sábado, 2 de fevereiro de 2013

UMA MANTA PARA FERNANDO ULRICK



"A ambição universal dos homens é
viver colhendo o que nunca plantaram."

(Adam Smith)
 
UMA MANTA PARA FERNANDO ULRICK

Como é evidente, não se deve fazer uma interpretação literal às locuções deste Sr.; contudo, já pode ser determinável o sentido de escravatura e cretinice que lhe minam a razão, imanentes do seu corroído estado de espírito que vê na quimera aurífera a absoluta felicidade. É por causa da avidez de fortuna fácil, alicerçada num entranhado raciocínio de sentido esclavagista que assim discursa, patenteando a miséria dos outros, como a forma mais precisa de vencer uma crise e paralelamente encher-lhe os bolsos, até agora abarrotados de cotão (?). Coitado!
Quando interrogadosobre se o país aguentava a austeridade, “ai aguenta, aguenta” - irónica e convictamente, respondeu.
“Se os sem-abrigo aguentam porque é que nós não aguentamos?”
Foi com desmedida descontracção e afincada arrogância que, convencido da sua eloquência determinativa, recitou estas verbações que certamente lhe granjearam numerosos “incensos” num linguajar indecoroso e nos mais requintados termos vernaculares do nosso português.
Vê-se que nunca comeu pão que o diabo amassou.
A título analógico, Maria Antonieta de França, que cuspiu palavras de semelhante sentido e demoliram a resignação aos “sem-abrigo”, colocando em seu lugar um sentimento de revolta e cólera que lhes consumiu e mêdo, acabou ela própria por deixar de cuspir.
Livremente da época e da diversidade das situações, as palavras devem ser sempre ponderadas antes de serem atiradas para o ar, porque a interpretação das mesmas, para além da sua construção linguística, tendem a adaptar o seu sentido às necessidades sociais que em determinada altura se vivem.
Sabemos que Mundo é pequeno e limitado, a sua efervescência cresce na razão inversa da descida dos meios de sobrevivência e o fosso que divide o feudalismo da plebe, está cada vez maior. A continuar assim, poderemos vir a ter de arranjar uma manta para Fernando Ulrick, que, não se sabe, poderá vir a cair sem dar por isso, no universo dos sem-abrigo.
 É pouco provável, mas não de todo impossível. Se isso sobrevier ele vai ter de aguentar. “Ai aguenta, aguenta!”
Pelo sim e pelo não, vá tendo sempre uma manta de salvaguarda, porque o dinheiro só compra o que na altura houver p’ra vender.

António Figueiredo e Silva
Coimbra
www.antoniofigueiredo.pt.vu


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