A CONDESCEDÊNCIA NÃO APAGA FOGOS


 

Para provocar a emersão do que anda imerso na memória, não há nada melhor do que recorrer a apontamentos.

Acabei neste momento de descobrir, que, final isto dos incêndios já tem vindo a suceder ao longo de anos!

Vou republicar mais esta, para arranhar o miolo aqueles que sofrem de senilidade por conveniência, matraquear o juízo, aos maus cozinheiros de leis.

(Do Autor)

 

A CONDESCEDÊNCIA NÃO APAGA FOGOS

 

 

Sinto-me tétrico e furioso, indignado e raivoso!... Mas impotente perante a lassidão da lei, decorrente de uma condescendência cuja razão só os mentecaptos e sonhadores justificam.

A culpa já não é deste governo, ou de outro qualquer, mas de todos os governos que até aqui dirigiram, bem ou mal, esta leira na Europa; se bem que, existe sempre alguém se aproveita deste dantesco momento, para, evidenciando a miséria dos outros, fazer política escabrosa e a cheirar a fumo, proveniente do estalar do ódio, da sacanice e da vontade de destruir. São hipócritas que não mordem, mas criam mais mazelas que todos os carrapatos do mundo!

O país está num verdadeiro brasido, ateado por umas dúzias de criminosos pirómanos que nele deviam de ser churrascados, até somente restarem as suas carcaças carbonizadas.

“Mata-se o bicho, acaba-se a peçonha”.

Há anos que deviam ser criadas leis com severidade implacável para os incendiários; isto não teria chegado ao ponto a que chegou! O céu de Portugal tingido cor de fogo; pessoas exaustas, vencidas pelo sono e pelo cansaço, estiram-se em qualquer canto “fingido” descansar, enquanto as labaredas crepitam ao redor, num arremedo a impotência humana, a “mando” de criminosos que se escondem atrás de extrema cobardia, gozando como dementes varridos o serviço que, a soldo, por conta própria ou movidos por ideologias políticas, impunemente fizeram.

Gente sem casa, sem haveres, sem alguns familiares!... Gente inocente e pacífica, que está a pagar alvíssaras pelo que não fez! Pessoas indignadas onde o conformismo não tem lugar, choram lágrimas de desespero e revolta por verem nuns escassos minutos desaparecer aquilo que lhes demorou uma vida a granjear! Seres humanos se se sentem desamparados, desprotegidos, desiludidos e famintos de vingança! Não é caso para menos.

Meia dúzia de intelectuais com atrofia na massa cinzenta, querem imputar a culpa aos foguetes, aos cigarros, às garrafas vazias, às sardinhadas, às merendas, ao lixo por limpar, aos vidros nas matas; tudo isto para desculpar o culpável: o crime, pura e simplesmente!

Não compreendo o entender de todos os “psicólogos, sociólogos, e zeladores convictos do ambiente” intervenientes nesta matéria, que defendem a teoria do acaso e da negligência quando toda a gente vê que ela é de origem criminosa.

Sempre se fizeram merendas e sardinhadas; sempre existiram garrafas vazias nas matas e nos pinhais; sempre houve lixo por limpar; sempre se deitaram foguetes em dias festivos. Espero bem que não apareça alguém com ideias luminosas e cara de macambúzio, e se lembre de dizer que um traque, devido ao biogás de que é constituído, também é susceptível criar labareda*.

Penso que a maior parte dos “entendidos” ou com a mania de, devem ser mais realistas e objectivos, porque aquilo que tenho constatado é que procuram paleio oco, apenas para preencherem tempo de antena e nada mais.

Já que mais ninguém o fez até hoje, ajudem o governo a criar leis severas para aqueles que gostam de se aquecer a sua malvadez com a miséria dos outros. Peçam justiça.

Não há inimputáveis nem meio inimputáveis; é comerem todos pela medida grossa. Se um maluco fingido ou a sério faz qualquer coisa que põe em risco ou ceifa mesmo vidas humanas, que condescendência se há de ter para com ele? Fácil!... Nenhuma. Perante o que ultimamente tenho presenciado, esqueci os direitos humanos, porque aqueles que não são humanos, esqueceram os meus.

E agora venham os condescendentes enquanto o azar não lhes toca pela porta, os entendidos de meia-tigela a quem muitas vezes a comunicação social dá crédito para consumir o tempo, os defensores dos direitos humanos que nunca viraram a outra face, os zeladores ecológicos que não sabem o que é uma molécula de água, os legisladores que não sabem o que é moral, os pastores que nunca puseram a mão numa ovelha e os religiosamente crentes que acreditam no pai natal e afirmam que não há rapazes maus. Venham e ataquem a minha falta de senso!... Venham todos esses pobres de espírito e ataquem-me com toda a gana, porque eu já não acredito em nada a não ser em mim, e “deles será o reino dos céus”, enquanto nós cá na terra, ficaremos esfoçando nas cinzas mornas, o resultado final da sua condescendência.

A condescendência não apaga fogos, é certo, mas permite que eles sejam ateados.

 

 

*Por acaso até é.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 28/07/2024

 

 

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