quinta-feira, 14 de março de 2013

25 DE ABRIL?!



 
 "Teimosia é firmeza de carácter adulterada pela estupidez."
(Friedrich Nietzsche)





25 DE ABRIL?!



Com todo o ressentimento que aguilhoa a minha sensibilidade consensual vezes sem fim, em inúmeras ocasiões dou comigo a meditar sobre o que leva o ser humano a promover a auto-flagelação anímica, da qual sobrevêm profundas e gravíssimas sequelas materiais. Só pode ser por pura alienação mental.
Hoje dou com o meu pensamento fora do cabresto a “rebulir” sobre sombras do passado que o tempo em vão tentou amarfanhar e a analisar realidades presentes, grossos fios de água brutados (é mesmo brutados que quero dizer) das fontes de incúria e falta de juízo, como se os calos nunca houvessem doído. Perante isto, forçado a recordar e a ver quão falha e ridícula é a mente humana, não consigo ficar silente com o mundo em geral, nem comigo próprio, porque existe dentro de mim uma ebulição revoltosa, que, como um cancro, está firmemente presa pelas amarras de amargas recordações do pretérito, – eu não esqueci – pelas correntes da trama destruidoras do presente e pelas barras fortes da ( in)certeza no futuro, que apesar da virtualidade que encerra, terá mais de real do que de incerto. O caos!
Certamente que os pretensiosos neo-filósofos que ora clamam por um novo 25 de Abril, nunca devem ter vivido na pele o verdadeiro ponto escaldante dessa sublevação e penso também que ainda não terão sentido, por pastosa incapacidade analítica, o aperto decorrente dessa “façanha” histórica, que a uma consistente maioria implacavelmente aflige.
Esse acontecimento foi e continua a ser considerado o dia da liberdade! É verdade, mas para quem? Espero que por falta de sensatez e outras falhas sensoriais quaisquer, não hajam alguns macambúzios que queiram condicionar essa liberdade ao eu estar para aqui a escrever esta meia dúzia de baboseiras.
Estes lunáticos videntes e atiçadores, que a esmo difundem essa ideia de liberdade, algum dia ficaram sem emprego ou viram a sua família em campo de refugiados, com a sobrevivência amparada pela caridade alheia?
Algum dia estes kamikazes da politiquice, em nome desse efémero acontecimento foram obrigados a abandonar ou viram os seus bens ser-lhes arrancados pela força, ficando eles reduzidos a uma encolhida miséria? Não, certamente que não viram, nem pareceram sobre o clima tórrido das consequências resultantes daquele dia. Se tivessem enxergado e torrado bem, não iriam reclamar novamente o ponto de partida para o afundamento de todos nós.
Eu, como tantos outros, vivi no antes e no depois, sendo-me possível por isso justapor ambos os ângulos e fundamentar as minhas ilações.
O 25 de Abril permitiu abrir uma frincha no seu odre, donde saiu todo o bambúrrio de bicharada poluente, que ainda hoje continua a infectar a nossa harmonia e bem-estar; despontou a ambição sem limites onde não há meta de papo cheio; emergiu do seu ventre a corrupção venenosa e o abuso de poder, a atmosfera criadora de um maior sulco entre a pobreza e a riqueza; cavalgando em burro coxo, saiu a libertinagem mascarada de liberdade, moléstia que a todos tem abrangido sem olhar a princípios; a honra, essa ficou completamente decepada e já poucos “anormais” existem que não sintam vergonha em tê-la; a legislação é elaborada por alguém que talvez até saiba da poda, contudo a espada que a aplica ficou romba e não consegue cortar a direito por deficiência nas mãos que a manobram tolhidas por interesses exógenos e alheios ao nosso conhecimento; os miseráveis aumentaram consideravelmente e muitos, ainda que revestidos por razoável farpela, desfrutam duas orelhas que constituem apenas os marcos limitadores dum espaço vazio; a delinquência tem vindo a sobrepor-se à tranquilidade; torna-se cada vez mais difícil dar alimento à saúde, pois já não está ao alcance de todas as algibeiras; a vontade de vencer está a dar lugar à apatia e ao desinteresse porque não há futuro risonho à vista, etc.
Entre prejuízos e benefícios, mesmo remando contra a loucura de algumas correntes, seria preferível um 24 de Abril.

António Figueiredo e Silva
Coimbra, 14/03/2013






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