sexta-feira, 20 de maio de 2022

ÉTICA E DEONTOLOGIA

 

A consciência é o melhor livro de moral,

 e o que menos se consulta.

(Blaise Pascal)

 

ÉTICA E DEONTOLOGIA

(“Palha sêca”)

 

É natural que eu, de quando em vez, use de maneiras pouco agradáveis ou menos cavalheirescas nos meus escritos, mas o fingimento sempre foi uma condicionante que nunca se deu bem com o meu “mau feito”. Esta minha insolência nata, dedicada a atirar cá para fora o que sinto no âmago do meu ser, por vezes tem-me acarretado alguns dissabores que depois a verdade se tem encarregado de os fazer abortar e dissolver, antes que de atingirem a madureza completa. Quanto a isso, a minha sina me tem protegido.

Então, cá vou eu presentear aqueles, cuja assimetria mental fez deles escórias solene e legalmente “certificadas”, que vão gravitando entrosadas, conquanto que “embuçadas”, no meio social, onde por deferência indevida, lhes é prestada vassalagem insonsa, sem merecimento algum, que na sua pobreza de espírito os faz inchar o peito de empáfia apodrecida e interiorizar uma relevância que sabem não possuir. São os cábulas, os incompetentes, os “iletrados”, os convencidos e todos os falsos juradores, apostados na defesa da honra e do prestígio, no restabelecimento do corpo e do espírito, que, de um modo ou de outro, pouco ou nada fazem para a protecção desses mesmos valores. Pertencem à cambada tida como concernente à “fina flor” (murcha) social, e catalogados em cáusticos, porém reservados murmúrios, como sendo as “pérolas” artificiais do nosso tempo.

Ora bem.

 À aliança concebida sob o halo luminoso da razão, da lógica e da moral (Ética), chama-se Deontologia. Não mais representa do que o saber cumprir uma missão para a qual nos propomos ou dela fomos incumbidos, com competência, dedicação e humanismo, tendo sempre em mente, o bem-estar do ser humano, como humano, em toda a sua pluralidade, e não como animal irracional ou como desprezível farrapo. Não, não é ficção; é do conhecimento geral, que isto acontece.

Até parece simples!… mas se calhar, não é!? E não é, porque espalhados por este mundo fora, lamentavelmente existem marmanjos, crápulas e filhos-da-mãe, que para satisfação dos seus desejos pessoais, sacodem sem contemplação alguma, os cânones dimanados desta filosofia tão actual, que é a Deontologia. Utilizam-na preferencialmente para se protegerem entre si (grupo), escondendo deliberada e hipocritamente os defeitos existentes nos seus congéneres de profissão, não comentando, nem aceitando, ou simplesmente encolhendo os ombros, quando surgem comentários de quem quer que seja, sempre que estes desfraldem o estandarte de uma erudição esfiapada e rafeira da incompetência, da prepotência ou da inabilidade. Logo, todos têm de ser bons em tudo. É errado. Contudo, foi nesse engano - propositado - que se tornou mais comum o recurso da Deontologia, como a forma mais pretensiosa e nociva, porém enganadora, de manter determinadas camadas pertencentes à “távola da doutorice”, como elementos de pureza e de saber inquestionáveis, mesmo que essas virtudes neles não hajam frutificado.

Não será por certo mentira, que, “burros”, “camelos” e incapacitados, existem em todas as camadas sociais; não obstante os seus confirmados absurdos, serão sempre considerados como inteligentes, capazes e judiciosos, perante os da sua classe, consoante o grupo de que fazem parte. É o mau uso da Deontologia. transformou-se numa “norma” anormal, normalizada; conquanto que, as coisas não funcionem bem dessa forma.

Ora isto, não tem nada a ver com os propósitos deontológicos, mas com parvoíces defeituosamente aplicadas, para proteger interesses comuns, no sentido de garantir uma paridade que não existe, no profissionalismo entre colegas da mesma esfera "intelectualizada", por uma questão de dissimulada subtileza e egocentrismo, e não porque isso configure uma realidade.

Se bem que a Deontologia seja um ramo filosófico da Ética, espontânea ou propositadamente, há quem confunda uma com a outra ~ é de notar que não possuem significações equipolentes.

É que existe uma distinção entre Ética e Deontologia. Enquanto que a primeira é do domínio filosófico, a segunda, se bem que, provinda dessa doutrina, já se referencia a um tratado, um convénio, um compromisso. Assim, uma obrigação. E mais do que isso, um dever.

O objectivo da Ética é a capacidade para ajuizar e saber diferenciar o que é benigno do que é prejudicial, por forma a manter uma conduta perfeita perante a sociedade e o mundo.

A Deontologia, já observa uma seriação de obrigações e princípios normativos, consignados, ajustados e aceites, por uma agremiação profissional distinta.

Uma coisa não é a outra. A Deontologia não deve servir de manta para agasalhar defeitos; contudo, para gerar virtudes. Quando não é entendida como tal, o “ser humano” imbecilizado, que se considera “superior”, tende por tratar o seu congénere, que observa como inferior, “abaixo de cão” – como é usual dizer-se.

Fiz-me compreender? Penso que sim.

Este é o meu “modesto e humilde” contributo, para chamar à atenção de que só através do uso indissociável da ponderação e da sensatez na utilização dos princípios Ético-deontológicos, pode resultar uma sublimada satisfação no seio da comunidade em que todos vivemos. Mas não deixo de não realçar que estes predicados são características, exclusivamente, de mioleiras inteligentes.   

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 20/05/2022

    http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Nota:

Faço por não usar o AO90

 

 

 

 

 

 

  

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