terça-feira, 20 de abril de 2021

À FORÇA AÉREA PORTUGUESA

 

As pessoas felizes lembram o passado

 com gratidão, alegram-se com o presente

 e encaram o futuro sem medo.

(Epicuro)

 

 

À FORÇA AÉREA PORTUGUESA

 

Apesar de alguns obstáculos que inevitavelmente fui obrigado a transpor, ainda hoje bem-digo a hora em que voluntariamente ingressei naquele ramo das Forças Armadas Portuguesas.



Não foi um céu aberto, porém, também não foi um constrangido inferno; acima de tudo, foi uma escola que me deu asas para voar no universo do conhecimento; um saber que eu nunca deixei fermentar e até aos dias de hoje, sempre pugnei por ampliar.

Não somente me concedeu uma vasta erudição sobre a técnica aeronáutica, como identicamente me insuflou uma ânsia diversificada nessa sabedoria, que teve um importante papel nas minhas modestas acções “investigatórias”, com as quais sempre fui colmatando a minha congénita curiosidade, que até aos dias de hoje não consegui saciar.

Foi graças àquela escola que eu talhei o rumo da minha vida na aviação, até ter sofrido alguns acidentes de percurso, resultantes da política adotada a seguir ao 25 de Abril, dos quais ainda hoje alimento algumas mazelas - como tantos outros.

Mas, adiante.

Para mim, na minha modesta apreciação, a FAP foi uma escola de elite, por todos os ensinamentos lá ministrados, além daqueles que propriamente me diziam respeito, para ser um futuro Mecânico de Material Aéreo.

Nesses preceitos, estavam envolvidos a ética, moral, camaradagem, respeito, obediência e senso de responsabilidade. Na FAP, a palavra militarismo, no que concerne aos elementos Especialistas, nunca usufruiu do relevo que é atribuído pelos ditos “chicos”. Era mais uma irmandade do que uma tropa fandanga militarizada.

Tudo isso, só não aprendeu quem não quis, não se aplicou ou era calaceiro – porque também havia de tudo.

Foi naquele mundo novo que eu encontrei as cobaias certas para aprimorar o meu nato e inveterado vício, direcçionado ao estudo e aplicação da psicologia humana. Naquela “universidade”, abastada em cobaias das mais diversas raízes e recantos, das maiores metrópoles às mais recônditas parvónias, pude praticar através da minha observação e análise, as facetas mais díspares do comportamento humano e as reacções delas consequentes. Concluindo que, não existem pulsões sem causa. As razões existem dentro de cada ser, contudo, as manifestações podem ser diferentes para uma mesma razão. Mas ninguém faz nada ao acaso.

A razão para o facto cometido, benévolo ou maldoso, existe. É evidente que muitas vezes não é desculpável. Se assim não fosse, cada um fazia o que lhe desse na real gana e a harmonia derreter-se-ia no fundo da desobediente caçarola da anarquia. Coisa que não deve acontecer numa comunidade, seja ela civil ou militarizada.

Continuando.

Gradualmente, através de fases diversas passei de um jovem merdoso, imberbe, irrefletido, e com o cérebro por lapidar, a ser um homem, de encéfalo limado e polido, de barba dura, responsável pelos seus actos e consciente dos seus deveres – modéstia à parte.

Foram estes os ensinamentos que me acompanharam durante a minha vida.

Agora, eis-me aqui, com a vitalidade de setenta e sete anos, para consagrar a esse ramo das Forças Armadas Portuguesas os mais justos encómios que dentro de mim fervilham, antes que, nas acrobacias da vida, algum voo picado me faça entrar em viril e perder os sentidos “ad aeternum”.

À Força Aérea Portuguesa quero manifestar a minha mais lhana gratidão.

 

OBRIGADO POR TUDO.

 

António Figueiredo e Silva

(Ex-Especialista de 1961)

Coimbra, 20/04/2021

 

http://antoniofsilva.blogspot.com/

Nota:

 

Faço por não usar o AO90

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