segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A FARSA APLICADA À POLÍTICA



"A ironia é o primeiro indício de que a
consciência se tornou consciente.
(Fernando Pessoa
)

A FARSA APLICADA À POLÍTICA


Temos de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais caprichosos na conquista de posicionamentos com acentuada gibosidade e muito mais se a sua sobrevivência dessa valia depender.
No campo da política isso tem vindo a acontecer com bastante frequência, porque fora dela a mediocridade não dá frutos comestíveis para alimentar o corpo e a alma. Não dá status social e não dá impunidade para aqueles que cometem erros por negligência, por mera vontade própria ou por extrema jumentada. Daí que o campo político seja um manancial na fertilidade de incompetências cinzeladas, não exceptuando contudo que no meio de muita escória não existam grandes crânios com alta capacidade organizativa direccionada para uma boa governação, séria, rigorosa, equitativa e transparente.
Estes nunca dizem que têm vocação de poder; não dizem que vão fazer; não prometem para não faltarem à palavra. Limitam-se a dirigir ou a governar e vão fazendo aquilo que podem em função das circunstâncias existentes, sem disso fazerem alarde.
Quando aparece uma figura com “discursos” acirrados e demolidores, direccionados ao sorribamento da estabilidade, prometendo mundos e fundos e denotando extrema preocupação pelo nosso estado de vivência, o que ela pretende na realidade é atarraxar com segurança a sua sobrevivência à grande e à francesa, com os parafusos da boa-fé dos outros. Aliás, se repararmos, há pessoas que enchem páginas e páginas de papel com faladura, que no fim de perdermos um bom bocado a analisá-las, encontraremos apenas a repetição dum parlapié de onde não brotam ideias, e se algumas afloram, são desprovidas de qualquer essência aproveitável.
O embuste é comummente usado na política como sendo a cocaína do povo, que é tido como um meio para atingir um fim determinado: O PODER!
Assim dizia Mao Zedong: “aprenda com as massas e depois ensine-as”. E realmente ele deu grandes lições!... Só que eu não as desejo para mim.
Por isso eu digo: é extremamente necessário distinguir a farsa da realidade, se não seremos “ensinados” com aquilo que ensinámos… E “assinámos”.
Se não pararmos para reflectir, por um minuto que seja, se não nos aventurarmos a ver para além do couro cabeludo, se não soubermos ler nas entrelinhas, se não levarmos em conta atitudes e gestos insignificantes que muito nos podem dizer, se não empregarmos a nossa atenção na detecção das incoerências existentes em muitas prédicas… Aí, com as nossas “lições”, certamente que nos ensinarão e de que maneira!...
Politicamente o problema não está em saber qual é o melhor e qual é o pior, mas em saber dos males qual é o menor.
 Sei que na maior parte das vezes não se está como se deseja. Porém, é preferível estar assim-assim do que mudar para pior.
Temos que ter muito cuidado com os farsantes. Eles já deram início à sua entrada “triunfal” muito antes da victória, carpindo “copiosamente” a nossa sorte, colocando-se ao nosso lado, mas sempre do lado esquerdo, regendo a musicalidade da sua retórica sob a batuta virtual da transparência e do rigor e outras palavras agradáveis antecipadamente escolhidas, com as quais constroem a pauta musical da farsa “estadística”, com a qual, se subirem ao corêto, nos hão-de dar cabo das têmporas e do tímpanos, num xinfrim que só a falta de palavra e o autoritarismo deles, consegue fazer-nos admitir a realidade que não ansiávamos.


António Figueiredo e Silva
Coimbra, 27/02/2008
www.antoniofigueiredo.pt.vu





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