quarta-feira, 13 de abril de 2022

PÉ DIABÉTICO

 

                                                                                                               Muitas moléstias, resultam, não só

                                                                                                                         das nossas práticas gulosas,

                                                                                                            mas também da nossa incapacidade

em resistir a esses comportamentos.

(A, Figueiredo e Silva)

 

 

PÉ DIABÉTICO
(Narrativa de um diabético Tipo II – eu)

 

Observem.

Todas as doenças são malévolas. Mas, em verdade vos digo, a Diabetes Millitus, seja qual for o seu tipo, não se fatiga em implicar com tudo o que nos sustenta a energia vital indispensável a para uma vivência e possível longevidade, com boa qualidade de vida. Quero com isto dizer, mantendo todos os sentidos e órgãos a operarem correctamente.

Tomem nota e percebam bem.

Quando os entendidos (médicos), que vos estudam, e em função dos vossos sintomas e da avaliação paramétrica dos valores das análises sanguíneas, alertam; “olhe que a hemoglobina glicosilada/glicosada, está um “bocadinho” (para não alarmar), alta; percebam isso como uma advertência séria de que a doença diabética, paulatinamente pode estar a propagar-se. Podem registar em mente, que é uma grande chatice.

Eu estou a transmitir isto (aos que me leem, certamente), para que saibam que esta moléstia, apesar de silenciosa, não brinca em serviço. Quando damos por isso, as mazelas já se encontram instaladas; em muitos casos, é custosa ou impossível uma reversão efectiva do problema, já “carrapaticamente” hospedado.

Esta “pechincha” natural (digo “pechincha”, porque a Diabetes vem de borla, sem que alguém a convide), ajuda a afectar todo o sistema vascular (tubagens por onde o sangue circula), que é o meio de transporte para os nutrientes (paparoca), que vão alimentar as células (microscópicos “tijolos”), que constituem toda a nossa conjuntura corporal.

A Diabetes é coadjuvante na promoção uma campanha agressiva de acção obstrutiva nessas “canalizações”, decorrendo daí a carência da tal “paparoca” aos diversos componentes que dela necessitam para sua (nossa) sobrevivência. Resume-se assim, ao que é clinicamente conhecido por Doença Arterial Periférica.

Quando a hemodinâmica (movimento do sangue) é comprometida, a irrigação é deficiente, tornando-se difícil e por vezes impossível, a recuperação (recobro), de determinados “componentes” que ficaram seriamente debilitados pela carência desses “géneros alimentícios” (nutrientes), sendo muitas vezes necessário recorrer a amputações e outras acções menos desejáveis, sobre as quais não irei aqui “dramatizar”.

No entanto, nunca é demais repisar: a Doença Diabética, acreditem, implica com todos os elementos que podem conceder-nos uma agradável qualidade de vida.  

Implica com o cérebro (miolos) - quem os tem; afecta o coração  - “mesmo o daqueles que não sabem ou nunca amaram”;  prejudica os rins - sistema de filtragem de alta precisão, sem o qual, não sobreviveríamos;  compromete o fígado, que funciona como um órgão de escolha e separação, e acumula ainda a função de excretar para o “lixo” o que não presta, fazendo, contudo, o armazenamento do que é, ou poderá vir a ser necessário, para que o nosso corpo possa bulir; pode danificar a visão, por causa de hemorragias (derrames/fugas de sangue), surgentes nos fundos dos globos oculares, susceptíveis de danificação do nervo óptico, podendo também distorcer a  sua mácula, (o ponto de focagem central de imagem), e levar à perda parcial ou total de visão.

Os níveis de açúcar no sangue altos, durante longos períodos, projectam em silêncio, (pela caluda), o que é conhecido por NEUROPATIA DIABÉTICA. Não obstante a perigosidade de outras, esta enfermidade também não é meiga… é terrível! Só sabe, quem a sente - como eu. Acomete os neurónios, (aquelas molhadas de fios que estão para além da nossa visão), responsáveis pelo transporte da nossa sensibilidade ao cérebro, destruindo-lhes a camada mielina, - o isolante que os protege entre si -, provocando-lhes curto-circuitos, que com o passar do tempo deixam o enfermo sem sensibilidade, perante o maior abrasamento ou escaldanço que lhe possa acontecer à flôr da pele.

No meu caso, iniciou com um leve formigamento nos pés, e, em algumas áreas, uma impressão de que estava a ser escaldado por água a ferver; posteriormente, surge um sentir parecido com os pés estarem enfiados dentro de meias algo esquisitas; umas meias ásperas, com sensação de corticite.

Depois de tudo isto, se por qualquer motivo aparece alguma ferida, o seu tratamento é muito difícil, penoso e desmotivador. Aqui se inicia outro estágio do Pé Diabético, que infelizmente dá água pela barba aos eruditos na matéria e “dores de cabeça” ao achacado.

Devo declarar, que não é fácil controlar os níveis de glicémia (doçura no sangue), porquanto, estes não dependem somente da boca; o estado emocional tem também um peso preponderante, sobre o qual, quer queiramos quer não, o nosso domínio se verga.

Não quero com isto dizer que o estado emocional seja o causador da Diabetes; mas, quando a doença se encontra instalada, o frenesim (stress), é tido como um óptimo desestabilizador dela – aqui, fala a prática.

Tudo isto é verdade. Não lucraria nada em vos mentir.

Lamentavelmente, na actualidade, são muitas as circunstâncias que podem levar as pessoas a uma agitação compulsiva de difícil abrandamento, à qual os diabéticos não escapam. Nesse caso, ao menos resistam à tentação das sucroses, mesmo que os bolos, rabanadas, filhoses, chocolates e seus semelhantes açucarados, apresentem aos vossos sentidos um convite em papel de sedoso, dobrado, contendo no seu interior o incitamento “lascivo” ao prazer da lambarice.

ESSE DELEITE, MAIS CEDO OU MAIS TARDE PAGA-SE CARO. E BEM CARO!

Muito, mas muito mais, haveria para dissertar! Mas, por aqui me fico.

Já me sinto fatigado e um pouco aborrecido e apreensivo, só de pensar na maleita diabética que tenho pela frente para combater.

Não é caso para menos, não é?!

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 13/04/2022

http://antoniofsilva.blogspot.com/

 

Nota:

Faço por não usar o AO90

 

 

 

 

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