NÃO FOMOS NÓS!?
O
governo de muitos é o desgoverno de todos.
(Marquês de Maricá)
NÃO FOMOS
NÓS!?
Já se torna
ridículo e fastidioso justificar a carência que lavra na sociedade portuguesa
com a frase de que andámos durante muito
tempo a viver arriba das nossas possibilidades, pelo que agora temos de
pagar penosamente e com bastante amargura, por uma transgressão que nos é selvaticamente
atribuída, cuja base é susceptível de ser colocada no crepúsculo da incerteza.
Basta sabermos
que não fomos nós que temos vindo a feitorizar a nossa estrutura administrativa
interna, nem tivemos qualquer interveniência nas negociatas feitas, ao que
parece sob a acção de um nevoeiro permissivo onde serpenteava a fraudulência
através da nossa política externa.
Não fomos nós
os conselheiros ou criadores do avolumado
ninho de vespas com o desnecessário recheio populacional de duzentos e trinta
indivíduos, que na telenovela parlamentar “venenosamente se aferroam entre
si”, presenteando-se por vezes com chalaças brejeiras e ridículas, e que com salientada
imperfeição e descaramento nos vão desgovernando.
Não fomos nós
que fomentámos a criação das largas centenas de Institutos Públicos, que ainda hoje não se percebe claramente a sua
função. De uma coisa podemos ter a certeza: servem pelo menos para alimentação
pecuniária de algumas sanguessugas da nossa urbe, escolhidas por apadrinhamento
político.
Nem tão pouco
fomos nós que criámos, mas que temos sido coagidos amamentar, o alto número de Empresas Públicas Municipais
existentes, que servem de mineração aurífera não sabemos a quem,
decorrentes de “conluios amistosos” que só escorrem para um lado, tuteladas por
uma transparência opaca de que bem nos apercebemos, mas através da qual nada
conseguimos descortinar.
Não fomos nós
que concebemos as largas centenas de Fundações,
a maior parte das quais, sem qualquer fundamento ou benefício para a nossa
sociedade, mas que vivem literalmente à custa do erário público que é
abastecido pelo “Zé Mexilhão” obrigado pela pressão implacável de esmagamento coercivo
do fisco.
Ainda não
fomos nós que “fabricámos” as dezenas de
Empresas Públicas Centrais que carecem em absoluto dos proventos estatais.
Como também
não fomos nós os autores ou obreiros da implementação da távola de Governos Civis por aí espalhados, cuja (in) utilidade bem conhecida é a nomeação de figuras para funções
de alto gabarito salarial e que mutam ao sabor do mimetismo político, um vez
que estas são ocupações decididas segundo a côr e o propósito de cada facção
partidária no seu estado de vigência governativa.
Ainda assim,
têm de reconhecer que a nossa interferência foi nula, na formação das dezenas de parcerias Público-privadas,
cujos contractos só vieram favorecer a parte privada, ficando a grande fatia de
pagamento sobre o lombo dos contribuintes.
Não fomos nós
que com contrafeitas molhaduras de puritanismo e opulência, perdoámos a dívida a Angola.
Não fomos nós
que com fingido instinto paternal, também beneficiámos Moçambique, por exemplo,
no que concerniu à avultada quantia
dispendida com Cabora Bassa.
Não fomos nós
que arruinámos, tivéssemos permitido ou colaborado, com o descarado desmoronamento do BPN; porém, hoje
também estamos a pagar por isso.
Certamente que
também não fomos nós que concebemos estas, e outras cavaladas de que nos
culpam, nem vale a pena aqui comentá-las, mas temos a obrigação de compreender
que quando a ambição se encontra na autoridade, o seu triunfo legitima a
ilegitimidade dos métodos.
António Figueiredo e Silva
Coimbra, 31/03/2013
www.antoniofigueiredo.pt.vu
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