sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

O INVERNO DA EXISTÊNCIA

Quando Deus criou o Homem, não passou certificado de garantia; mas soprou-o com termo de validade. (António Figueiredo e Silva) O INVERNO DA EXISTÊNCIA É comum nas pessoas da minha idade, quando pela manhã despertamos, a primeira ginástica que fazemos, depois de escancararmos a boca em sinal de preguiçoso bocejo, é soltarmos uns ais de protesto, mensageiros de que o esqueleto não se portou muito bem durante a noite. São as intransigentes reclamações das artroses, espondiloses, tensões arteriais, gota, reumatismo, “cãibras nas orelhas”, tendinites diversas e de outros bónus, com que a Natureza nos gratifica, graças a sua magnificente prodigalidade. É que não admite mesmo a santidade do nosso descanso. E enquanto forem só estas, podemos sentir-nos uns afortunados, porque existem os, chamados “outros”, que podem permanecer em situações muito piores. Mas, concordemos ou não, quando os sonhos começam a esvair-se e as lamúrias a ocupar-lhes a posição, podemos ter a certeza de que estamos, (em princípio), fisicamente, mesmo velhos. E não me venham com “narrativas”. Bacharelar, num assomo de debilitada coragem, porém, sob secreto, mas interiorizado desagrado, “não estou velho”, ou, “não me sinto velho” ou ainda, “sinto-me como se tivesse dezoito anos”, são balelas! São remições de um reconhecimento de facto. Digo isto, não porque não seja uma disposição etária que todos desejam e lutam para atingir; porém, quando lá chegam, poucos o querem reconhecer. É uma gaita! Uma grande gaita! Quando o querer lembrar, “está-me debaixo da língua”, o, “repita por favor que não percebi” (não dizemos não ouvi bem), ou chamar, “ó Jaquim, ó Zé” (quando ele se chamava Manel), são sintomas de uma juvenilidade há muitos anos deixada para trás, na canastra do “irrecuperável” (às vezes). Uma “juventude” em aparente falência cognitiva. Não quero com isto dizer, que a mioleira não se possa encontrar em razoável laboração. É normal suceder que demoramos mais tempo a localizar o que pretendemos, porque o “cartório” já é bastante longo, todavia, com alguma persistência, acabamos por o conseguir excluindo alguns (não serão tão poucos como isso), que infelizmente, não o conseguem mesmo. São os padecentes por imposição natural. Os malfadados. A sobrecarregar ainda mais essa “juventude agridoce” da velhice, ainda aparecem “alguéns”, que, ao escutarem as idades, setentas e tais, oitentas e tais, ou mesmo cento e tais (como os há), comentam com ar solene, mas pouco fiável, “está numa idade muito bonita!” Esta da “idade bonita”, consubstancia mais uma advertência, do que uma amabilidade fingida, se bem que, uma se encoste à outra em mútua e espontânea cooperação, porque é estético, soa bem. No fundo, querem com isto transmitir, o que o acanhamento os impede de declarar. O que pretendem na verdade, é “amavelmente” asseverar, que “já está como a fruta madura” (pronta para cair). É um género de humor negro, socialmente bem aceite, e do mesmo modo acolhido, mas pincelado com um esmaecido e resignado sorriso de falso agradecimento – é o princípio da reciprocidade nas atitudes, comum nos constituintes da nossa macacada. Mas estas coisas esfalfam! E fatigam, por sabermos que, apesar de todas as “enxaquecas”, mouquices, miopias (não cerebrais), e até dores nos dentes das próteses, são mero fogo de artifício de uma gentileza, condicionada ao agradável. Estas peças teatrais, também cansam! E estafam muito! Somente por sabermos que não são reais – a menos que estejamos avariados da corneta!?). Mas, felizes daqueles que se “despedem” de uma longa existência, pelo cansaço natural da velhice. É melhor fim que podemos desejar para liquidar a juventude anosa, por fim de validade preclusiva. Entendo que existem outras variantes, mas esta, suponho ser a mais credível e com menos aborrecimentos. Quaisquer das outras, sem nomear nenhumas (para bom entendedor meia palavra basta), podem contribuir com “graves riscos”, (para atingirmos o mesmo fim), que nos vão massacrar até à consumação “fatídica” do advento final. E porque envelhecer é inevitável, continuo a martelar na mesma bigorna: “morrer naturalmente cansado, por cortar a meta de validade”, é a melhor “opção” – se ela nos for concedida, é uma benesse Divina. Por mim… e falo só por mim, à faixa da idade que cheguei (setenta e seis solstícios), sinto uma exultação sem medida! Fui inevitável ter que aprender muito, para sobreviver às asneiras cometidas por uma cambada que nos tem vindo a desgovernar, e resistir aos assaltos descarados feitos por umas quadrilhas de ladrões, que sempre actuaram sob fraudulento proteccionismo, em detrimento do nosso bem-estar. Todo este emaranhado silogístico, permite-me afiançar que a mente é maior do que o Universo e a velocidade a que se propaga é mais rápida do que a da luz. Pode ver-se, por esta “meia dúzia” de linhas aqui escrituradas, as voltas que dei através amplidão dos acontecimentos, em tão reduzido espaço temporal. Num fulgurante lampejo, consegui percorrer pelo retrógrado, numa ânsia compulsiva de o apanhar, ressuscitar bons e maus momentos e sentir o privilégio de reviver com efusividade os momentos que mais me deliciaram na vida! Sem, contudo, esquecer aqueles fragmentos maus porque que passei, resultantes da incompetência e falta de limpidez de muitos canalhas, principalmente os agarrados “à erva” da política - não só em Portugal, mas em todo o Mundo. Agora só anseio que, quando o fim do INVERNO DA EXISTÊNCIA chegar, eu possa MORRER DE “CANSAÇO”! – Natural! António Figueiredo e Silva Coimbra, 19/02/2021 http://antoniofsilva.blogspot.com/ Nota: Faço por não usar o AO90

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