Palavras
certas, ditas no momento oportuno,
podem
insuflar efeitos “miraculosos” ou perniciosos;
dependendo
de quem as declama e do motivo em causa.
(A.
Figueiredo e Silva)
A
IMPORTÂNCIA DAS PALAVRAS
(Átimos
da minha “estadia” no Hospital de Santo António - Porto)
Em
face disso, digo: há palavras e atitudes que não se olvidam.
Eram
23h45 de 29 de Novembro de 2022.
Estava
eu assentado numa poltrona disposta ao lado da cama 320, (o leito a mim demarcado),
na Enfermaria de Cirurgia Vascular; pensativo, nervoso e cismático, sem vontade
alguma para repousar, como se no meu cérebro a melatonina houvesse falido. Sentia
uma indolência e um cepticismo profundos, que deviam andar à revelia a vincar a
minha face, sem que eu os pudesse enxergar e travar. Reacções do corpo e da
alma.
Alguém mais experiente e atento, divisou o estado depressivo em que me encontrava, e, sorrindo por detrás da “burka”, - através das lentes oculares engastadas em dois aros acastanhados, os seus olhos assim o manifestavam - aproximou-se. Era uma enfermeira, já soberana de um amplo trilho curricular na especialidade.
-
O tem o Sr. Figueiredo? O que sente? O Sr. não está bem.
-
Enlatado por uma limitada atonia, respondi:
-Tenho
andado um bocado à rasca com umas leves dores no peito, e o nervosismo e a
angústia que daí resultam impedem-me de dormir. Não sinto sonolência. Ainda
ontem me fizeram um electrocardiograma e uma colheita de sangue, pelo mesmo
motivo.
Durante
uns minutos estivemos a trocar dois dedos de palratório útil, em relação ao meu
estado psicológico no momento. Esse diálogo foi o suficiente para aliviar um pouco
a tensão psicológica a que impiedosamente me espremia algum sumo que ainda
restava no meu ânimo.
Por
fim, conservando a mesma simpatia, suavidade e convicção, diz: “alguma coisa
que se passe consigo diga-me. Eu estou aqui, e nós ajudamo-lo”. Descanse bem”.
Pois
foi das poucas noites que realmente dormi como um Uma verdadeira profissional
que jamais esquecerei, e muito menos as suas palavras.
Isto
não acaba aqui, porque eu sempre fui um grande devoto e paladino do poder das
palavras.
Sejam
elas para doutrinar ou para descatequizar, as palavras usufruem do dom de
aliviar, aplacar e unir; não obstando, contudo, que não possam trazer no seu
ventre o diabólico poder de massacrar, destruir e desvincular.
A
força vocabular pode ser tão leve como as nuvens, ou o oposto; ter a energia de
uma tormenta. A sua brandura ou agressividade não é subordinada somente às
mesmas, mas ao modo como são ditas, à sua musicalidade, à grandeza do bailado
gestual que as acompanha, ao momento, ao sujeito que as pronuncia e a quem as
recebe. Todas estas condicionantes são algo complexas, porque obedecem, ou
mesmo, são reflexos de estados emotivos, aos quais os nossos cinco sentidos
estão incapacitados de penetrar, gerando, em certas circunstâncias, juízos de
valor errados. Daí, os genocídios, as guerras, e a seguir, a fome.
É
bom ter o dom da palavra, quando a aplicação dessa probidade é aproveitada em granjeio
do bem. Se aplicada para disseminar o mal, mais vale que a Natureza condene o
orador à tartamudez, por colocar o seu “saber” e a imponência da sua
gesticulação ao serviço do erro, da instabilidade, e da desordem,
particularidades que, alapadas na desgraça do alheio, lhe alimentam a ambição
que pulula no insaciável estômago do domínio.
Não
foi o caso desta distinta *Enfermeira de
Cirurgia Vascular do Hospital de Santo António, no Porto.
A
minha memória jamais esquecerá a valia das suas palavras naquele momento, e a
sinceridade das mesmas.
Bem-haja.
António
Figueiredo e Silva
Porto,
11/12/2022
ou
http://antoniofsilva.blogspot.com/
Nota:
Faço por não
usar o AO90
*Não
exponho o nome por uma questão de ética.
Para não criar diferenciações, uma vez que não
tenho razões
de
queixa de nenhum dos elementos daquele sector.
Até hoje, todos têm sido fantásticos.
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