; cheguei aqui de cabeça erguida e cara lavada.
-
Olha meu rapaz! Meu cabeça-dura, é bem possível que durante a tua vivência, por
tudo o que tens manifestado, nunca ninguém te tivesse ensinado o que devias aprender
ou então, não aprendeste o que devias saber. Também certamente que nunca
tiveste ninguém que tivesse para ti uma prosa tão frontal. Mas, não te vás… Anda
cá, que ainda tenho algo para dizer-te, porque, apesar de seres relativamente
novato, quer-me parecer que já deves andar com a focinheira bastante conspurcada,
por isso, observa o bem o que te digo: a
vida é curta!
- Olha, eu já cá
estou! Tu, se cá chegares, ainda demorarás algum tempo – provavelmente
eu já cá não estarei - para no fim, quando
te ao te mirares ao espelho, deparares à tua frente com um velho grisalho, ranhoso, e cheio de mazelas
e com uma que, acima de todas, é a pior; sem
carácter – a semente que
sempre cultivaste em novo.
- Mas um dia,
num assomo último de remanescente, porém tardia sensatez, dirás em introvertido
solilóquio, é triste!
Mas já não podes
recuar. A ENTROPIA NÃO VAI DEIXAR.
António
Figueiredo e Silva
Coimbra,
1/12/2013
www.antoniofigueiredo.pt.vu
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