quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

A UM "LUTADOR" INTRANSIGENTE

 

 

“A linguagem política, destina-se a fazer com que a mentira

soe como verdade e o crime se torne respeitável,

bem como a imprimir ao vento uma aparência de solidez.”

(George Orwell)

 

A UM “LUTADOR” INTRANSIGENTE
(Carta aberta)

 

Caro André

 


    Naturalmente que há bastante tempo tenho vindo a seguir as suas interlocuções no hemiciclo parlatorial e nos diversos órgãos da comunicação ao meu dispor, para poder lavrar esta modesta, porém franca missiva.

Glorifico-o, não com uma medalha de comendador ou de idêntico “valor nutritivo”, contudo, com o meu mais alto e afincado apreço, atributo que não concedo a qualquer a qualquer borra-botas, por mais bem enfeitado que se apresente. Isto, porque tenho verificado que o Sr., escarrapachado sobre a ainda” débil” albarda ideológica que ornamenta a “burra” que monta, de riba dela, não se faz rogado a atirar umas fisgadas certeiras, cujas bolairas vão sempre assertar em alguns passarões, que são aos bandos, e que não têm gostado nada da festa. A prová-lo, já tentaram inviabilizar o partido que dirige, sem, felizmente, terem alcançado o “ditatorial” objectivo - coisas de “amigos”, não é?! Ocorre a qualquer “batalhador” que tente salientar-se do grupo; os mais ranhosos e mais influentes rivais, tentam de imediato distorcer a lógica das linhas orientadoras divulgadas, para se manterem à manjedoura do poder, pacientemente a ruminar maneiras mais ardilosas de lixar o Zé, livres de quaisquer oposições que lhes possam vir a fazer sombra.

A audácia que tem possuído para prantar no pau-da-roupa-suja, ao léu, as realidades que deram origem ao apodrecimento – e empobrecimento – do nosso país, e consequentemente do nosso povo, são realmente de louvar. As minhas felicitações.

O André, incita-me a viajar no tempo que não conheço, mas que a História, com alguma fidúcia detalha, possibilitando-me deste modo, compará-lo ao melhor dos gladiadores que naquele tempo teria passado nas arenas dos circos romanos. “A César o que é de César”! Merece.

A sua força é hercúlea e entusiasmante. Diz tudo o que o gosta de ouvir – até eu, e não me chamo. As suas alocuções de improviso são de facto deslumbrantes! Admiráveis! Arrebatadoras! Têm um toque messiânico, cuja musicalidade faz retinir os mais estáticos tímpanos e esgravata, simultaneamente, as mais adormecidas mioleiras à sonância trovejante do grito, ACORDEM!

Esgrima talvez, com uma celeridade fora do “quanto baste”, como quem pensa que não vai ter tempo de dizer tudo. Isso escangalha “parcamente” – é favor meu, seu “malandro”! - o conteúdo da retórica; que por vezes dificulta o entendimento da mesma e a sua assimilação, para as mentes mais lerdas ou ouvidos mais duros ou entupidos pela acumulação do cerume da ignorância.

Mas eu, compreendo-o.

Tem razão, quando assevera combater, ou mesmo acabar, com a corrupção (isso é qu’era bom!?), e salvar a economia; diminuir o número de parlamentares, não só na “pocilga”, mas em todo o território nacional - os verdadeiros “satélites” de parasitagem, que têm influenciado na “gravidade” (não confundir com gravidez), da nossa situação financeira (precária); restringir os seus adiposos salários, (devo lembrá-lo sobre o vergonhoso e imoral, período tempo de “exaustiva labuta” para reforma, uma vergonha nacional); reorganizar o SNS (Serviço Nacional de Saúde, baixar os impostos, (seria um milagre), e promover a limpidez da justiça, (não adianta remar contra a maré); ajustar umas puniçõezitas que tangenciam um bocado a nossa forma de pensar e agir; “reabilitar a Lei das Sesmarias”, e mais umas coisitas, até bastante arrojadas, mas, certas, que vão ao encontro do pensamento fantasista de muitos portugueses; inclusivamente, EU.

Que isto tem de mudar radicalmente, é uma verdade.

Embora lhe reconheça a legitimidade dos seus argumentos, existe, qualquer substância imperceptível que faz abanar o universo cinzento que está resguardado dentro da caixa craniana, donde ressoa uma voz cavernosa e persistente, como a  do André, que assim diz: “não acredites”.

Eu não queria. Contudo, a repetência austera da voz da minha consciência, assim o declara. E uma das singularidades que muito ajuda ao meu repouso espiritual, é a sensação de tranquilidade psíquica. A harmonia comigo mesmo!

Assim, apesar de concordar (em parte), com evidência das razões que com justa razão esgrime, não creio que, se fosse o “manda-chuva”, as resolvesse com a mesma coragem, celeridade e optimização, que tão pomposa e persistentemente alardeia. N’aaah!!! Não sou sebastianista, nem creio no aparecimento de redentores desguarnecidos de interesses próprios que, naturalmente, visam mitigar a plenitude das suas profundas e enraizadas ambições.

Sabe, a linguagem corporal, também apelidada de “salamalequismo”, fala mais alto e é mais rigorosa - na minha apreciação, claro.

Assim sendo, vou ser espontâneo e conciso:

Se bem que tenha razão nas razões que indigita, NÃO ACREDITO NOS SEUS PROPÓSITOS, CARO ANDRÉ.

LAMENTO!

Atentamente.

 

António Figueiredo e Silva

Coimbra, 12/01/2022

 http://antoniofsilva.blogspot.com/

Nota:

Faço por não “calçar” o AO90

   

  

Sem comentários:

Enviar um comentário