A VELHICE É UMA CHATICE

 

Pequeno prelúdio.

Não pretendo, com esta dissertação, afirmar que não existam alguns fenómenos que fogem ao raciocínio e à lógica comuns. Contudo, uma ocorrência existe, que prima pela sua infalibilidade, e que ao Todo diz respeito: o fim.

Essa “passagem”, é imprescindível à transmutação e reconstrucção, de todo o Aglomerado Universal, que prima por uma Igualdade Absoluta, concedida indiscriminadamente a todos os seres. Nenhuma matéria, disso fica isenta.

 

“Quem em novo não vai,

de velho não escapa”.

(Ditado antigo)

 

A VELHICE É UMA CHATICE


Quadro elaborado pelo autor
    Há uma só via, embora com alguns apeadeiros pelo meio, que somos obrigados a seguir, desde o nascer até ao culminar da velhice – limiar que muitos não atingem. Inicia com a infância, em que u mundo é de uma beleza estonteante, passa pela mocidade, (faixa com terreno propício à parvoíce), chega à maior idade (onde a obrigação começa a despontar), tem um trecho, talvez um pouco agreste, para cumprir com as obrigações que se lhe deparam; com o despontar do crepúsculo da velhice, entra, eufórico, na fase da jubilação – estágio em que a maioria não goza de qualquer júbilo. Surge um problema, seguido por uma alcateia deles. “Aí é que a porca torce o rabo”.

Como com repetitiva frequência, diz um amigo meu, já com mais meia dúzia de invernos do que eu e bastante calejado pela vida: “se não é do cu é das calças”.

Somos coagidos a restituir à Natureza, com avantajados juros de mora, os breves momentos de deleite absoluto que nos concedeu; que, adicionados, não ocuparão espaçosos minutos ou resumir-se-ão a parcas horas, durante a nossa vida. Limitam-se àqueles átimos de deslumbramento lascivo, em que o nosso pensamento fica completamente absorto, varrido, e até a audição descampa! Nem ouvimos o padeiro ou o carteiro a baterem à porta.

Acerca da velhice, recentemente brotou mais um “adolescente” vocábulo, derivado da língua inglesa, que abraça a faixa etária entre os 60 e os 69 anos, cujo significado visa, por imaginária aproximação, equivaler a semi-vetustez, ao período da adolescência; a sexalescência. Mais ou menos quer dizer, uma “juventude” mais amadurecida, que se expõe como, sexagenária-adolescente. O mesmo que, velho, mas novo. Deve ser!? Não compreendo outra coisa.

O termo até prima pela suposta boa intenção e pela fineza, embora exiba uma certa essência de presunção e falácia. Pelo menos, assim o sinto.

É do amplo conhecimento, que a partir do meio século, o ser humano fica acocorado no início da escorregadia rampa, que leva ao envelhecimento; que não tem nada a ver com juventude – nem metaforicamente. Contudo, a “verídica” vetustez, de um modo geral, inicia em azáfama progressiva, a escavar com mais força e rapidez a profundidade do caminho para o fim, a partir dos setenta anos, ou até mais cedo.

Se anteriormente algumas enfermidades e indisposições haviam, dilataram o seu suplício, e, por “estreita amizade” convidaram outras, ainda que desiguais – melhores nunca são -, para se nutrirem na mesma gamela, que por princípio, se trata de um corpo vivente, outrora sadio.

A senilidade medra, a repetição de factos passados, passa a ser uma ladainha entediada, em quase todas as conversas; à visão, é impedida a nitidez, por cataratas, glaucoma, retinopatia ou outros perturbações quaisquer, - que nunca faltam, louvado seja Deus! Uma farturinha! Se não são artrites, são artroses ou osteoporoses; se não é prisão de ventre, é caganeira com abundante; se não é rinite ou faringite, é do tímpano, do martelo, da bigorna, ou então, do nervo auditivo, - e aos poucos, a surdez vai-se implantado o seu silêncio, apartando-nos completamente da vivência em sociedade; se não é intestinal é gástrico – a velhice justifica; se não é não é renal, pancreático ou pulmonar, é do grilo – tem as canalizações todas entupidas e dói p´ra diabo; se nada disto acontece com a velhice, é prodígio.

Porém, devo dizer, são poucos ou nenhuns, desfrutaram ou gozam desse “milagre”. Esta facha etária, fornece muitos clientes às Oficinas Hospitalares, garantindo desse modo os meios de subsistência aos seus trabalhadores - estimem os idosos! Tenham em mente, que amanhã podereis ocupar o seu lugar.

A vida é assim mesmo. Não existe outra forma. A renovação da matéria, imperativamente tem que ser realizada à revelia da nossa vontade ou do arbítrio de qualquer outro estado de matéria. Como tal, a vetustez, que é uma dessas condições, não deve… tem que ser obrigatoriamente recebida, quer queiramos quer não.

Há tempos atrás, compus um texto, cujo título diz tudo; A CAUSA JUSTIFICA A MORTE (In: Crónicas de um Crónico).

 Blog lido em diversos países do Mundo.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 31/05/2025

 

Nota:

Não uso o AO90

 

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