terça-feira, 27 de abril de 2010

O FLATO

Caros seguidores do meu Blog

Depois de umas compulsivas e longas férias por motivos de doença, faço questão em comunicar-vos que ainda estou a bulir, para plangência de uns e contentamento de outros.
Para os que ficaram desgostosos, já sabem que vão ter que me gramar; para os que ficaram satisfeitos, que vão gozando a paródia à minha custa e dos papalvos que a todo o custo procuram fossar na minha lixeira à procura da compreensão que lhes falta.
A todos e sem distinção, bem-haja por isso.



O FLATO
(vulgo, o peido)


Sob trompética sonância, imitando o bufar de um felino, plagiando um arroto arrependido de sair por cima, ou apenas limitando-se a anunciar a sua presença com um selecto pfffff!..., ou ainda sob uma convicção cavalheiresca, saindo de mansinho e sem qualquer ruído, manifestando-se traiçoeiramente pelo seu fedor, protegendo assim, numa roda de alta roda ou entre amigos, o cú que o desembestou, provocando contemplações de soslaio, compromisso e desconfiança, porém sempre com a evidência das provas diluídas sob olhares apreensivos.
O flato é um gás natural produzido no intestino grosso, decorrente do produto final da alimentação de bactérias que se banqueteiam com os restos de um empanturramento por digerir, normalmente após alambazados repastos.
Porém sendo o flato uma constatação natural, muitos o odeiam, até mesmo aqueles que os desembucham.
Apesar dos seus inconvenientes, serve também o flato, para animar festas onde os vapores etílicos ultrapassaram já a medida do conveniente, ou para cortar a tenebrosa merencoria da solidão, podendo até servir para trautear uma composição musical do Sérgio Godinho, Paco Bandeira ou similar.
É verdade que existem especialistas que conseguem manusear os músculos das abébias e regular o esfíncter de tal forma que conseguem produzir musicalidades suaves como a “Música no Coração”, ou intempestivas como as partituras soviéticas que incitavam à luta pelo “trabalho” rumo à miséria. Estes predicados dependem da maneira de ser do “artista”, do seu estado de espírito, da sua elasticidade anal, do meio onde se encontra e ainda do que anteriormente ruminou. Sim, porque num estômago onde nada entra, o cú não tem saída; esta é a prova evidente da pobreza absoluta.
O tom volumétrico tem a ver com o recato ou a desfaçatez do indivíduo que executa as “melodias” mal cheirosas. Já o seu bálsamo, por norma fétido e intrincável, só diz respeito à qualidade da palha que o animal papou, e, ou o estado da sua figadeira.
O flato, apesar de fastidioso, tem o dom de exorcizar elementos importunos, quando estes nos bombardeiam os tímpanos com conversas-de-deitar-fora. Basta para isso libertar dois ou três flatos selectos e silenciosos, para que os chatos à nossa volta se comecem a afastar, com as mais variadas mas aceitáveis desculpas, embaraçadas por olhares de interrogação e desconfiança conjunta, desconhecendo porém a fonte traidora que cortou a amena cavaqueira, que certamente não tinha préstimo algum, com uma ventilação fedorenta.
Por vezes o flato é também um pregador de partidas que nos pode colocar em posições embaraçosas, se a nossa perspicácia falha; ao puxá-lo, pode o sacana vir protegido por um escudo de caganeira que nos desce até aos tornozelos ou nos salpica a alvura dos lençóis como um tiro de caçadeira de canos cerrados.
Enfim, tem as suas vantagens e desvantagens.
Gostaria que o lente mais esquisito não ficasse tonto ou enjoado com este palavreado, porque não há cú que não dê traque.


António Figueiredo e Silva
Coimbra

www.antoniofigueiredo.pt.vu

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