terça-feira, 2 de abril de 2013

NÃO FOMOS NÓS!?

O governo de muitos é o desgoverno de todos.

   (Marquês de Maricá)

NÃO FOMOS NÓS!?


Já se torna ridículo e fastidioso justificar a carência que lavra na sociedade portuguesa com a frase de que andámos durante muito tempo a viver arriba das nossas possibilidades, pelo que agora temos de pagar penosamente e com bastante amargura, por uma transgressão que nos é selvaticamente atribuída, cuja base é susceptível de ser colocada no crepúsculo da incerteza.  
 
Basta sabermos que não fomos nós que temos vindo a feitorizar a nossa estrutura administrativa interna, nem tivemos qualquer interveniência nas negociatas feitas, ao que parece sob a acção de um nevoeiro permissivo onde serpenteava a fraudulência através da nossa política externa.

Não fomos nós os conselheiros ou criadores do avolumado ninho de vespas com o desnecessário recheio populacional de duzentos e trinta indivíduos, que na telenovela parlamentar “venenosamente se aferroam entre si”, presenteando-se por vezes com chalaças brejeiras e ridículas, e que com salientada imperfeição e descaramento nos vão desgovernando.

Não fomos nós que fomentámos a criação das largas centenas de Institutos Públicos, que ainda hoje não se percebe claramente a sua função. De uma coisa podemos ter a certeza: servem pelo menos para alimentação pecuniária de algumas sanguessugas da nossa urbe, escolhidas por apadrinhamento político.

Nem tão pouco fomos nós que criámos, mas que temos sido coagidos amamentar, o alto número de Empresas Públicas Municipais existentes, que servem de mineração aurífera não sabemos a quem, decorrentes de “conluios amistosos” que só escorrem para um lado, tuteladas por uma transparência opaca de que bem nos apercebemos, mas através da qual nada conseguimos descortinar.

Não fomos nós que concebemos as largas centenas de Fundações, a maior parte das quais, sem qualquer fundamento ou benefício para a nossa sociedade, mas que vivem literalmente à custa do erário público que é abastecido pelo “Zé Mexilhão” obrigado pela pressão implacável de esmagamento coercivo do fisco.       

Ainda não fomos nós que “fabricámos” as dezenas de Empresas Públicas Centrais que carecem em absoluto dos proventos estatais.

Como também não fomos nós os autores ou obreiros da implementação da távola de Governos Civis por aí espalhados, cuja (in) utilidade bem conhecida é a nomeação de figuras para funções de alto gabarito salarial e que mutam ao sabor do mimetismo político, um vez que estas são ocupações decididas segundo a côr e o propósito de cada facção partidária no seu estado de vigência governativa.

Ainda assim, têm de reconhecer que a nossa interferência foi nula, na formação das dezenas de parcerias Público-privadas, cujos contractos só vieram favorecer a parte privada, ficando a grande fatia de pagamento sobre o lombo dos contribuintes.
   
Não fomos nós que com contrafeitas molhaduras de puritanismo e opulência, perdoámos a dívida a Angola.

Não fomos nós que com fingido instinto paternal, também beneficiámos Moçambique, por exemplo, no que concerniu à avultada quantia dispendida com Cabora Bassa.

Não fomos nós que arruinámos, tivéssemos permitido ou colaborado, com o descarado desmoronamento do BPN; porém, hoje também estamos a pagar por isso.


Certamente que também não fomos nós que concebemos estas, e outras cavaladas de que nos culpam, nem vale a pena aqui comentá-las, mas temos a obrigação de compreender que quando a ambição se encontra na autoridade, o seu triunfo legitima a ilegitimidade dos métodos.


António Figueiredo e Silva
Coimbra, 31/03/2013

www.antoniofigueiredo.pt.vu


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